terça-feira, 6 de abril de 2010

O outro Liverpool, com bifanas, peão e bilhetes «low-cost»

No plano futebolístico, a «cidade dos Beatles» divide-se entre o Liverpool FC e o Everton. Um facto sobejamente conhecido. O que muita gente não sabe é que o próprio Liverpool FC, próximo adversário do Benfica na Liga Europa, também sofreu uma cisão. Ligeira, mínima até. Esta será, aliás, uma forma abrupta demais para descrever o caso, mas a verdade é que existe um outro Liverpool, oriundo do original. Falámos do AFC Liverpool.

Provavelmente, o nome não dirá grande coisa à maior parte dos leitores. Mas os membros do clube consideram-se um «exemplo a seguir». A estória é, toda ela, curiosa. Um grupo de adeptos do Liverpool, o autêntico, revoltou-se contra as constantes subidas do preço dos lugares anuais e dos bilhetes dos jogos. A crise bate a todas as portas.

Ora, perante a impossibilidade de assistir a todos os jogos do Liverpool, qual a solução? Ficar em casa e ver pela televisão? Pura e simplesmente desistir do clube? Nada disso. Arredados de acompanhar o Liverpool, decidiram criar o seu próprio Liverpool. E assim, no ano de 2008, nasceu o AFC Liverpool.

O Maisfutebol conversou com Paul McCombs, um dos fundadores e actual vice-presidente, que explicou que o aumento do preço dos bilhetes não foi motivo único para a criação do novo clube.

«Queríamos dar aos adeptos do Liverpool uma alternativa à Premier League. Nós mantemos as tradições e a atmosfera que os adeptos do Liverpool puderam desfrutar ao longo de gerações. Há valores que se perderam com o tempo e queremos preservá-los», garante.

Um regresso, portanto, ao tempo do peão, das bifanas e dos animados convívios antes dos jogos.

«Falhámos a subida, mas ganhámos uma Taça»

O AFC Liverpool joga na sexta divisão inglesa, equivalente ao segundo escalão dos distritais em Portugal. Falámos, obviamente, da equipa sénior, uma vez que, ao todo, são 14 as equipas que o clube tem nos seus quadros, entre seniores, camadas jovens e futebol feminino. O apoio vai tendo algum peso.

«Nos piores jogos temos sempre 350 espectadores e, no melhor dos casos, chagamos aos 600. Há equipas de Ligas superiores que não conseguem estes números. E convém lembrar que muitos dos nossos adeptos continuam a assistir aos jogos do Liverpool FC», frisa.

Segundo Paul McCombs, os objectivos desportivos passam por chegar o mais longe possível na «pirâmide do futebol inglês». «No ano passado falhámos a subida, mas ganhámos uma Taça», afirma.

«Não queremos ser um clube político»

Apesar das raízes do AFC Liverpool estarem intimamente ligadas a uma cisão com o original Liverpool, os fundadores garantem não haver qualquer tipo de animosidade. «Não queremos ser um clube político. Não nascemos para destilar ódio contra os donos americanos do Liverpool, como acontece com os adeptos do Manchester United, por exemplo. Sabemos que o futebol se tornou um grande negócio e isso não se pode mudar. Mas há alternativas e nós queríamos arranjar uma. Foi o que fizemos», esclarece, reforçando, até, que o grande sonho da equipa seria «defrontar o Liverpool FC».

«Acho que somos um grande exemplo daquilo que se pode fazer quando se acredita que se é capaz. É preciso ter a certeza acerca das nossas convicções. Se o tivermos, depois é trabalhar», defende Paul McCombs.

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