sexta-feira, 10 de setembro de 2010

1994: quando Robson juntou Mourinho, Villas-Boas e Domingos

O F.C. Porto-Sp. Braga, o primeiro jogo grande da Liga 2010/11, permitirá o reencontro entre André Villas-Boas e Domingos Paciência. Dois treinadores com um passado em comum, iniciado na casa do Dragão. Na história partilhada, destaca-se o ano de 1994, quando Bobby Robson chegou à Invicta.

Sir Bobby Robson, falecido há pouco mais de um ano, logrou juntar três homens que marcam o presente do futebol português. José Mourinho viajou com o treinador inglês, do Sporting para o F.C. Porto. Na Invicta, encontrou Domingos como ponta-de-lança e Villas-Boas como vizinho sedento de oportunidades.

No próximo sábado, no Estádio do Dragão, a marca do «Gentleman» sorridente e bem-disposto estará bem vincada. O F.C. Porto de André Villas-Boas, nesta altura líder e participante da Liga Europa, recebe o melhor Sp. Braga de sempre, orientado por Domingos Paciência e dividido entre duas frentes, uma delas a inusitada fase de grupos da Liga dos Campeões.

Quarteto de luxo até 1997

Villas-Boas, primeiro como mero adepto, habituou-se a vibrar com os golos de Domingos. Então jogador, o actual técnico arsenalista viu Robson chegar ao banco do F.C. Porto, com um prodígio chamado José Mourinho. Pouco depois, começaria a cruzar-se com André Villas-Boas, vizinho que convenceu o inglês a dar-lhe uma oportunidade no clube portista.

O quarteto de luxo manteria o contacto regular até 1997. Três anos de ensinamentos comuns, de crescimento sob a orientação inimitável de Bobby Robson. Quando o treinador partiu para Barcelona como bicampeão, Mourinho foi com ele. Domingos seguiu para o Tenerife e Villas-Boas ficou nas camadas jovens do F.C. Porto, onde acabava de conquistar o título nacional de juvenis, como adjunto de Ilídio Vale.

O reencontro antes de Mourinho

Domingos Paciência ficou dois anos nas Canárias, enquanto André Villas-Boas dividia o seu tempo entre a formação do F.C. Porto e os indispensáveis cursos de treinador. Em 2001, o actual técnico do Sp. Braga pendura as chuteiras e o timoneiro dos dragões regressa de uma experiência exótica nas Ilhas Virgens Britânicas. Mourinho, agora a solo, chega à Invicta para iniciar um período dourado dos dragões.

José Mourinho reencontra Villas-Boas e aproveita o seu potencial como observador de adversários. Domingos dá os primeiros passos como treinador nas camadas jovens do F.C. Porto, até chegar ao banco da equipa B (2004/05), logo após a partida desta dupla para o Chelsea.

Universidade do futebol em Coimbra

O Estádio do Dragão vai receber dois homens da casa, embora Paciência tenha dado passos por conta própria e esteja disposto a colocar sentimentos de lado. Foi hipótese para a sucessão a Jesualdo Ferreira, mas o vínculo ao Sp. Braga fez Pinto da Costa avançar com determinação para André Villas-Boas.

Sete meses após assumir o primeiro cargo como treinador principal, na Académica, Villas-Boas recebia o convite para orientar o clube do seu coração. Para trás, ficara a parceria com Mourinho, no F.C. Porto, Chelsea e Inter. Um dos principais adversários seria Domingos, outro técnico que passou pela Universidade de futebol em Coimbra, antes de chegar a um emblema que se fez grande.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

F.C. Porto: Fernando, um Polvo que voltou a ser livre

Fernando está mais feliz. Voltou a ter liberdade em campo, provando que tem qualidade para desempenhar outras funções que não defensivas. O médio do F.C. Porto soltou amarras e convenceu André Villas-Boas. Nele, reside parte do sucesso deste novo Dragão.

O Polvo, este que não adivinha resultados, aproveitou a oportunidade para saciar um desejo interior: marcar um golo. Na semana passada, frente ao Genk, estreou-se a marcar pelo F.C. Porto, em jogos oficiais. Tinha feito o mesmo na pré-época. O último pontapé certeiro remontava a 1 de Fevereiro de 2008, então no E. Amadora. Sim, dois anos e meio!

À terceira época de dragão ao peito, o primeiro tento com carimbo oficial. Em Portugal, marcara apenas de grande penalidade, num E. Amadora-Sp. Braga. Reapareceu nesta pré-temporada, com um golo oficioso, de cabeça. Finalmente, na recepção ao Genk, um pontapé de longe, a quebrar o enguiço.

«O meu foi bom mas o dele também»

Laionel assistiu ao jogo pela televisão e sorriu. O extremo da Académica, que recebera os parabéns de Fernando pelo golaço frente ao Benfica, correu a devolver o elogio. «Liguei-lhe e dei-lhe os parabéns, claro, logo depois do jogo. Ficou muito feliz. O meu golo foi bom, mas o dele também, foi um belo remate de longe», diz o jogador, ao Maisfutebol.

Do outro lado do Atlântico, uma reacção estupefacta. Sim, Fernando Reges marcou um golo! «A sério? Que bom! Ele nunca foi de marcar, é muito mais de entregar a bola. Fico muito feliz, porque é menino com muita qualidade, um rapaz educado, de família humilde», explica Edson Alves, treinador das camadas jovens do Vila Nova de Goiás, clube que transferiu o jogador para o F.C. Porto.

Fernando Reges é mais que um homem de sapa. Aliás, no actual esquema táctico do F.C. Porto, pertencem ao brasileiro os principais movimentos de desequilíbrio, a partir do sector intermediário.

Um Polvo com tentáculos longos

Laionel, amigo de Fernando desde os tempos do Vila Nova, confirma a felicidade do Polvo: «Ele agora é um jogador com mais liberdade, está mais adiantado no terreno. Quem o conhece há muito, como eu, sabe que ele tem a qualidade para atacar que está a demonstrar agora. No Brasil, como as equipas jogam com dois volantes, esses jogadores têm mais liberdade para atacar à vez. Acho que o Fernando está mais feliz agora, porque está mais livre.»

«Aqui no Brasil, ele jogava como volante ou segundo volante. É um jogador versátil, com muita qualidade, falta-lhe apenas mais alguma experiência e chegará à selecção do Brasil. É apenas uma questão de tempo. E ele merece», conclui o antigo técnico, Edson Alves, em diálogo com o Maisfutebol.

O F.C. Porto comprou Fernando em 2007, por 700 mil euros. Revelado pelo Vila Nova do Goiás, captou a atenção na selecção sub-20 do Brasil e tem justificado a aposta. Recuperando um vídeo do Polvo, com imagens antes da chegada a Portugal, confirma-se que a propensão ofensiva sempre esteve lá, guardada. Agora, pode ser livre.

F.C. Porto: Fernando, um Polvo que voltou a ser livre

Fernando está mais feliz. Voltou a ter liberdade em campo, provando que tem qualidade para desempenhar outras funções que não defensivas. O médio do F.C. Porto soltou amarras e convenceu André Villas-Boas. Nele, reside parte do sucesso deste novo Dragão.

O Polvo, este que não adivinha resultados, aproveitou a oportunidade para saciar um desejo interior: marcar um golo. Na semana passada, frente ao Genk, estreou-se a marcar pelo F.C. Porto, em jogos oficiais. Tinha feito o mesmo na pré-época. O último pontapé certeiro remontava a 1 de Fevereiro de 2008, então no E. Amadora. Sim, dois anos e meio!

À terceira época de dragão ao peito, o primeiro tento com carimbo oficial. Em Portugal, marcara apenas de grande penalidade, num E. Amadora-Sp. Braga. Reapareceu nesta pré-temporada, com um golo oficioso, de cabeça. Finalmente, na recepção ao Genk, um pontapé de longe, a quebrar o enguiço.

«O meu foi bom mas o dele também»

Laionel assistiu ao jogo pela televisão e sorriu. O extremo da Académica, que recebera os parabéns de Fernando pelo golaço frente ao Benfica, correu a devolver o elogio. «Liguei-lhe e dei-lhe os parabéns, claro, logo depois do jogo. Ficou muito feliz. O meu golo foi bom, mas o dele também, foi um belo remate de longe», diz o jogador, ao Maisfutebol.

Do outro lado do Atlântico, uma reacção estupefacta. Sim, Fernando Reges marcou um golo! «A sério? Que bom! Ele nunca foi de marcar, é muito mais de entregar a bola. Fico muito feliz, porque é menino com muita qualidade, um rapaz educado, de família humilde», explica Edson Alves, treinador das camadas jovens do Vila Nova de Goiás, clube que transferiu o jogador para o F.C. Porto.

Fernando Reges é mais que um homem de sapa. Aliás, no actual esquema táctico do F.C. Porto, pertencem ao brasileiro os principais movimentos de desequilíbrio, a partir do sector intermediário.

Um Polvo com tentáculos longos

Laionel, amigo de Fernando desde os tempos do Vila Nova, confirma a felicidade do Polvo: «Ele agora é um jogador com mais liberdade, está mais adiantado no terreno. Quem o conhece há muito, como eu, sabe que ele tem a qualidade para atacar que está a demonstrar agora. No Brasil, como as equipas jogam com dois volantes, esses jogadores têm mais liberdade para atacar à vez. Acho que o Fernando está mais feliz agora, porque está mais livre.»

«Aqui no Brasil, ele jogava como volante ou segundo volante. É um jogador versátil, com muita qualidade, falta-lhe apenas mais alguma experiência e chegará à selecção do Brasil. É apenas uma questão de tempo. E ele merece», conclui o antigo técnico, Edson Alves, em diálogo com o Maisfutebol.

O F.C. Porto comprou Fernando em 2007, por 700 mil euros. Revelado pelo Vila Nova do Goiás, captou a atenção na selecção sub-20 do Brasil e tem justificado a aposta. Recuperando um vídeo do Polvo, com imagens antes da chegada a Portugal, confirma-se que a propensão ofensiva sempre esteve lá, guardada. Agora, pode ser livre.

Chipre: um Jardel parado, o talentoso Effrem e pouco mais

Entre a meia centena de portugueses que faz carreira no futebol do Chipre, o Maisfutebol nomeou dois espiões com enquadramento privilegiado. O adversário de Portugal convocou 7 jogadores do Omonia e 6 de APOEL de Nicósia.

Edgar Marcelino passou pelo Omonia e Hélio Pinto joga no APOEL. Bruno Aguiar, o único luso a alinhar na equipa que mais abastece a selecção, está impedido de falar. O médio explicou-nos isso mesmo, de forma delicada.

«O Omonia é um clube muito complicado. Até contratou os melhores jogadores cipriotas só para satisfazer os adeptos. Estive lá e quis sair, por causa das confusões. Aliás, aqui não há muito profissionalismo, nos dirigentes e treinadores», desabafa Edgar Marcelino, actualmente no APOP. Hélio Pinto assina por baixo.

«Konstantinou não se mexe»

Entre estes dois clubes forma-se o núcleo duro da selecção que vai defrontar Portugal, nesta sexta-feira. Michalis Konstantinou é a referência ofensiva, o mais reputado entre os cipriotas, apesar do cansaço provocado pelos 32 anos. «Parece o Jardel dos tempos do Sporting. Mas mesmo assim, o Jardel resolvia, nessa altura. O Konstantinou não se mexe, não sei se aguenta 60 minutos, mas tem experiência, claro», diz Marcelino.

Hélio Pinto garante que os cipriotas fizeram poucas perguntas sobre Portugal. «Eles sabem tudo, conhecem os jogadores todos. Só brincámos no balneário com o nosso lateral, a dizer-lhe que ia levar com o Ronaldo, ele ficou assustado. Mas afinal não», diz o médio, entre gargalhadas. Marios Elia e Savvas Poursaitides, seus colegas de equipa, são os laterais do Chipre.

«O Constantinos Charalambides é o capitão do APOEL, é um 10 com qualidade e bate bem livres. Mas, no geral, com a qualidade que Portugal tem, dá para ganhar. O Chipre é mais forte em casa, no ano passado surpreendeu a Itália, mas fora são acessíveis. Se Portugal mantiver a concentração e não relaxar, vence», sentencia Hélio Pinto, formado no Benfica.

«Não se comparam aos portugueses»

«O futebol no Chipre tem melhorado nos últimos anos, com a presença dos estrangeiros, se bem que nem todos têm qualidade. Ainda assim, o talento dos jogadores do Chipre não se compara aos portugueses. A selecção tem jogadores rápidos, essencialmente isso, mas são limitados no aspecto táctico e o pior é mesmo a defesa», garante Edgar Marcelino.

O extremo, formado no Sporting, consegue apenas elogiar, de forma natural, um jogador do Chipre. «Para mim, Georgios Efrem é o jogador que tem mais qualidade, porque passou pelas escolas do Arsenal», conclui Marcelino.

Hélio fica, Marcelino pensa sair

Hélio Pinto foi um dos primeiros portugueses a chegar ao Chipre. Hoje em dia, são mais de cinquenta. O médio ofensivo, actualmente com 26 anos, sente-se feliz no APOEL de Nicósia. «Nos últimos tempos, sempre que saio à rua, encontro um português ou um brasileiro. Foi o que mudou desde que cheguei, ao início éramos poucos. Estou bem aqui e quero ficar onde me sinto bem», diz ao Maisfutebol.

Edgar Marcelino sente o oposto. Ficou marcado pela passagem amarga pelo Omonia, esteve seis meses em Espanha mas voltou ao Chipre no ano passado, para jogar pelo APOP. Uma lesão grave adiou a concretização do desejo: sair. «Agora penso recuperar e ver o que surge em Janeiro. Podia ter ido para o Rapid de Viena, mas fiz uma rotura e comecei apenas a treinar agora. Voltar a Portugal? Até prescindia do dinheiro, mas apostam pouco nos portugueses. Voltar para perder desportiva e financeiramente, não», remata o extremo de 25 anos.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Incrível Hulk: a força de vinte pessoas num luto goleador

Incrível, este Hulk. Seis golos em quatro jogos para um talento que atrai emoções num arranque de temporada impressionante. Entre o drama e o regresso à selecção do Brasil, o avançado do F.C. Porto deixa promessas para uma temporada de explosão.

Dragões no topo da Liga, com a Supertaça na vitrina e a fase de grupos da Liga Europa no horizonte. André Villas-Boas silenciou críticos, encontrou alternativas para Bruno Alves e Raul Meireles. Mutações profundas na forma de ser e estar deste F.C. Porto. Para além dos reforços, emerge Hulk, vida nova após castigo prolongado.

O aviso chegara na pré-época: três golos em igual número de particulares. Eis o cerne da questão, incontornável na análise ao fenómeno. Entre fortuna e fama, surge uma família que condiciona emocionalmente um jogador. A alcunha anuncia um super-héroi, as circunstâncias revelam a humanidade do profissional de futebol.

Um mês entre duas crianças

Os adeptos contornam o tema, jornalistas procuram repetir a teoria: vida pessoal e profissional não se misturam. Contudo, saltam à vida desarmada as oscilações, os amuos repentinos, as fases douradas. Nem sempre relacionadas com questões desportivas.

Por isso, importa referir que Hulk não joga por ele, mas por mais vinte pessoas. Não é caso raro, saliente-se. Porém, em momentos de tristeza, tudo se concentra nele. Cada golo seu é o golo dos familiares que também vivem o luto dramático. A morte de uma sobrinha, com pouco mais de um ano, abafou o regresso do avançado à selecção do Brasil.

Um mês antes, após bela pré-temporada, Hulk foi ao Brasil pelo nascimento do segundo filho. O crescimento da prole sugestiona casa nova na Invicta, mudança a concretizar em breve. Do outro lado do Atlântico, em Campina Grande, o Incrível já colocara duas dezenas de familiares a habitar num espaço de luxo e conforto, a vivenda onde a sobrinha Alicya viria a falecer, por afogamento, num momento de desatenção. Circunstâncias terríveis a motivar luto profundo.

O luto, a selecção e os golos

Hulk voltou ao Brasil em Agosto, com um golo na bagagem (penalty frente à Naval) e um cenário de tristeza à espera. No regresso, passou a jogar por ele, pela sobrinha e pelos familiares que só sorriem com uma festa sua, nos relvados.

Falhou metade da eliminatória como Genk mas compensou com um «hat-trick» no Dragão. Perdeu a recepção ao Beira Mar (3-0) mas deu a vitória frente ao Rio Ave (0-2), com mais dois golos. Cinco em quatro dias, aliás. Segue-se a selecção, agora orientada por Mano Menezes.

O avançado do F.C. Porto regressa ao «escrete» para não mais sair. É essa a sua ambição. Aos 24 anos, terceira época de dragão ao peito, colocou a sua alcunha na boca de adeptos europeus e mesmo brasileiros. Hulk casou-se com os golos.

domingo, 29 de agosto de 2010

F.C. Porto-Genk, 4-2: Lágrimas vindas do céu na história do Incrível Hat-trick Hulk

Incrível ou «hat-trick» Hulk? Fica a sugestão, aguardando novos episódios da série goleadora do avançado brasileiro. Três golos de bola parada na recepção ao Genk (4-2), confirmando a presença do F.C. Porto na fase de grupos da Liga Europa. Vossen bisou sem equilibrar a eliminatória (7-2 no total). Fernando, mais ofensivo que nunca, completou a cena.

A delicadeza do tema motiva algum recato. Contudo, quando a homenagem toca o coração dos adeptos, que nem acompanharam os passos da criança em questão, merece entrar na história. A história do Incrível Hulk, uma corrida pessoal rumo à baliza contrária, com propósito nobre.

Hulk falhara o Genk pela morte da sobrinha. Viajou para o Brasil sem esconder a tristeza. O F.C. Porto, sensibilizado, deu-lhe todo o tempo do Mundo e dedicou-lhe o triunfo na Bélgica. Com a eliminatória resolvida, o brasileiro voltou aos relvados. Correu, fintou, falhou até marcar o golo que tanto procurara. Perdeu um castigo máximo mas terminou o jogo com um «hat-trick».

A surpresa e a dedicatória

As lágrimas vindas do céu, em forma de chuva, caíram no rosto de Hulk quando ele marcou o primeiro (37m), ergueu as mãos e dedicou o momento à sobrinha malograda. Para trás, ficara um penalty falhado, por si conquistado, e um golo do Genk que surpreendeu o Dragão.

A análise parece redutora, mas para quem não viu, acredite que tudo andou à volta deste Incrível com nome de herói de banda desenhada. Vossen, que marcara em antecipação a Rolando (22m), baixava a cabeça perante a incapacidade para igualar o adversário directo.

Hulk foi pela direita e pelo centro, pegou na bola e tentou criar. Porém, o «hat-trick» chegaria com o esférico imóvel. Em dois castigos máximos e igual número de livres directos, o internacional brasileiro marcou três golos. No segundo penalty (59m), provou que não é só matéria bruta. Atirou em jeito e não em força. Antes e depois (63m), de bola parada, recorreu à violência para bater Koteles.

Otamendi a ver, centrais a tremer

O F.C. Porto apresentou mais três novidades. Beto discreto na baliza (as redes portistas balançaram pela primeira vez, esta época), Souza em bom plano no apoio a Fernando, Ruben Micael sem brilhar na zona de construção. Hulk regressou ao onze e encaixou num 4x4x2 apresentado como sistema alternativo.

O Genk, com 0-3 na eliminatória, veio com equipa de recurso. Mudaram-se alguns nomes, sem afectar a determinação. A defesa portista tremeu e voltou a denotar alguma desconcentração. Com Otamendi, o internacional argentino que sucede a Bruno Alves, a ver.

Otamendi assistiu ao jogo, a par de 33.512 espectadores. Não houve transmissão televisiva, porque a aposta passa por um Dragão cheio e as propostas não compensavam. Assim, nem todos viram o tento inaugural de Vossen. Nem o penalty falhado logo depois por Hulk. Nem a compensação do brasileiro (37m), a garantir a igualdade com um pontapé rasteiro e potente, na conversão de um livre directo.

Fernando também marca

O F.C. Porto regressou das cabines com 1-1 no marcador e o 4x2x3x1 no papel. Souza aproximou-se de Fernando, o médio defensivo que andava demasiado afastado da baliza contrária. Aliás, nunca marcara com a camisola portista, em jogos oficiais. Deixou a promessa frente ao Ajax e fez a festa na recepção ao Genk, com mais um pontapé de longe, desta vez com culpas para Koteles.

Bola cá, bola lá, a vantagem azul e branca durou escassos quatro minutos. O golo do empate de Vossen (57m) durou muito menos. Segundos após bom voo do avançado, em mais uma antecipação aos centrais portistas, Moutinho conquistou um castigo máximo e permitiu o bis de Hulk. Com a sobrinha na memória do Incrível e a fase de grupos no horizonte do F.C. Porto, o «hat-trick» do brasileiro não foi mais que um belo final de festa. Nova bomba, de livre, com a ajuda do guarda-redes do Genk. 7-2 na eliminatória. Categórico.

Helton: a braçadeira como prémio em troca da baliza inviolada

Helton herdou a braçadeira de capitão do F.C. Porto, face à saída de Bruno Alves para o Zenit, e tem justificado a aposta com várias exibições de bom nível. Aos 32 anos, o brasileiro convence os adeptos com um arranque de temporada à prova de golos.

Em quatro compromissos oficiais, Helton manteve a baliza portista inviolada. Na Supertaça, frente ao Benfica, o brasileiro fez os concorrentes directos perderam parte das esperanças. Mais uma vez, o F.C. Porto foi ao mercado contratar um guarda-redes. Kieszek juntou-se ao Beto no leque de alternativas, mas a baliza continua entregue ao mesmo dono.

«O Helton está a atravessar mais um grande momento no F.C. Porto. Recebeu um prémio do treinador e da direcção, ao passar a usar a braçadeira de capitão. Penso que está a retribuir», começa por dizer Marival Gomes, tio e procurador do guarda-redes, ao Maisfutebol.

Frente a Benfica, Naval 1º de Maio e Genk, Helton acumulou defesas de elevado grau de dificuldade, contribuindo de forma decisiva para o desfecho das partidas. Na recepção ao Beira Mar, o brasileiro teve menos trabalho mas voltou a demonstrar uma segurança assinalável, uma concentração que convenceu os adeptos mais críticos em relação ao brasileiro.

«Cinco anos, quatro vezes campeão»

Depois de Vítor Baía, o F.C. Porto volta a colocar a braçadeira de capitão no braço de um guarda-redes. «O Helton é dos mais antigos no plantel e tem demonstrado sempre respeito e profissionalismo, mesmo quando não jogou. Quando chegou, ele ficou como reserva do Vítor Baía, mas isso é um orgulho para qualquer um. Ruim é ser reserva da equipa da nossa rua», brinca Marival Gomes.

«Nos cinco anos de F.C. Porto, o Helton foi quatro vezes campeão e quer voltar a ser. Quanto à selecção, teremos de esperar para ver. O Mano Menezes chamou o David Luiz e o Hulk, craques que despontam em Portugal. Às vezes o adepto brasileiro não sabe tanto, por causa da distância, mas este ano os jogos do campeonato português estão a passar no Brasil e isso ajuda. Se o Helton fosse naturalizado português, estaria na vossa selecção. No Brasil, é mais política», desabafa o procurador do guarda-redes.

A defesa azul e branca perdeu Bruno Alves, Maicon e Rolando procuram adaptar-se e formar uma dupla coesa. Enquanto decorre o processo, com Otamendi a caminho, Helton vai resolvendo as questões mais bicudas.

Sérgio Pinto, portista e ex-Schalke: «Vou torcer pelo Benfica»

Sérgio Pinto, médio português que representa actualmente o Hannover, acedeu ao pedido do Maisfutebol e descreveu a actual situação do Schalke04. O jogador luso representou o adversário do Benfica, entre 1999 e 2004.

Perspectivando um duelo escaldante na fase de grupos da Liga dos Campeões, Sérgio Pinto esquece rivalidades, até o seu passado no Schalke, e promete torcer pelo Benfica no confronto em solo germânico. «Se tiver oportunidade, irei ao estádio ver o jogo e claro que torcerei pelo Benfica. Sou portista mas, antes de mais, português. Para além disso, os pontos darão jeito para o ranking, para Portugal voltar a ter três equipas na Champions.

«Penso que o Schalke vai sentir dificuldades esta época, no campeonato e na Champions. Por acaso, vamos lá jogar no sábado. O treinador não está satisfeito, já se fizeram muitas mudanças no plantel e ainda devem chegar mais três ou quatro jogadores. Portanto, quando for o jogo com o Benfica, já será um Schalke diferente», avisa o médio português.

Sérgio Pinto fala de uma mistura entre experiência e juventudes: «O Schalke tem bons jogadores, como o Raul, claro. Tem também o Rakitic, que agora está a jogar como médio defensivo, e o Jermaine Jones, muito bom jogador. Lá atrás, está também o Metzelder. Esses são os mais experientes. O resto são jovens, que se fartam de correr durante os noventa minutos.»

«O Schalke ainda não tem um estilo de jogo muito definido, é mais força do que táctica. Os adeptos são fervorosos e criam um grande ambiente. Isso o Benfica pode esperar. Mas penso que o Benfica tem condições para garantir bons resultados contra eles», rematou o médio português.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Da Islândia para o Mundo: conheça os reis dos festejos

Esta é a história de um fenómeno que surgiu na Islândia e está a conquistar adeptos por todo o Mundo. A beleza do futebol expressa na celebração efusiva e original de cada golo. Os jogadores do Stjarnan levam um sorriso ao rosto de cada adepto que anseia por novo balançar das redes adversárias.

O Maisfutebol tornou-se fã desta lufada de ar fresco proveniente da gélida Islândia. Tanto que decidiu investigar as origens do fenómeno e apresentá-lo convenientemente ao público português. Se gostou do Rambo do pescador ou da bicicleta, aqui fica a boa notícia: eles aceitam sugestões.

Aliás, o festejo da bicicleta partiu de sugestão brasileira. Do outro lado do Atlântico, os adeptos canarinhos do Stjarnan enviaram um vídeo para o defesa Johann Laxdal, com a coreografia da banda funk Muleks Piranhas. O jogador sorriu e prometeu apresentar a ideia à equipa. Dito e feito.

«É verdade, o movimento da bicicleta veio de um vídeo que pessoas do Brasil me enviaram, através do Facebook. Achei piada e mostrei aos outros jogadores. Acabámos por fazer mesmo isso no jogo seguinte», explica Johann Laxdal, ao nosso jornal.

Surpreendido pela popularidade, radiante por dar uma entrevista para Portugal, o defesa deixa a promessa: «Se os portugueses quiserem, façam o mesmo. Adicionem-me no Facebook e mandem sugestões. Queremos sempre boas ideias e não vamos parar».

Estrela ao domingo, jardineiro à semana

Nem tudo é radiante na história deste Stjarnan, o 6º classificado do campeonato da Islândia. Johann Laxdal, o número 4 que já foi pescado e simulou uma roda de bicicleta, é um dos jogadores semi-profissionais da equipa. Estrela ao domingo, jardineiro municipal durante a semana.

«Aqui, apenas os estrangeiros conseguem ser profissionais, vêm para cá ganhar mais dinheiro. Eu sou jogador do clube, formado lá, sou internacional nas selecções jovens mas não chega. Portanto, durante a semana, ando a tratar os jardins da cidade, a embelezar a cidade», explica, humildemente, o defesa.

Os adversários não acham piada

Neste domingo, o Stjarnan venceu o Selfoss por 3-2. Os adeptos, em número crescente perante o fenómeno, receberam mais duas prendas originais. «Penso que as imagens estarão em breve no Youtube. Num dos golos, o marcador festejou mas depois ficou parado, como se tivesse ficado sem bateria. Teve de ir lá um colega recarregá-lo. No outro, o marcador meteu a bola debaixo da camisola e simulámos um parto. Eu fui o médico», conta Johann Laxdal.

«O nosso treinador está a gostar muito e não deixamos de treinar por isso. Para fazer a bicicleta, bastaram dois ensaios. Os adversários é que não acham piada, mas tentamos explicar que não é nenhuma ofensa a eles, apenas a nossa festa. Sinceramente, não estávamos à espera que isto chegasse a todo o Mundo, mas agora não vamos parar. Veremos o que o futuro reserva», remata o jogador do Stjarnan, em entrevista ao Maisfutebol.

sábado, 7 de agosto de 2010

Yago na Suécia: gigante luso entre altos, loiros e nada toscos

No Inverno o Natal é baril, no Inverno ando engripado e febril, no Inverno é Verão no Brasil, e na Suécia suicidam-se aos mil.

A contabilidade dos Fúria de Açucar, na música «Eu gosto é do Verão», está desactualizada. Na Suécia, a taxa de suicídios não bate recordes mundiais. Nem tem lugar na conversa com Yago Fernández, jovem internacional luso que abre novos horizontes com a camisola do Malmo.

Yago Fernández Prieto, 22 anos, tem uma embalagem invejável. Cresceu entre o Sporting, o Benfica, o Real Madrid, o Valência e o Espanhol de Barcelona. Nasceu em Lisboa, com ascendência espanhola. Passou largos anos no país vizinho, sem ceder à tentação de cantar outro hino.

«Jogarei sempre pela selecção de Portugal, nunca por Espanha. Sou português, adoro o meu país e não vou mudar nunca», garantiu ao Maisfutebol, em 2007. Estava no Valência e convivia com o namoro de Liverpool e Arsenal. Como acontece com inúmeros jovens, sentiu a passagem para o escalão principal.

No início de 2010, rumou ao Gil Vicente para redescobrir o futebol português. Não foi feliz. Ficou amargurado com a experiência, sentindo que o seu país continua a apostar demasiado em valores de outras latitudes. Teve de emigrar.

«Estou há três semanas no Malmo, assinei contrato até Novembro mas o objectivo passa por continuar. Estou a gostar bastante da experiência, é um clube com excelentes condições e estamos a lutar pelo título da Suécia», explica, ao nosso jornal.

O Malmo de Yago foi ao reduto do Orebro para garantir um triunfo convicente (0-3) e encurtar a distância para o líder Helsingborg: «Os adeptos aqui adoram futebol e são muito fiéis à sua equipa. Hoje, jogámos a 600 quilómetros da nossa cidade mas vieram muitos adeptos apoiar-nos. Fomos de avião para evitar o desgaste e agora estamos a regressar de autocarro.»

Yago Fernández está habituado a olhar de cima para baixo. Com 192 centímetros, é uma torre pouco habitual no tabuleiro lusitano. Porém, na terra dos altos, loiros e outrora toscos, o português encontrou concorrentes à altura. Literalmente.

«Sim, é mesmo verdade. Aqui há uns quantos mais altos que eu. Mas continua a ser um dos maiores», garante o internacional luso, entre gargalhadas, ao Maisfutebol.

Yago reencontrou Anderson: «Fui apanha-bolas dele no Benfica»

Yago Fernández adapta-se à Suécia. Chegou há três semanas e está a adorar a experiência. O defesa-central não encontrou nenhum português pelo caminho, mas teve a oportunidade de matar saudades de uma cara conhecida: Anders Anderson.

O jovem internacional luso estava nas camadas jovens do Benfica quando Anderson vestia de encarnado. O médio sueco nunca foi indiscutível e acabou por sair. Dez anos mais tarde, reencontro inesperado no Malmo.

«Tenho falado com o Anderson, ele ainda fala português e até lhe disse uma coisa engraçada. Eu fui apanha-bolas dele no Benfica. Tinha 12 anos e, nos jogos grandes, o clube metia os miúdos dos iniciados a fazer de apanha-bolas», recorda Yago, em conversa com o Maisfutebol.

Sem querer extremar posições, Yago Fernández não esconde alguma amargura pela aposta falhada no Gil Vicente. O defesa estava no Espanhol de Barcelona e foi emprestado ao emblema de Barcelona. Regressava a Portugal para crescer na Liga de Honra. Contudo, ficou desiludido com a realidade nacional. Pelo menos, com a passagem por Barcelos.

«Foram opções do treinador, é passado e prefiro olhar em frente. Não foi uma experiência do meu agrado, esperava outra coisa. Mas agora estou aqui no Malmo e, se tiver de ficar aqui toda a minha vida, fico radiante. Só digo que os clubes portugueses deviam apostar mais nos seus valores. Aqui no Malmo, há dez jogadores suecos entre os 18 e os 22 anos, por exemplo», desabafa.

Yago está encantado com Malmo, como clube e cidade. Atravessa uma ponte e está em Copenhaga, na capital da Dinamarca. Tranquilidade na Suécia, comércio e festa a dois passos. «O clube tem excelentes condições, o estádio é novo e foi inaugurado no ano passado. Quanto à cidade, é pacata e tranquila. Já fui a Copenhaga, mas lá é muita gente, muita confusão. E é uma cidade bem mais rara», remata o defesa.

Figura do Genk revela: «Helton foi o meu primeiro guarda-redes»

Stéphane Demol, antigo dragão, destaca João Carlos como uma das figuras do Genk, adversário do F.C. Porto no «play-off» da Liga Europa. O central brasileiro acrescenta um ponto na teoria de aldeia global. Helton tem quota de responsabilidade na carreira do defesa de 28 anos.

João Carlos e Helton cresceram lado a lado, no Vasco da Gama. Mais velho, o guarda-redes portista ocupava a baliza quando o central chegou à equipa principal, em 2001. «É meu grande amigo. Já não o vejo desde essa altura, mas falámos no ano passado. Posso dizer que o Helton tem a sua parte na minha formação como jogador. Foi o meu primeiro guarda-redes», começa por dizer, ao Maisfutebol.

«Eu era novo e fizemos ano e meio seguidos na equipa. Ele dizia: João, não é assim, João, faz assim, João, vai para ali. Gritava muito mas sem faltar ao respeito, claro. Deu-me muito na cabeça, mas sempre a pensar no meu melhor e no melhor para a equipa. É grande guarda-redes, grande pessoa e merece tudo de bom. Já nessa altura, andava sempre com o violão atrás», brinca o defesa-central.

«O Hulk é um jogador potente»

João Carlos nunca esteve no Porto. Porém, conhece de cor o adversário do Genk. «O F.C. Porto já venceu tudo o que é troféu, é uma equipa que tem muitas armas, mais que nós. Tem o Helton, mas também o Hulk, que é um jogador potente, que já chegou à selecção. Depois há o Falcao, que chegou no ano passado e também é perigoso. E o Souza, que veio agora do Vasco, onde eu joguei», enumera o brasileiro.

A equipa belga respeita o F.C. Porto, sem prestar vassalagem. João Carlos é central com fama de goleador, uma referência no jogo aéreo: «Se der para marcar o meu golo, não vou dizer que não. É uma satisfação poder jogar no Dragão, com toda a gente a ver, é daqueles momentos em que todos os jogadores se querem mostrar. Dos adversários possíveis, este era o mais complicado para o Genk»

«Mas não vamos entregar o jogo. Também temos as nossas armas. O Kevin De Bruyne, por exemplo, chegou agora à selecção principal da Bélgica. É um jovem extremo com muito talento e ainda pode evoluir muito mais», avisa João Carlos.

O defesa tem 28 anos e está na Bélgica há quatro. Recebeu o passaporte belga e chegou a ser equacionado para a selecção. Para já, o futuro passa pelo Genk. «Houve contactos para sair, mas nada de concreto. Até para Portugal chegou a falar-se, no passado cheguei a estar em Lisboa, porque o meu empresário era português. Mas nada se concretizou. Quanto à selecção belga, houve agora mudança de seleccionador e temos de esperar. De resto, tenho mais dois anos de contrato com o Genk e a minha família é feliz aqui», concluiu.

Demol: «João Carlos e De Bruyne são os melhores do Genk»

Stéphane Demol tem competência para falar sobre o confronto entre F.C. Porto e Racing Genk. O antigo defesa dos dragões abraçou a carreira de treinador e defrontou o adversário portista na época passada, quando orientava o Charleroi.

A partir da Grécia, onde treina o PAS Giannina, Demol fala com o Maisfutebol em bom português. Não esquece a sua passagem pelo nosso país, primeiro no F.C. Porto e depois no Sp. Braga. Tem saudades de Portugal e promete voltar a médio prazo. Para já, aborda o duelo agendado para o «play-off» da Liga Europa.

«O F.C. Porto é um grande favorito neste duelo. O Genk vem de um ano difícil, em que até teve de mudar de treinador. Entrou o Frank Vercauteren, antigo capitão do Anderlecht, que jogou comigo na selecção da Bélgica. Ele conseguiu recuperar a equipa e garantir a Europa no último jogo, num play-off frente ao Westerloo», começa por dizer.

O Genk, catalogado por Demol como a quarta força no futebol da Bélgica, está em mutação: «Eles fizeram grandes épocas, mas o ano passado correu mal. Mudou o treinador, mudou também o presidente e mesmo o director-desportivo. Querem fazer uma época bem melhor este ano.»

«Têm o João Carlos, que para mim é o melhor central a jogar na Bélgica. Depois, têm o Kevin De Bruyne, o melhor talento jovem do país. Para mim, João Carlos e De Bruyne são os melhores do Genk. O De Bruyne é um extremo, pode jogar nos dois flancos, muito técnico e rápido. Tem potencial para a selecção. O Elyaniv Barda, de Israel, teve um ano difícil mas é o goleador», explica o antigo internacional belga.

João Carlos tem 28 anos, nasceu no Brasil e foi formado no Vasco da Gama. Está na Bélgica desde 2004 e já tem o passaporte nacional, entrando nos planos da selecção. É um central goleador. Kevin De Bruyne tem 18 anos mas já realizou 35 jogos na equipa principal do Genk, marcando 5 golos. Nos sub-19 da Bélgica, apontou 16 golos em 14 internacionalizações.

Stéphane Demol deseja boa sorte ao F.C. Porto e promete acompanhar o duplo embate, por via televisiva, desde a Grécia. «Estou aqui agora a treinar, no Pas Iannina, mas gostava de um dia treinar em Portugal. Vou tentar ver os dois jogos. Vai ser interessante», remata o velho conhecido dos dragões.

Villas-Boas: da praia das Ilhas Virgens ao banco do F.C. Porto

André Villas Boas vai disputar o primeiro troféu como treinador principal. Aos 32 anos, é o mais jovem técnico na história do F.C. Porto. Na véspera da estreia oficial, o Maisfutebol recua uma década para perceber como um jovem português foi parar à selecção das Ilhas Virgens Britânicas!

O destino peculiar motivou a curiosidade, saciada pelo contacto do homem que recebeu André Villas-Boas num território britânico perdido no mar das Caraíbas. Na quinta-feira, dois meses após a primeira abordagem, Kenrick Grant respondeu ao desafio e recuperou a história de 2000.

«Eu era presidente da Associação de Futebol das Ilhas Virgens Britânicas, nessa altura, e estava à procura de um treinador jovem, com qualificação. O André enviou-nos o seu currículo, vinha de um grande clube como o F.C. Porto e era amigo de Bobby Robson. Ficámos convencidos», conta.

Villas-Boas queimou várias etapas na sua formação como treinador. Tinha apenas 17 anos quando tirou o curso no Reino Unido, por intermédio de Sir Robson, e voltou a Portugal para colaborar com as camadas jovens do F.C. Porto.

«Ao início, estava sempre na praia»

André queria ser treinador antes do prazo, mas era um miúdo. Tanto que, ao chegar às remotas Ilhas Virgens Britânicas, deslumbrou-se. Tinha 22 anos.

«Ao início, estava sempre na praia! Passava por ele e via-o sempre de calções. Tive de falar com ele. Parecia que estava de férias. Mas quando começou a trabalhar, surpreendeu-me logo», admite Kenrick Grant.

Entregaram-lhe a supervisão das camadas jovens. Era pouco para tamanha ambição. «Logo ao início, fez um plano completo para todas as selecções, um manual com planos de jogo e de treino, cheio de informação. Mexia muito bem nos computadores e era soberbo na observação. Vinha para as selecções jovens, mas ele queria trabalhar na principal».

«Passou então a estar nos treinos da selecção principal, a colaborar com o seleccionador. Eu sabia a idade que ele tinha, mas não me arrependi. Deixou trabalho feito, meteu os seniores a treinar os miúdos e muitos desses jovens chegaram depois à selecção principal», congratula-se o antigo responsável pelo futebol nas Ilhas Virgens Britânicas.

«Não tinha paciência para jogadores sem qualidade»

O actual treinador do F.C. Porto acumulava experiência num destino exótico. Tinha 22 anos e estava com pressa. Queria chegar ao topo quanto antes: «Foi o único problema que tive com ele. Percebi que estava aqui pelo currículo, que não iria ficar muito tempo. Queria ser seleccionador principal, mas nessa altura tínhamos um. Então, acabámos por dizer adeus.»

Villas-Boas regressou à Invicta e ao seu clube de sempre, de novo para as camadas jovens. José Mourinho chega mais tarde e reencontra o jovem. André passa a encarregar-se da observação de adversários. Fá-lo com mestria, cresce na sombra, do Porto a Londres, de Londres a Milão.

Dez anos após a primeira aventura, corta de novo a direito. Quer afirmar-se por conta própria e chega à Académica. Convence o F.C. Porto e entra no Dragão pela porta grande. Neste sábado, vai a jogo, a doer.

«Estou ansioso para ver como se safa. Fiquei surpreendido, ele tinha a teoria toda, falta-me perceber se já tem a prática. E outra coisa. Ele não tinha paciência para jogadores sem qualidade, como havia na selecção principal. Por isso é que preferi deixá-lo com os jovens. Talvez tenha mudado entretanto», remata Kenrick Grant, em conversa com o Maisfutebol.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

# N.Y. Cosmos: os galácticos originais estão de volta (vídeo)

Pelé anunciou, neste domingo, o regresso dos New York Cosmos. Os galácticos originais, as super-estrelas do futebol norte-americano, estão de volta após um interregno de um quarto de século. Na década de 70, este sonho americano surpreendeu o Mundo.

A Warner Communications, inesgotável fonte de capital, criou um fenómeno sem paralelo numa sociedade pouco habituada a conviver com o «soccer». Os NY Cosmos popularizaram-se com nomes como Pelé, Carlos Alberto, Beckenbauer, Chinaglia ou Neskeens. O português Seninho estava entre eles.

«É difícil repetir um fenómeno como aquele. Quando cheguei, em 1978, éramos os verdadeiros galácticos. Vi o estádio dos New York Giants, com 76 mil pessoas, várias vezes esgotado. Já havia ecrâns gigantes, cheerleaders, animações antes do jogo e ao intervalo, até estádios com relva artificial. Naquela altura, diziam que os americanos eram malucos por jogar em relva artificial», recorda Seninho, em conversa com o Maisfutebol, ao rebobinar o filme de uma aventura inesquecível.

A máquina impressionava. Os jogadores desdobravam-se entre as competições e os eventos sociais. «Mal cheguei, disseram-me logo que tinha de aprender inglês. Não estava ali só para jogar futebol. Ainda por cima, ali não sabiam quem era o Seninho. A minha sorte foi ter brilhado numa vitória do F.C. Porto frente ao Man. United. Deu na televisão e, na manhã seguinte, estava reunido com os responsáveis da Warner», diz o antigo avançado.

Pelé a chegar aos estádios de helicópetro

Seninho chegou aos Estados Unidos em 1978, ainda na fase dourada dos New York Cosmos. Pelé foi o porta-estandarte da equipa americana. Nessa altura, jogava apenas os particulares. Sempre com estatuto de estrela: «Foi há 32 anos, mas o Pelé já chegava de helicóptero. Íamos de costa a costa, não raras vezes, em avião particular, da empresa. Certa vez, pagaram a viagem a todas as nossas famílias, para estarem connosco oito dias. Pagaram hotel, tudo. Era algo extraordinário, na altura.»

Os NY Cosmos venciam quase sempre. Arrastavam multidões para os estádios e convenciam milhões de jovens a descobrir o «soccer». Multiplicaram-se os títulos, entre a década de 70 e o início de 80. Porém, com o tempo, surgiram os incontornáveis problemas.

«A dada altura, a Liga chegou a acordo com o Cosmos para distribuir jogadores por outros clubes. O Cruijff foi para Washington, o Cubillas e o Gerd Muller foram para Fort Lauderdale, por exemplo», enumera Seninho, actualmente com 61 anos. Eusébio também participou no desfile de estrelas na América do Norte.

O fim das estrelas para o início da formação

Os adeptos apaixonavam-se pelo fenómeno, as equipas apostavam em estrelas de renome internacional. Contudo, a «galáxia» dos New York Cosmos desapareceu em 1984. Aos poucos, os jogadores norte-americanos foram reclamando o seu espaço e alteraram a lógica vigente.

«Nesse tempo, eles não tinham tanta qualidade como hoje. Quando cheguei, eram nove estrangeiros e dois americanos por equipa. Depois quiseram reduzir, primeiro oito estrangeiros depois sete. Em 1984, jogavam apenas seis. Com isso, o público afastou-se e o encanto perdeu-se. Os NY Cosmos desapareceram nesse ano», lembra o antigo avançado.

26 anos depois, os Cosmos estão de volta. Pelé anunciou o regresso, no lançamento de um projecto assente na formação. «Once in a Lifetime», «Uma vez na vida». Eis o nome do documentário que relata a história daquele fenómeno. Irrepetível, concorda Seninho.

sábado, 31 de julho de 2010

Bigorna, o original: «Walter vai marcar ao Benfica como eu»

Walter chegou a Portugal com a alcunha de Bigorna. O reforço do F.C. Porto surgiu no Internacional de Porto Alegre e foi rapidamente comparado a Claudiomiro, o homem que marcou o primeiro golo no Estádio Beira-Rio. Ao Benfica de Eusébio, em 1969.

Claudiomiro é o Bigorna original. Baixo e largo, como Walter (176 centímetros e 86 quilos). Representou a selecção do Brasil em cinco ocasiões, no início da década de 70. Nessa altura, acumulava títulos pelo Internacional. Mas já tinha deixado a sua marca. Aquele golo ao Benfica, na inauguração do estádio em Porto Alegre, a 6 de Abril de 1969, imortalizou o Bigorna.

«Walter remata forte com os dois pés»

«O Walter foi apelidado de Claudiomiro II, mas eu era mais rápido que ele. Temos algumas parecenças, porque ele é baixinho e gordinho. Eu era mais de partir para cima, jogava no centro, o Walter cai mais nas alas e remata de longe, forte, com os dois pés», explica Claudiomiro, no início da conversa com o Maisfutebol.

O F.C. Porto contratou um craque, garante o antigo avançado, rebobinando o filme para explicar como entrou na história do Internacional de Porto Alegre. «Convidámos o Benfica para a inauguração do Beira-Rio porque jogava de vermelho, como nós. Era uma equipa fabulosa. A base da selecção de 66. Tive a felicidade de marcar o primeiro golo desse estádio, mas a minha carreira foi mais que isso», lembra.

«Vencemos por 2-1, nesse dia. Eu marquei o primeiro, lembro-me que foi um cruzamento do Valdomiro, eu estava entre os centrais, um deles era o Humberto, e marquei», recorda o Bigorna original, desejando igual sorte para o seu sucessor: «Sei que o Benfica é rival aí do Porto. Acredito que o Walter vai marcar ao Benfica como eu, tem qualidade para isso e para muito mais!»

«Tem tendência natural para engordar»

Claudiomiro terminou, aos 29 anos, uma carreira atormentada por problemas físicos e descontrolo no peso. Mais um ponto, aliás, em comum com Walter. Antes, os elogios. «O Walter sabe usar o físico, usa bem o corpo e remata com muita força. Tem muito potencial para dar certo no F.C. Porto e depois sair para Espanha, Itália ou Inglaterra. Só precisa de ter a cabeça no sítio», considera o Bigorna.

«Ele tem de saber bem o que diz. Lembro-me que chegou aqui uma vez a dizer que nunca mais jogava no Internacional. Voltou e forçou a barra de novo. Nunca pode sair de um clube como este sem deixar a porta aberta. Tentei dar-lhe conselhos, nas viagens que fazíamos juntos, espero que ele melhore», desabafa o brasileiro, que trabalha agora no Departamento de Comunicação do Internacional.

No final da conversa, entre inúmeros elogios a um potencial imenso, mais um conselho para o reforço azul e branco. «Ele tem tendência natural para engordar, como eu tinha, mas no meu tempo não havia nutricionista. Vai ter de fazer um regime para ficar em condições. Lembro-me que, quando voltou de lesão, até veio com peso a menos, portou-se muito bem. Portanto é só uma questão de manter essa situação sob controlo», remata Claudiomiro, em entrevista ao Maisfutebol.

sábado, 5 de junho de 2010

10 anos de Maisfutebol: momentos que preferia não ter vivido

Luís Mateus devolveu-me a emoção, sentimento repudiado no exercício do jornalismo. Em dia de aniversário, podemos ser protagonistas. Dar opinião, assumir a nossa identidade, desabafar, comemorar a edificação de um projecto sem paralelo no panorama nacional.

Os elogios ao Maisfutebol, a minha casa desde 2005, esperam. Antes, os momentos que preferia não ter vivido. Aqueles raros instantes em que repudiei a escolha de vida, a curiosidade e isenção exigidas ao jornalista.

Ainda ao serviço do extinto Comércio do Porto, estive no trágico V. Guimarães-Benfica de 2004. Na bancada de imprensa, enquanto Fehér caía do outro lado do relvado, anunciavam-se as primeiras lágrimas.

Segui para o hospital, contrariado, sem qualquer interesse em dar a notícia que nos esperava. Encostei-me a um canto, à porta das Urgências, procurando fugir ao anúncio indesejado.

Naquele momento, queria mentir, escrever que não, Fehér resistira. Chorei apenas ao chegar a casa, jornal fechado, dever cumprido.

A morte voltou a atormentar-me em 2009. Desta vez, sem aviso. A 10 de Novembro, o assessor de Hugo Almeida alerta-me para o falecimento de um guarda-redes alemão. A notícia era recente, cinco minutos apenas.

Carreguei no link enviado, rezando para não encontrar a foto do homem que entrevistara no ano anterior. Era mesmo ele: Robert Enke. O mesmo que sorrira, dialogara em português e falara sobre as saudades do Benfica, durante o Europeu de 2008.

Recuando no tempo, todas as imagens positivas da cobertura do Euro2008, a minha primeira experiência do género, os golos de Portugal, as paisagens inesquecíveis de Suíça e Áustria, os adeptos, tudo se desvanece quando recordo aquele curto diálogo com Enke.

«Robert Enke ist tot». Manchete do Bild, com fundo negro. Não queria acreditar. Durante um, dois minutos, guardei silêncio. Depois, dei mais uma notícia indesejada, evitando os contornos anunciados posteriormente. Recordei apenas aquele sorriso, um ano antes, já escondendo a agonia interior.

As notícias sem papel

As despedidas precoces de Féher e Enke marcam o meu percurso jornalístico. Muito mais que as agressões cobardes, em 2006, quando adeptos acreditaram que a ida de Jesualdo Ferreira para o F.C. Porto era pura invenção jornalística.

Tudo o mais é glorioso. Acompanhando o Maisfutebol por fora, imaginei uma equipa de meia centena de almas, inúmeros recursos para trilhar um caminho desconhecido na rede. Para mim, jornal era papel.

Agora, cinco anos após a entrada no projecto, agradeço a falta de amarras. Nesta casa, sustentada por dezena e meia de irrequietos criativos, não há espaços para preencher, recados de dirigentes em forma de notícia, projectos de transferências transformados em apresentações precoces.

Com o afastamento deliberado de clubes e dirigentes, perdem-se algumas notícias. Tudo bem. Descobrem-se histórias interessantes, vídeos de bradar aos céus, relatos incríveis de um futebol que não pára de nos surpreender.

Não foi fácil. O caminho foi longo, sinuoso, sempre no limite do risco. O Maisfutebol completa dez anos, apanhei este comboio há cinco. Quem iniciou a marcha, deve encher-se de orgulho por ter criado uma marca, um estilo, uma forma alegre de olhar para o desporto.

Eu aprendi a fazer o mesmo, a procurar a cor entre o cinzentismo, a criar em vez de copiar, a acreditar na beleza do futebol que teima em ser negligenciada.

No fundo, a acreditar em si, leitor, na sua capacidade para dizer BASTA às politiquices e devolver o jogo aos seus verdadeiros donos: os jogadores.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

10 anos, 1 golo: avançado-cabeleireiro torce pelo Shampoozinho

O Íbis Sport Club apresenta-se como o pior clube do Mundo. E Mauro Shampoo, cabeleireiro e avançado, foi o pior jogador do Íbis: 10 anos, 1 golo marcado. O filho, Shampoozinho pois então, quer apagar essa página negra da história. «Que marque golos por ele e pelo pai», pedem os adeptos.

«Olha, eu joguei dez anos no Íbis e fiz um golo. O meu filho vai fazer mil. Tem mais qualidade que eu, mesmo que o time seja ruim. Começou hoje no Íbis, vai ouvir falar muito do Shampoozinho», promete Mauro, uma celebridade do Recife, em conversa com o Maisfutebol.

Mauro Shampoo virou fenómeno. A imprensa canarinha conheceu o pior avançado do Mundo, gostou da personagem e deu-lhe visibilidade. Seguiram-se filmes, anúncios e até músicas em sua honra. «Sou cabeleireiro, jogador de futebol e homem». O cartão de visita afasta quaisquer suspeitas. «Eu cresci na favela e, quando disse que ia ser cabeleireiro, duvidaram logo de mim. Nada disso. Sou casado e com filhos», avisa.

«Sempre tive o sonho de jogar num clube grande. Mas fiquei pelo Íbis mesmo. Só marquei um golo. Foi no Arruda, o guarda-redes sacudiu para a frente e eu marquei. Não tinha ninguém no estádio, mas fiz a festa toda. Os amigos brincam, dizem que foi na própria baliza, eu garanto que não. Em dez anos, foi o meu único golo», garante.

Mauro é feliz. Joga nos veteranos do Íbis, tem o seu cabeleireiro e continua a gozar a fama de pior avançado do Mundo. O filho, carregando a cruz como Shampoozinho, espera melhorar a imagem do progenitor: «Olha, eu perdi, perdi, e perdi de novo. O único título que tenho é o título de eleitor. É uma vergonha de carreira. Mas sou feliz. Jogo no Masters do Íbis, mas continuo sem marcar golos. É muito díficil.»

«Eu vesti o 10, era a estrela do Íbis. Tem Pelé, Maradona, Cristiano Ronaldo, Messi, todos camisola 10 como eu. Fico feliz com isso. Passei dificuldade, dormi na rua e só queria jogar futebol. Fui parar ao Íbis, time ruim. Fiquei por aí. Agora vem aí o Shampoozinho, vai ver que ele terá mais sucesso», repete, em diálogo com o Maisfutebol. Esperemos para ver.



Jornalismo pelas ruas da amargura

Primeiro, foi um adepto intitulado xeio_de_sono a garantir que os Super Dragões tinham comprado 3.500 bolas de golfe. Uma fonte de grande confiança, claro está, a valer primeira página em jornal de referência e natural histeria dos demais.

Depois, o morto que afinal não morreu. A Benfica TV, um meio não jornalístico, lembrou-se de lançar para o ar uma lamentável morte, consequência dos confrontos em Braga após a conquista do título. E o que fazem os jornais? Manchetes instantâneas, sem pegar num telefone. Afinal, a PSP diz que não morreu ninguém. E agora?

Não critico a Benfica TV. São amadores a fazer uma espécie de canal. Critico é quem vai atrás sem pensar, responsável por possíveis consequências graves. Pensem, porra!

Danilo revê o menino Hulk: «Vou mandá-lo para o outro lado»

O F.C. Porto descobriu Hulk. O Vilanovense, anos antes, descobrira Pará. É por essa alcunha que Danilo recorda o compatriota que vai reencontrar no Jamor, agora com barba rija e autoridade para impor lei.

«Na altura, era um menino mas já vinha para cima de mim». E vai de novo. O lateral direito do D. Chaves acolheu o extremo do F.C. Porto em 2002. Em Vila Nova de Gaia, era juvenil contra sénior, duelo sem respeito nos treinos da equipa principal.

Agora, vale um troféu. Danilo nunca temeu tanto um duelo com Givanildo,igual a Pará, igual a Hulk. «Chamávamos-lhe Paraíba, ou Pará, quando ele apareceu no Vilanovense, porque era a região dele. Agora é Hulk, mas já então era grande. Vinha de família pobre e tentávamos ajudar. Não dava era para lhe emprestar as minhas chuteiras, ele tinha 15 anos mas o pé dele já era maior que o meu.»

Hulk, gozado aos 15 anos por dizer: «Um dia, vou jogar no F.C. Porto»

Danilo é trintão. Hulk vai nos 23. Em 2002, Danilo estava por cima. E no domingo? «Se ele me cair em cima, vou mandá-lo para o outro lado. Nos treinos, apanhava com ele, que jogava na esquerda, encarava e queria fintar todos, mesmo sendo menino. Se ficar no meu lado, vou tentar travar, e tem de vir mais um ou dois para ajudar. Já naquela época tinha qualidade, mas teve de voltar para o Brasil, não sei porquê», recorda o defesa da formação flaviense, ao Maisfutebol.

«Fico feliz por vê-lo bem. É um grande jogador, com qualidade para chegar à selecção brasileira. Só estive uma vez com ele, desde que voltou. Cruzámo-nos na Madeira, Porto e Chaves jogavam lá. Vimo-nos no aeroporto, abraçámo-nos, recordámos as histórias do Vilanovense. As voltas que o Mundo dá», desabafa, entre sorrisos.

Taça para reconquistar Chaves

Chaves está em choque. O Desportivo, orgulho flaviense, caiu de divisão. Nas ruas, protestos. Na alma, dor imensa. «Se pudéssemos, trocávamos a Taça por ficar na II Liga. Ando pela rua e as pessoas vêm ter comigo, tristes pela descida. Muitos já nem vão ao Jamor por isso. Queremos provar que não estamos aqui só pelo dinheiro.»

Danilo é brasileiro mas fala como flaviense. Foi a quinta época no clube, a décima em Portugal. Chega ao ponto mais alto sem disfarçar o embaraço. «Chegámos à final da Taça e pensámos que isso ia aliviar os problemas financeiros. Mas mesmo assim foi difícil arranjar patrocínios para ir à final. A despesa é grande.»

Chaves paga o preço da interioridade. O corpo ressente-se. «Vamos de autocarro, seis horas de viagem, na véspera do jogo. Ao menos isso, vamos um dia antes, dá para recuperar. Agora imagine as viagens para o Algarve, nove horas. Isso sim, é duro»

«Esta semana, jogadores e treinadores reuniram-se para falar da descida e da Taça. É a nossa oportunidade para provar que temos valor. Chegámos à final! É David contra Golias, espero que dê David. Vamos para ganhar, mas se perdemos, jogando bem de igual para igual, já deixaremos uma boa imagem», finaliza Danilo, com dose moderada de esperança.

Jesualdo e Pavão: Chaves de partida, com Porto de chegada

Jesualdo Ferreira e Pavão são dois daqueles homens que têm reservada uma página em nome próprio na história do F.C. Porto. Jesualdo foi o primeiro treinador português três vezes campeão no clube, Pavão foi um dos mais brilhantes jogadores que vestiu a camisola azul e branca. Curiosidade: conheceram-se em Chaves.

Veja as fotos da época

Conheceram-se e evoluíram para uma grande amizade. Chegaram a partilhar um ano nos juniores do D. Chaves, imediatamente antes de Pavão se mudar para o F.C. Porto. «O Jesualdo falava-me tanto do Pavão que ainda me lembro do nome dele. Fernando Pascoal das Neves. É ou não é?», interroga a prima Marília Pires.

É, sim senhor. Jesualdo é um ano mais velho, mas calhou partilharem a cidade e um prazer inesgotável no desporto. Ora numa altura em que o F.C. Porto vai encontrar o Chaves no Jamor, o Maisfutebol recupera a história de uma amizade fora de campo - com rivalidade dentro dele -, que vai de um clube ao outro.

Os jogos a dinheiro na rua

Jesualdo estudava no Liceu, Pavão andava na Escola Industrial. Na década de 50, num Portugal cinzento, os jogos entre as duas escolas davam que falar. «Eram grandes duelos, com muita gente a ver», diz Silvano Roque, antigo colega de Jesualdo. «Eram jogos equilibrados e não perdíamos só por causa do Pavão».

Jesualdo e Chaves, uma história de amor

E Jesualdo, pergunta-se? «Tinha habilidade, mas não era dado ao contacto físico.» Ora um pouco como Pavão, aliás. «Ele era pequenino, mas muito tecnicista. Nessa altura até foi fazer um teste ao Benfica, mas disseram-lhe que precisava de comer sopa. Foi para o Porto, deram-lhe tripas e ele cresceu», conta João Neves.

João Neves era irmão de Pavão e lembra-se que a amizade deles cresceu nesses duelos. «Andavam sempre a jogar à bola. Iam para o descampado entre a Escola e o Liceu e jogavam a dinheiro. Faziam duas equipas, cada jogador entrava com 10 tostões e quem ganhasse ficava com o dinheiro. Para aí 10 escudos.»

Dois rapazes «engatatões»

A rivalidade não era só no futebol, de resto. Os dois partilhavam também a fama de... marialvas. «Aqueles jogos eram muito concorridos, juntavam-se as meninas todas para ver e o Jesualdo ficava todo vaidoso. Tinha a mania que era muito engatatão. Ainda por cima tinha vindo de África e era moreno», sorri Silvano Roque.

Um pouco como Pavão, aliás: a alcunha de Pavão veio de algum lado. «Um dia perguntei ao Jesualdo por que lhe chamavam Pavão, se o nome dele era Fernando das Neves. Ele disse que ele tinha um andar muito emproado, todo elegante e charmoso para cima das meninas. Parecia um pavão», conta Marília Pires.

E o futebol para sempre na vida deles

Ora a vida acabou por afastá-los. Pavão foi para o Porto, onde fez carreira nas Antas até uma morte trágica em pleno relvado. Jesualdo seguiu para Lisboa, onde cursou Educação Física e se fez treinador de futebol. Continuaram amigos, com regresso frequente a Chaves. E mantiveram o futebol na vida deles.

«O Pavão era doente por futebol. Por futebol, voleibol, andebol... Seguiu futebol porque naquela altura já permitia fazer vida», conta João Neves. «Os meus tios ficaram chateados por ele cursar Educação Física. Queriam que fosse médico ou advogado», diz Marília Pires. «.Mas ele não torceu. Era um vício.»

Um vício que veio da mãe. «Adorava futebol. Faleceu com cancro, na fase terminal ia a Lisboa fazer tratamentos e só se distraía com bola. O meu primo levava-a aos treinos ou aos jogos porque ela adorava aquilo. Quando era mais nova, levou o Jesualdo a ver um jogo do Eusébio. Foi aí que ele se apaixonou pelo futebol.»

Jesualdo e Chaves, uma história de amor com final marcada para o Jamor

Um dia, «há não muitos anos», Jesualdo Ferreira foi viver as festas à Mirandela natal. Como fazia regularmente, aliás. No dia seguinte acordou cedo e queria tomar café. Problema: os cafés tinham servido até tarde e fecharam de manhã. O técnico não se intimidou e disse que ia procurar um sítio aberto. Demorou horas.

Veja as fotos da época

Quando voltou, a pergunta obrigatória: onde foste?, questionou a prima Marília Pires. «Fui parar a Chaves», respondeu Jesualdo. Para os menos cientes de geografia, convém dizer que Chaves e Mirandela não ficam propriamente ao lado uma da outra: são 60 quilómetros de distância, por estradas antigas e muitas curvas.

«Ele tem um carinho enorme por Chaves. Gosta de Mirandela, claro, porque é a terra onde nasceu, mas tenho a certeza que gosta mais de Chaves. Foi lá que se fez homem. Viveu em Chaves dos 15 aos 20 anos, sempre sozinho, num quarto alugado, tornou-se independente, adulto e responsável», conta a prima.

A protecção da família do General Costa Gomes

A história já é de resto conhecida. Jesualdo regressou de Angola, foi viver com uns tios para Valpaços, que o enviaram para estudar em Chaves. «Foi lá que completou o antigo sétimo ano. Pelo meio ainda se mudou um ano para Aveiro, quando os pais regressaram de Angola, mas não se adaptou e voltou a Chaves», diz Marília.

O amor de Jesualdo por Chaves tornou-se evidente. O agora treinador do F.C. Porto vivia num quarto alugado na Casa do Seixas, na Rua do Sol, no centro da cidade, junto a outros estudantes. Ao fim-de-semana, quando conseguia boleia, voltava para junto da família: ora em Valpaços, ora em Mirandela.

Em Chaves vivia sob responsabilidade prestigiada: familiares do General Costa Gomes. «A minha tia era de boas famílias em Valpaços e conhecia muita gente.» Por isso entregou Jesualdo à família do general que viria ser o segundo Presidente da República pós-25 de Abril. Eram eles que zelavam pela educação.

O Desportivo e a paixão pelo futebol

Em Chaves, longe dos tios e da aversão que eles tinham pelo futebol, Jesualdo pôde desenvolver o maior prazer que tinha: a bola. O Sr. Albano conhece Jesualdo desde essa altura, ele que foi jogador e massagista do Desp. Chaves (está no clube há 52 anos), recordando «um jovem que era fanático por futebol.»

«Na altura era só mais um como muitos que vinha de Valpaços ou de Mirandela estudar aqui. Lembro-me que era bom rapaz e adorava futebol.» Por isso começou a jogar no Desp. Chaves. Foi lá que Albano o conheceu, quando Jesualdo representava os juniores. «Tinha algum jeito. Eu gostava de o ver jogar.»

Jesualdo sempre admitiu, porém, que não era um prodígio. Mas era apaixonado. «Ele ia para o Desportivo, terminava os treinos e ia ter com os amigos do liceu para jogar num descampado ao lado do Forte de S. Francisco. Muitas vezes tinham de fugir à polícia, eram outros tempos e não podia jogar-se em qualquer lado.»

O Nelo e os amigos para a vida

Em Chaves Jesualdo fez amigos para toda a vida. Amigos que o tratam como tratavam na altura: por Manel ou por Nelo. Na cidade transmontana quem o conheceu fala de um homem bom, a quem a fama não subiu à cabeça. «Mesmo depois de ir para Lisboa, vinha para cima nas férias e passava sempre por Chaves.»

Albano mantém o contacto com Jesualdo há quase 50 anos. «Mesmo anos mais tarde, quando trabalhava na Federação e no Benfica, eu ia a Lisboa com as selecções distritais sub-14 e ele fazia questão de ir ter comigo a Sintra.. Levava-me camisolas, jantavamos e metíamos a conversa em dia.»

«Chaves é especial para ele. Foi lá que se fez uma pessoa fantástica, trabalhadora e prezada em tudo. Quando voltou andava sempre tão arranjadinho que até parecia saído de uma caixa», conta a prima. Por isso domingo é especial. Jesualdo já defrontou o Chaves pelo Benfica e pelo Porto. Mas nunca no Jamor.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

F.C. Porto: José Gomes no banco, no local da troca com Jesus

O cenário desenhara-se para o clássico, mas Jesualdo Ferreira escapou com uma sanção pecuniária, face ao registo irrepreensível. Contudo, frente ao Benfica, o treinador foi novamente expulso. Dez dias de castigo, adjunto José Gomes a ganhar protagonismo, na última jornada, em Leiria.

José Gomes assume papel de destaque frente à União, cinco anos após uma aventura falhada no comando técnico da formação do Lis. O jovem treinador iniciou a temporada como timoneiro, acabando por abandonar o posto que viria a ser ocupado por Jorge Jesus. O actual técnico do Benfica guindou a equipa leiriense para o 7º lugar.

Sucessor de Carlos Azenha como número 2 na equipa técnica do F.C. Porto, José Gomes restabeleceu a parceira com Jesualdo Ferreira depois de um passado em comum no Benfica. O jovem prepador-físico chegou ao Estádio da Luz para trabalhar com Toni e Jesualdo, em 2001/2002. Colaboraria ainda com José António Camacho, na época seguinte.

Ao serviço do F.C. Porto, o técnico tem surpreendido os adeptos pelo seu entusiasmo ao longo dos encontros. Em Abril de 2009, com Jesualdo castigado, ganhou importância no banco, na eliminação da Champions frente ao Man. United (0-1). Neste sábado, será novamente ele a dar indicações na linha lateral, a falar com a imprensa, sempre sob orientação do treinador principal.

«É muito exigente e dedicado»

«Antes de mais, é preciso lembrar que o José Gomes irá apenas seguir as determinações de Jesualdo Ferreira, até porque o contacto durante o jogo é permitido. De certeza que estará preparado para isso, porque é uma das pessoas mais competentes que conheci no futebol», garante Vítor Campelos, colaborador de José Gomes nas experiências como técnico principal, no D. Aves, P. Ferreira, Leixões, U. Leiria e Moreirense.

José Gomes tem sentido a amargura da época azul e branca, protagonizando alguns casos que surpreenderam a opinião pública. No clássico com o Sporting, o técnico foi expulso a par de José Lima, após desentendimento ao intervalo. Frente à Académica, também não evitou uma troca azeda de palavras com Villas Boas. «Ele é muito exigente e dedicado, sempre foi assim. Quanto a isso, parece-me que o caso do Lima poderá ter a ver com algo do passado», explica Vítor Campelos.

«Tenho a certeza que o José Gomes cumprirá bem a sua missão. As pessoas recordam algumas coisas más do passado, esquecendo as boas. Em Leiria, por exemplo, foi despedido com cinco jornadas, com 16 jogadores que nunca tinham jogado na Europa. Era preciso tempo. Veio o Jorge Jesus e ainda aproveitou aquele trabalho. Ele teve sucesso no Leixões, por exemplo, e não só. E terá ainda mais no futuro», garante o preparador-físico, em conversa com o Maisfutebol.

«Sempre foi efusivo»

António Jesus, actual treinador do Tondela, deu a primeira oportunidade a José Gomes no futebol profissional. «Lembro-me que veio trabalhar para o P. Ferreira com 24 ou 25 anos. Tinha jogado futebol no Valadares, apenas, mas foi uma grande surpresa. É uma pessoa muito inteligente, com enorme base teórica e capacidade de aprendizagem prática», garante o técnico.

O experiente treinador recorda a postura de José Gomes no banco. «Sempre foi efusivo, mas fá-lo em defesa dos interesses do grupo. Gosta muito de ganhar e foi sempre assim, já desde que o conheço. É um excelente profissional, não foi feliz como treinador principal mas terá sucesso quanto tiver outra oportunidade», remata António Jesus, ao Maisfutebol.

Benfica tenta nova festa tardia: memórias de 2004/05

O Benfica entra na última jornada a um ponto do título. Agora, como em 2004/05, os corações encarnados batem com intensidade até ao derradeiro apito na competição. Desta vez, é o Sp. Braga a ameaçar pelo retrovisor, o Rio Ave a surgir como obstáculo real para a conquista desejada.

O cenário repete-se. Jesus falharia o objectivo com uma derrota e uma vitória do segundo classificado. Trapattoni encarou o mesmo quadro desportivo, numa corrida de trás para a frente. «E um plantel bem mais curto», recorda Álvaro Magalhães, então adjunto do treinador italiano.

No domingo, o Benfica recebe o Rio Ave. A festa está preparada, procurando desviar atenções do Nacional-Sp. Braga. «Em 2004 foi igual. A única diferença é que chegámos à frente mais perto do final. No nosso ano, quando fomos jogar com o Boavista, nem quisemos saber quanto estava o F.C. Porto. Sabíamos que só dependíamos de nós», lembra o actual técnico do Interclube de Luanda.

«Tentámos descontrair os jogadores»

Na época 2004/05, o Benfica isolou-se na liderança à penúltima jornada, vencendo o Sporting com um golo de Luisão. Bastava um empate no Bessa, frente a um Boavista já afastado da Europa. «Jogámos apenas pelo prestígio e brio profissional. Tínhamos perdido em Guimarães, onde o Carlos e o João Pinto foram expulsos. Nesse jogo com o Benfica também surgiram alguns casos, mas demos o melhor e podíamos ter vencido», considera Pedro Barny, antigo técnico dos axadrezados.

Simão Sabrosa colocou o Benfica em vantagem, na conversão de um castigo máximo (38m). Éder Gaúcho empatou, pouco depois. Os encarnados não conseguiram marcar novamente, mas a igualdade caseira do F.C. Porto, com a Académica, tranquilizava os adeptos que encheram o Estádio do Bessa.

«Nessa semana, não falámos muito. Aliás, tentámos foi descontrair os jogadores, apostando num trabalho mais psicológico. Pressão, já eles têm. Queriam todos ser campeões e festejar, como estes querem. Nesse ano foi mais difícil, tínhamos 13 ou 14 jogadores. Nesta altura, o plantel tem muitas alternativas, mesmo face às ausências», considera Álvaro Magalhães.

A direcção encarnada está optimista. Para a recepção ao Rio Ave, convidou todos os ex-campeões a marcar presença no Estádio da Luz, para participar na festa. Álvaro Magalhães não pode comparecer, devido aos compromissos do Interclube, mas espera festejar em Luanda. «Vou estar à frente da TV e aqui também há maioria de benfiquistas. Aliás, vários bairros tinham festas preparadas no fim-de-semana passado», rematou o técnico, em conversa com o Maisfutebol.

«É uma semana de solicitações»

Pedro Barny estava do outro lado. O antigo treinador do Boavista compreende a agitação em torno do Rio Ave, nos últimos dias. «É uma semana tensa, com muitas solicitações, muitas dúvidas. Há sempre tendência para analisar comportamentos. Basta ver o caso do Fábio Faria. É titular do Rio Ave, mas se jogar e correr mal, será criticado. Se não jogar, haverá críticas na mesma», lamenta.

«Não podemos controlar o grupo, durante a semana, porque eles podem sempre receber telefonemas, contactos pessoais, é difícil. Fazemos apenas o que a nossa consciência nos manda e, como profissionais, tentamos vencer. Foi isso que fizemos e podíamos ter conseguido», conclui Pedro Barny, em diálogo com o Maisfutebol.

Jesus barrou título ao F.C. Porto e...desceu

A época do último título encarnado não deixa grandes recordações a Jorge Jesus. O Moreirense, então orientado pelo técnico, esbracejava desesperadamente para evitar a descida e, a duas jornadas do final da Liga, recebia o F.C. Porto que ainda acalentava esperanças de chegar ao título.

Os dragões estavam atrás de Benfica e Sporting e comprometeram o «tri» na viagem a Moreira de Cónegos (1-1). O empate atrapalhou o F.C. Porto, mas também não ajudou muito o Moreirense, que veio a confirmar a descida na semana seguinte.

terça-feira, 27 de abril de 2010

F.C. Porto: Jesus regressa para vingar a festa do Penta

Jorge Jesus regozija-se pela época de sucesso do Benfica. O treinador colocou os encarnados no topo da Liga. Agora, prepara a visita a um F.C. Porto afastado da luta pelo quinto título consecutivo. Curiosamente, em 1999, Jesus era o treinador adversário na festa do Penta azul e branco.

As voltas do destino. Jesus regressa ao Porto para vingar essa presença indesejada na celebração dos dragões. O E. Amadora foi figurante numa festa sem paralelo no futebol português. Jesualdo queria repetir o feito na presente época. Benfica e Braga não o permitiram.

O F.C. Porto vinha de um empate em Alvalade (1-1), suficiente para libertar as rolhas do champanhe. Fernando Santos abandonara o Estrela para ser o «Engenheiro do Penta». Curiosamente, seriam os homens da Amadora a surgir pelo caminho, na última jornada do campeonato, em 1998/99.

Jorge Jesus, já satisfeito por ter conduzido a equipa da Reboleira ao 8º lugar, não conseguiu evitar o desaire nas Antas. Os dragões venceram em dia de celebração: 2-0, golos de Drulovic e Jardel. Onze anos depois, Jesus regressa com o firme objectivo de fazer a festa vermelha, em pleno Dragão. Um ponto chega. Se o Braga não vencer, até perder serve.

«Vencemos o Penta e falava-se no Hexa»

João Manuel Pinto recorda aquele dia com emoção. Com a camisola do F.C. Porto, inscreveu o seu nome numa página histórica do futebol português. «Era um ambiente muito festivo, com as Antas a abarrotar. Estávamos todos pintados, com máscaras, e naqueles momentos sentimos vontade de abraçar todos, amigos e até inimigos. Lembro-me que, na véspera, nem conseguimos dormir. Foi inédito, vencemos o Penta e já se falava no Hexa», recorda o antigo defesa, ao Maisfutebol.

Como adepto, avança no tempo para desejar o sucesso encarnado no Dragão: «Eu, sendo benfiquista como já admiti, gostaria de ver a questão do título decidida já, para permitir a festa na Luz, jogadores de caras pintadas logo de início, a entrar ao lado dos filhos. Mas acho que vai ser um jogo muito quente, sobretudo difícil para o árbitro. O Porto não vai querer o seu maior rival a festejar em sua casa»

«O problema do Porto foi perder dois grandes jogadores, Lucho e Lisandro, que encantavam o público português. O Benfica, pelo contrário, teve 22 jogadores a responder bem toda a época. O problema não foi o Jesualdo. Fui orientado por ele no Benfica e é um excelente treinador, com grandes resultados por onde passou», remata João Manuel Pinto, a partir da sua Academia em Tarouca, Lamego. A médio prazo, o antigo defesa espera ser treinador na Liga.

«Jesus chegou demasiado tarde a um grande»

Lázaro Oliveira estava do outro lado. Naquela tarde, ele e os outros jogadores do E. Amadora foram figurantes na festa azul e branca. «Lembro-me bem do jogo. Perdemos 2-0 com um ambiente fantástico nas Antas. Os jogadores do F.C. Porto entraram com as caras pintadas, algo que na altura estava a entrar em moda», começa por dizer o actual treinador do Penafiel.

«Estragar a festa ao rival? Não acredito que os jogadores do Porto tenham isso em mente. Isso é mais uma coisa do público. O Porto é tetracampeão, sabe que vai ter de passar o testemunho a Benfica ou Braga e, certamente, quererá fazê-lo com brilho», acrescenta.

Desse ano, Lázaro recorda o início da convivência com Jorge Jesus. Enfim, o homem que espera fazer, neste domingo, a sua festa no recinto portista. «Naquela altura já se notava que o Jesus tinha potencial para ir longe. Acho que ele chegou demasiado tarde a um grande. A prova está no campeonato fantástico que tem feito, não só por estar na frente, mas a nível exibicional. Se for campeão vai ser com todo o mérito. Algumas pessoas levantaram dúvidas quando ele foi contratado, por isso julgo que agora é justo destacá-lo», remata o técnico, em conversa com o Maisfutebol.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Manuel José: «Nuno Gomes e Mantorras? Tudo tem o seu tempo»

Nuno Gomes não marca há quatro meses e oito dias. A 12 de Dezembro de 2009, deu o empate ao Benfica frente ao Olhanense (2-2), próximo adversário na corrida pelo título. Mantorras continua em branco. Nem um minuto, na presente época. Dois nomes, um destino: torcer por fora.

Jorge Jesus orienta um plantel com qualidade acrescida, rodeando-se de opções entusiasmantes. Weldon passou a arma secreta, Kardec e Éder Luís chegaram em Janeiro para aumentar o número de sombras de Cardozo e Saviola.

Numa época, os crónicos salvadores do Benfica perderam quase todo o espaço nas fichas de jogo. Nuno Gomes e Mantorras vibram com o sucesso encarnado, sacrificando os objectivos pessoais.

Manuel José, que lançou o português no Boavista e orientou o angolano na selecção, considera que ambos devem acabar as carreiras no Benfica. Casos distintos, ainda assim.

«A idade não perdoa»

«Acho que um jogador com o passado do Nuno Gomes deve terminar num grande clube. Podia fazer como o Beckham, andar nos Estados Unidos, mas mais vale estar no Benfica do que andar a arrastar-se por aí», começa por dizer o técnico, ao Maisfutebol.

Nuno Gomes ainda deixou a sua marca, na primeira metade da época. 199 minutos na Liga, 3 golos. A segunda melhor média da competição, apenas superada pelo registo impressionante de Weldon, a aposta de Jesus. O português ainda marcou ao Bate Borisov, na Liga Europa. Em 2010, desapareceu.

Carlos Queiroz surpreenderá na lista para o Mundial? «De certeza que o Queiroz não o vai chamar. Lembro-me que, quando chegou, ele disse que o Nuno não contava. Depois, quando estava aflito, acabou por o chamar. Mas tudo tem o seu tempo, a idade não perdoa. O trajecto do Nuno está a acabar, apesar de ele provar que ainda é uma opção válida. Só que o Benfica tem agora mais soluções», lembra Manuel José.

«Mantorras vai sofrer a vida toda»

Pedro Mantorras tem 28 anos, menos cinco que o português. Contudo, os problemas físicos comprometeram definitivamente a carreira de um jogador com enorme potencial. «Lembro-me perfeitamente que, ainda na época passada, o Mantorras jogou 62 minutos e fez dois golos. Sempre foi eficaz.»

«Ele é um caso especial. Pelo futuro que perdeu, devido à lesão e à operação mal conseguida, deve terminar a carreira no Benfica», considera Manuel José, seu antigo técnico na selecção de Angola. O português antevê uma despedida a breve prazo. «Ele até pode acabar a carreira no final desta época, mas a lesão vai acompanhá-lo. O Mantorras vai sofrer a vida toda, vai ter muitos problemas», lamenta.

Na recta final da conversa com o Maisfutebol, Manuel José voltou a garantir que o seu futuro passa por novo projecto no estrangeiro. «Não houve contactos do Sporting. Como disse, o meu futuro passará pelo estrangeiro. Para já, ainda não há nada de concreto», rematou.

sábado, 10 de abril de 2010

Benfica: Urretaviscaya pode ser campeão em dois países

O Benfica está na frente da corrida para levantar o ceptro nacional. Na terça-feira, a formação encarnada procura dar um passo de gigante no clássico frente ao Sporting. Urretaviscaya, do outro lado do Atlântico, sorri com dupla felicidade.

O extremo rumou ao Uruguai por empréstimo, em Janeiro de 2010. Neste sábado à noite, com a camisola do histórico Peñarol, Urreta pode vencer o Torneio Clausura do país sul-americano. Enquanto isso, fica a torcer pelo Benfica de Jorge Jesus.

Apesar da insistência ao longo da semana, o jovem extremo manteve-se incontactável e, como tal, indisponível para comentar este tema e a realidade encarnada.

Brilhar apenas no clássico

Jonathan Urretaviscaya fez apenas um jogo na Liga 2009/10, mas bastou. Os adeptos encarnados foram surpreendidos com a exibição do veloz uruguaio no clássico frente ao F.C. Porto, resolvido com um golo de Javier Saviola (1-0).

O seu destino, contudo, já estava traçado. A 20 de Dezembro, empolgou frente aos dragões. A 12 de Janeiro, viajava para representar o Peñarol, por cedência até final da época. O avançado, com apenas 20 anos, quis acumular minutos para sonhar com o Mundial de 2010.

No campeonato uruguaio, Urreta marcou três golos, dois deles frente à anterior equipa, o River Plate de Montevideo. Neste sábado, o seu Peñarol defronta o Fenix, actual segundo classificado. Com sete pontos de vantagem e quatro jornadas por realizar, um triunfo determina um campeão antecipado.

Airton também pode festejar a dobrar

Urrestaviscaya terá um parceiro do festejo duplo, caso o Benfica garante a conquista do título português. Airton foi campeão no Brasil, pelo Flamengo, antes de rumar ao Estádio da Luz na reabertura do mercado. O jovem canarinho tem servido de alternativa a Javi Garcia, no plantel encarnado.

Entre os atletas cedidos pelo Benfica, Patric também luta por um troféu. Contudo, o lateral direito não chegou a alinhar na Liga portuguesa. Cedido ao Cruzeiro de Belo Horizonte, o jogador viria posteriormente a rumar ao Avaí, clube que lidera o Campeonato Catarinense.

Shaffer e Keirisson foram utilizados por Jorge Jesus na primeira volta da Liga, antes de serem encaminhados para outros destinos. O argentino foi emprestado ao Banfield, campeão na Abertura, actual 6º classificado no Torneio de Clausura. O avançado brasileiro, pertencente aos quadros do Barcelona, transitou para a Fiorentina, marcando apenas um golo em Itália.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Real-Barça: CR9 contra Messi, ou o duelo luso entre Pedro e Gugu

O Real Madrid recebe o Barcelona. Cristiano Ronaldo recebe Leo Messi. Por fora, duas promessas portuguesas travam um duelo de emoções. Pedro Marques cresce no Real C, Luís Gustavo (Gugu) está nos juvenis do clube catalão.

Na véspera do clássico do milénio, pomposa designação veiculada pela imprensa espanhola, o Maisfutebol confrontou dois nomes ainda desconhecidos do grande público. Também eles são Real Madrid e Barcelona, um futuro com olhos postos no presente.

Em igualdade pontual na tabela classificativa, «merengues» e «culés» agendaram um duelo de titãs para o Santiago Bernabéu. Nas manchetes, Real é apenas Ronaldo, Barça vive de Messi. Os dois melhores jogadores do Mundo na arena.

«Eu gosto mais de ver o Messi a jogar, é incomparável, faz coisas incríveis. Marcou quatro golos num jogo da Liga dos Campeões, frente a uma equipa como o Arsenal», atira Luís Gustavo, de 17 anos. Pedro Marques, de 22, responde de pronto: «Eu prefiro o Cristiano Ronaldo. É mais alto, mais forte, joga melhor de cabeça. É mais completo. E não é por ser português. Se fosse francês, dizia a mesma coisa.»

Pedro Marques e Luís Gustavo confirmam as suspeitas. Espanha vai parar para assistir ao Real-Barça. «Aqui, não se fala de outra coisa. É uma possibilidade única para o Real, que pode escapar com mais três pontos e garantir vantagem no confronto directo. É importantíssimo. As duas equipas estão muito fortes», diz o primeiro. «Em Barcelona, há uma grande expectativa, se bem que parece que a notícia é saber quem é melhor, Messi ou Ronaldo. O Messi não pode fazer tudo sozinho», lembra o segundo.

O F.C. Porto e a força de Ronaldo

Lançada a discussão, aqui fica a reapresentação dos artistas em formação. Pedro Marques passou pelos escalões de formação de Sporting, Académica e Naval 1º de Maio, antes de rumar ao Real Madrid, em 2006. Dois anos depois, assinou um contrato profissional com os «merengues», válido até 2011.

O médio português evolui no Real Madrid C e tem crescido com os conselhos de Cristiano Ronaldo. «Ele tem-me ajudado muito. Tive uma lesão no tornozelo na época passada e, no início da época, tive uma recaída, na mesma altura que ele. Ele deu-me força, estava sempre a perguntar-me se estava bem. Tem sido importante», revela.

Pedro Marques reconhece o afastamento da realidade portuguesa, mas não se mostra arrependido com a sua aposta. «Tem sido uma experiência muito boa. Quem já me viu jogar, sabe do meu valor. E espero, num futuro próximo, mostrar aos portugueses em geral o que valho. Tenho mais um ano de contrato e sonho jogar numa primeira liga», conclui.

Luís Gustavo nasceu em Braga. Aos cinco anos, foi para o Brasil com os pais. Aos 13, chegava a Barcelona. Apesar do sotaque canarinho, Gugu continua a sentir-se português, a manifestar o desejo de representar a selecção nacional. Médio, outrora ofensivo, agora transformado em pivôt.

«Aqui no Barcelona é uma posição importante, por onde passa todo o futebol. Sinto-me bem e quero continuar a crescer. Quanto ao Mundial, claro que ficarei um pouco dividido no jogo entre Portugal e Brasil, mas vou torcer pela selecção portuguesa. Quanto a clubes, nunca escondi que torço pelo F.C. Porto. Adoraria jogar lá um dia», remata Gugu.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Diário de Nuno Alves: uma semana no Liverpool atrás de um sonho

Os sonhos começam assim. Quase do nada. Num ápice, um grão de esperança ergue-se e gera uma nova realidade. As probabilidades extravasam a lógica, a ambição toma um papel decisivo na narrativa. É a isso que Nuno Alves se propõe e é essa a caminhada que o Maisfutebol vai acompanhar num diário muito especial.

O jovem algarvio inicia na próxima segunda-feira uma semana de treinos na Academia do Liverpool. Ao final de cada dia, escutaremos as impressões, os anseios, os desabafos de Nuno e passaremos tudo aos nossos leitores.

Quem é Nuno Alves? Tem 15 anos, joga nos iniciados do Esperança de Lagos e deu nas vistas num torneio inter-associações. O departamento de prospecção do Liverpool estava atento e lançou o repto. Nuno é o único português e faz parte de um restrito grupo 25 de candidatos, oriundos dos quatro cantos do planeta.

A viagem para a cidade dos Beatles está marcada para domingo. O adolescente vai sozinho. «Já não consigo pensar em mais nada», exclama Nuno Alves ao nosso jornal. «Acredito nas minhas capacidades. Vou fazer tudo, mesmo tudo, o que está ao meu alcance. Posso vir a ser jogador do Liverpool.»

É esta a ambição que Nuno quer demonstrar aos observadores dos reds e ao próprio Rafa Benítez. O técnico do plantel principal costuma seguir de perto este tipo de testes e faz questão de dar a sua opinião. «O que posso dizer sobre o Liverpool? É um clube famoso, carregado de títulos europeus e jogadores famosos.»

E o ídolo Steven Gerrard ali tão perto

Nascido em Tomar, Nuno Alves chegou com três anos ao Algarve. É sportinguista, chegou a fazer uns treinos nas escolinhas dos leões, mas só conheceu um clube até hoje: o Esperança de Lagos. É um médio-ofensivo de grande talento e um estudante exemplar.

«Ando no nono ano e tenho-me portado bem. Vou só uma semana para Inglaterra e espero voltar lá na próxima época. A família deu-me total apoio. O meu pai diz que é uma oportunidade única. A minha mãe está um pouco preocupado e só quer que tudo corra bem.»

Em Liverpool vai estar perto de um grande ídolo. «Adoro o Steven Gerrard, é um jogador completo», refere, cheio de vontade de conhecer Anfield Road, o mítico estádio do Liverpool. Na próxima quinta-feira, curiosamente, vai jogar lá o Benfica. «Eu chego alguns dias depois. É uma coincidência.»

Os clubes ingleses apostam cada vez mais na contratação de adolescentes. No Liverpool, por exemplo, está Toni Brito; o Chelsea tem Kaby e Mesca; em Old Trafford trabalhou Rico Gomes, agora no Stoke City. Rui Fonte, a jogar no V. Setúbal, passou alguns anos no Arsenal.

Agora é a vez de Nuno Alves. Este é o seu primeiro retrato. A partir de domingo, vai poder conhecê-lo muito melhor no diário publicado no Maisfutebol.

O outro Liverpool, com bifanas, peão e bilhetes «low-cost»

No plano futebolístico, a «cidade dos Beatles» divide-se entre o Liverpool FC e o Everton. Um facto sobejamente conhecido. O que muita gente não sabe é que o próprio Liverpool FC, próximo adversário do Benfica na Liga Europa, também sofreu uma cisão. Ligeira, mínima até. Esta será, aliás, uma forma abrupta demais para descrever o caso, mas a verdade é que existe um outro Liverpool, oriundo do original. Falámos do AFC Liverpool.

Provavelmente, o nome não dirá grande coisa à maior parte dos leitores. Mas os membros do clube consideram-se um «exemplo a seguir». A estória é, toda ela, curiosa. Um grupo de adeptos do Liverpool, o autêntico, revoltou-se contra as constantes subidas do preço dos lugares anuais e dos bilhetes dos jogos. A crise bate a todas as portas.

Ora, perante a impossibilidade de assistir a todos os jogos do Liverpool, qual a solução? Ficar em casa e ver pela televisão? Pura e simplesmente desistir do clube? Nada disso. Arredados de acompanhar o Liverpool, decidiram criar o seu próprio Liverpool. E assim, no ano de 2008, nasceu o AFC Liverpool.

O Maisfutebol conversou com Paul McCombs, um dos fundadores e actual vice-presidente, que explicou que o aumento do preço dos bilhetes não foi motivo único para a criação do novo clube.

«Queríamos dar aos adeptos do Liverpool uma alternativa à Premier League. Nós mantemos as tradições e a atmosfera que os adeptos do Liverpool puderam desfrutar ao longo de gerações. Há valores que se perderam com o tempo e queremos preservá-los», garante.

Um regresso, portanto, ao tempo do peão, das bifanas e dos animados convívios antes dos jogos.

«Falhámos a subida, mas ganhámos uma Taça»

O AFC Liverpool joga na sexta divisão inglesa, equivalente ao segundo escalão dos distritais em Portugal. Falámos, obviamente, da equipa sénior, uma vez que, ao todo, são 14 as equipas que o clube tem nos seus quadros, entre seniores, camadas jovens e futebol feminino. O apoio vai tendo algum peso.

«Nos piores jogos temos sempre 350 espectadores e, no melhor dos casos, chagamos aos 600. Há equipas de Ligas superiores que não conseguem estes números. E convém lembrar que muitos dos nossos adeptos continuam a assistir aos jogos do Liverpool FC», frisa.

Segundo Paul McCombs, os objectivos desportivos passam por chegar o mais longe possível na «pirâmide do futebol inglês». «No ano passado falhámos a subida, mas ganhámos uma Taça», afirma.

«Não queremos ser um clube político»

Apesar das raízes do AFC Liverpool estarem intimamente ligadas a uma cisão com o original Liverpool, os fundadores garantem não haver qualquer tipo de animosidade. «Não queremos ser um clube político. Não nascemos para destilar ódio contra os donos americanos do Liverpool, como acontece com os adeptos do Manchester United, por exemplo. Sabemos que o futebol se tornou um grande negócio e isso não se pode mudar. Mas há alternativas e nós queríamos arranjar uma. Foi o que fizemos», esclarece, reforçando, até, que o grande sonho da equipa seria «defrontar o Liverpool FC».

«Acho que somos um grande exemplo daquilo que se pode fazer quando se acredita que se é capaz. É preciso ter a certeza acerca das nossas convicções. Se o tivermos, depois é trabalhar», defende Paul McCombs.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

África do Sul: extrema-direita pronta para retaliar após «crime de ódio»

O homicídio de Eugene TerreBlanche, líder da extrema-direita sul-africana, deverá originar retaliações num futuro próximo, em vésperas do Campeonato do Mundo de 2010. Andre Visagie, o secretário-geral do Movimento de Resistência Afrikaner (AWB), deixou o aviso em declarações ao tvi24.pt.

A Federação Portuguesa de Futebol aguarda pelo desenrolar dos acontecimentos e não fará comentários públicos sobre o tema, segundo as informações recolhidas. Contudo, existem motivos de preocupação. A selecção nacional irá ficar alojada em Magaliesburg, a cerca de 100 quilómetros de Ventersdorp, localidade que serve de base à AWB.

«Estamos todos revoltados com este assassínio e iremos reunir-nos a 1 de Maio, em Pretória, para discutir as medidas a tomar. Os líderes do movimento não querem responder na mesma moeda, mas infelizmente não podemos garantir que outras pessoas o façam, face a esta morte», começou por dizer Visagie.

«Foi um crime de ódio»

As autoridades africanas garantem que Eugene TerreBlanche foi morto, na noite de sábado, devido a uma questão laboral. Dois trabalhadores negros da sua exploração agrícola, de 16 e 21 anos, espancaram o extremista branco, de 69 anos, com uma barra de ferro, até à morte. Em causa, supostos salários em atraso.

Andre Visagie e seus pares não acreditam na tese. «Uma pessoa vai ao quarto do patrão por salários em atraso? Vai discutir salários em atraso com uma barra de ferro? Por último, se quer receber, mata o seu patrão com essa mesma barra de ferro? Nós acreditamos que foi um crime de ódio», frisa.

«Esta morte surge dias depois das canções de ódio de Julius Malema, do Congresso Nacional Africano (ANC), incitando negros a matar brancos. Não podemos garantir que estes dois jovens que cometeram o assassínio estavam nas listas do partido, mas acompanhavam o mesmo», remata o secretário-geral do AWB.

Zona tensa no Mundial

Os líderes sul-africanos apelam à calma e união, a dois meses do Mundial. Em Ventersdorp, extremistas brancos juntam-se para prestar homenagem a Eugene TerreBlanche. A 1 de Maio, têm reunião marcada em Petrória, não em Joanesburgo, como foi aventado.

Magaliesburg, quartel-general de Portugal para o Campeonato do Mundo, está situado entre estas localidades. «Nós não vamos interferir com o Mundial. Posso deixar essa garantia. O que dizemos é isto: confiámos nas autoridades sul-africanas para proteger o nosso líder e ele foi morto com uma barra de ferro. Portanto, recomendamos que as selecções não confiem tanto nas autoridades como nós confiámos», diz Visagie.

«A selecção de Portugal vai ficar aqui perto? Bem, quanto a isso só posso dizer que Joanesburgo é uma das cidades mais perigosas da África do Sul. Ainda para mais, com um clima destes», conclui o dirigente do AWC, com serenidade na voz.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Peçanha e Helton, rivais unidos pela amizade e pelo pagode

Helton e Peçanha serão adversários no sábado, defendendo as balizas de F.C. Porto e Marítimo no Estádio do Dragão. Contudo, nada irá abalar uma amizade que se arrasta há mais de duas décadas. Os dois guarda-redes são vizinhos no Brasil.

São Gonçalo, município no Rio de Janeiro, viu nascer dois talentos para a defesa de redes, com ano e meio de diferença. Enquanto jovens, Helton e Peçanha eram rivais nos duelos entre Vasco da Gama e Flamengo. Uma imensa história em comum.

«É verdade, nunca me perguntaram sobre isso antes, mas já conheço o Helton desde pequeno. Só tenho a falar bem dele. Veja só: o Helton até colocou a sua banda (ndr. Toque Social) para tocar no meu casamento, como prenda», revela Peçanha, no início da conversa com o Maisfutebol.

A proveniência denunciou a cumplicidade. São da mesma cidade, têm idades semelhantes (31 para Helton, 30 para Peçanha) e cresceram a defender as balizas de dois históricos cariocas. Coincidências a mais. «Não o conheço de berço, mas desde muito jovem. Lembro-me de jogar contra ele, no Flamengo-Vasco», recorda.

Helton explodiu no Vasco da Gama, depois de tentar a sua sorte em clubes como o Fluminense e o Flamengo. Não foi colega de Peçanha por ter caído de uma árvore, depois de convencer os responsáveis do clube. Ficou com um coágulo na cabeça e teve a carreira em risco.

Reencontro em Portugal

Peçanha passou por emblemas de menor expressão, chegando ao P. Ferreira em 2005. Nessa altura, Helton trocava a U. Leiria pelo F.C. Porto. Hora de reencontro. «Quando estávamos próximos, fazíamos jantares, também com o Ibson, que nasceu na mesma cidade. Então, em 2007, quando eu casei, ele foi à cerimónia e decidiu oferecer a banda como prenda. Mais não posso contar», diz o actual guarda-redes do Marítimo, soltando um sorriso cúmplice.

O Maisfutebol revelou, em 2008, os dotes do titular portista ao piano. Helton leva de resto um violão para todo o lado, estágios incluídos, e patrocina uma banda de pagode, Toque Social.

O F.C. Porto-Marítimo permitirá novo reencontro, mas Peçanha descarta facilitismos. «Não quero que pensem que, por estar a contar isto, vou estar a facilitar. Nem falei com o Helton antes do jogo, não gostamos de perder a concentração. Vamos tentar surpreender o F.C. Porto», promete.

Helton, Eduardo e a sondagem portista

O guarda-redes brasileiro brilhou no P. Ferreira e chegou a ser apontado aos grandes. Agora, revela os contornos reais dos boatos: «No último ano do Paços, chegaram a falar-me do F.C. Porto, mas não apresentaram contrato. Isso passou, fui para a Grécia e agora quero continuar a ajudar o Marítimo, com quem tenho mais um ano de contrato.»

Aos 30 anos, Peçanha é um dos bons guarda-redes da Liga, recolhendo elogios da crítica. E para ele, quem são os melhores? A resposta sai curta, sem hesitações. «O Hélton é o melhor da Liga. Tem qualidade indiscutível, não tem nada a ver com a amizade. Os adeptos criticam de vez em quando, mas ele tem estado muito bem esta época. O melhor português? Eduardo. Sem dúvida. Merece a baliza da selecção de Portugal», remata, qual ponta-de-lança.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Português jogou na Moldávia e Malta: «Ia até ao Sri Lanka!»

Desarmante. O relato de Nimês Pina assemelha-se à crónica de um emigrante português a fugir da uma realidade terceiro-mundista, na década de 60. Formou-se no Estoril, passou para a III divisão e fez as malas. Passou por Moldávia, Roménia e Chipre. Agora, joga no ataque do campeão de Malta, o Hibernians.

«Se fosse o Cristiano Ronaldo, tinha de ter cuidado com o que dizia nas entrevistas. Mas não sou, posso dizer o que quiser. E contei-lhe tudo, mesmo que isso me prejudique», desaba o ponta-de-lança luso, de 27 anos, no final da entrevista ao Maisfutebol. Antes, revelara toda a sua humildade: «Ia até ao Sri Lanka, se me pagassem bem. Agora, jogar em Portugal para não receber, não vale a pena.»

Sabe onde é Malta, já agora? Antes de mais, é aquele país que nos dava uns pontos no Festival da Canção e sucumbia a goleadas nas fases de qualificação. Geograficamente, é uma ilha entre a Sicília e o Norte de África. Melhor que a Moldávia, onde Nimês Pina jogou duas épocas. «Bem, pelo menos aqui são mais civilizados, mais tranquilos. É um país turístico. Disso não me queixo», desabafa.

«Sou um ponta de lança rápido e agressivo, que sobe bem. Mais não digo, que não quero enganar ninguém», dizia-nos o português, em 2008. Por aqui se percebe a simplicidade do entrevistado. Quer apenas juntar um pé-de-meia, nas mais estranhas latitudes. No seu país, nunca teve a oportunidade.

«Isto aqui é Malta»

Nimês Pina chegou a Malta em Janeiro, após conversa com o amigo Mawete Júnior. «Fiz dois treinos à experiência. Ao terceiro dia, estava a jogar, com um contrato provisório. Sou um dos três estrangeiros, dos poucos profissionais. Mas isso traz problemas. Se algo corre mal, a culpa é dos estrangeiros», lamenta.

O avançado português não está completamente feliz. Nota-se na voz. Na Moldávia, conviveu com racismo. Agora, a situação melhorou, mas não totalmente. Fez um golo, foi expulso, marcou outro golo.

A expulsão? «Foi por agressão. Tive um defesa que me marcou de forma muito dura, durante todo o jogo. Dava-me e dizia: não estás no teu país, isto aqui é Malta. Ainda hoje tenho uma cicatriz. Nos últimos minutos de jogo, fartei-me, saltei de braços abertos e acertei-lhe. É pena, tinha marcado na única vitória do Hibernian no play-off», relata.

«Falham treinos e jogos»

O cenário é desolador. Entre os profissionais, misturam-se jogadores malteses que repetem comportamentos típicos dos distritais lusos. «Faltam aos treinos e ainda no último jogo, houve um que ficou chateado com o treinador e não apareceu. É incrível. Mas também tenho colegas que jogam na selecção e falam-me de Portugal. Dizem: olha, certa vez só perdemos por 1-0!»

Nimês Pina assinou até final da época, com outra de opção. Marcou dois golos em nove jogos, mas o Hibernians ocupa o último lugar no play-off final. «O campeonato tem duas fases. Quero jogar bem até final da época e depois logo se vê. Gostava de jogar em Portugal, mesmo numa II Liga, desde que pagassem. Preciso de juntar algum dinheiro para o futuro. Por isso, vou andando cá por fora», remata. Qual será o próximo destino?