quarta-feira, 31 de março de 2010

Português jogou na Moldávia e Malta: «Ia até ao Sri Lanka!»

Desarmante. O relato de Nimês Pina assemelha-se à crónica de um emigrante português a fugir da uma realidade terceiro-mundista, na década de 60. Formou-se no Estoril, passou para a III divisão e fez as malas. Passou por Moldávia, Roménia e Chipre. Agora, joga no ataque do campeão de Malta, o Hibernians.

«Se fosse o Cristiano Ronaldo, tinha de ter cuidado com o que dizia nas entrevistas. Mas não sou, posso dizer o que quiser. E contei-lhe tudo, mesmo que isso me prejudique», desaba o ponta-de-lança luso, de 27 anos, no final da entrevista ao Maisfutebol. Antes, revelara toda a sua humildade: «Ia até ao Sri Lanka, se me pagassem bem. Agora, jogar em Portugal para não receber, não vale a pena.»

Sabe onde é Malta, já agora? Antes de mais, é aquele país que nos dava uns pontos no Festival da Canção e sucumbia a goleadas nas fases de qualificação. Geograficamente, é uma ilha entre a Sicília e o Norte de África. Melhor que a Moldávia, onde Nimês Pina jogou duas épocas. «Bem, pelo menos aqui são mais civilizados, mais tranquilos. É um país turístico. Disso não me queixo», desabafa.

«Sou um ponta de lança rápido e agressivo, que sobe bem. Mais não digo, que não quero enganar ninguém», dizia-nos o português, em 2008. Por aqui se percebe a simplicidade do entrevistado. Quer apenas juntar um pé-de-meia, nas mais estranhas latitudes. No seu país, nunca teve a oportunidade.

«Isto aqui é Malta»

Nimês Pina chegou a Malta em Janeiro, após conversa com o amigo Mawete Júnior. «Fiz dois treinos à experiência. Ao terceiro dia, estava a jogar, com um contrato provisório. Sou um dos três estrangeiros, dos poucos profissionais. Mas isso traz problemas. Se algo corre mal, a culpa é dos estrangeiros», lamenta.

O avançado português não está completamente feliz. Nota-se na voz. Na Moldávia, conviveu com racismo. Agora, a situação melhorou, mas não totalmente. Fez um golo, foi expulso, marcou outro golo.

A expulsão? «Foi por agressão. Tive um defesa que me marcou de forma muito dura, durante todo o jogo. Dava-me e dizia: não estás no teu país, isto aqui é Malta. Ainda hoje tenho uma cicatriz. Nos últimos minutos de jogo, fartei-me, saltei de braços abertos e acertei-lhe. É pena, tinha marcado na única vitória do Hibernian no play-off», relata.

«Falham treinos e jogos»

O cenário é desolador. Entre os profissionais, misturam-se jogadores malteses que repetem comportamentos típicos dos distritais lusos. «Faltam aos treinos e ainda no último jogo, houve um que ficou chateado com o treinador e não apareceu. É incrível. Mas também tenho colegas que jogam na selecção e falam-me de Portugal. Dizem: olha, certa vez só perdemos por 1-0!»

Nimês Pina assinou até final da época, com outra de opção. Marcou dois golos em nove jogos, mas o Hibernians ocupa o último lugar no play-off final. «O campeonato tem duas fases. Quero jogar bem até final da época e depois logo se vê. Gostava de jogar em Portugal, mesmo numa II Liga, desde que pagassem. Preciso de juntar algum dinheiro para o futuro. Por isso, vou andando cá por fora», remata. Qual será o próximo destino?

Benfica-Liverpool: Torres volta à casa de partida

A ascensão meteórica de Fernando Torres está indiscutivelmente ligada a Portugal. Não ao Estádio da Luz, onde joga quinta-feira com a camisola do Liverpool. Mais para Sul. Em 2001 o avançado espanhol foi o melhor jogador e o melhor marcador do Torneio do Algarve, em Sub-16. A partir daí nada foi igual.

É o próprio Torres que, no seu site oficial, recorda a importância da competição portuguesa. No Algarve recuperou o tempo perdido. A (então) promessa do At. Madrid tinha sido operada ao joelho esquerdo alguns meses antes, e queria conquistar uma vaga no Europeu de sub-16. Em Fevereiro agarrou o lugar, com uma grande prestação no Torneio do Algarve. «Já tinha as características que apresenta actualmente», recorda Silveira Ramos, que na altura era o seleccionador português de sub-16.

«El Niño» foi campeão europeu em Maio, na Inglaterra. Mais uma vez foi o melhor jogador e o melhor marcador. Nessa altura recebeu uma chamada de Paulo Futre (lá está a ligação a Portugal), que lhe comunicou que ia começar a trabalhar com a equipa principal do At. Madrid. A estreia aconteceu ainda nesse mês de Maio, frente ao Logroñes.

A presença no Torneio do Algarve foi, por isso, o palco da «explosão» de Fernando Torres. «Já era um jogador muito participativo. Não era especialmente forte a driblar, mas evidenciava-se pela participação no jogo», lembra Silveira Ramos.

O ex-técnico da Federação Portuguesa de Futebol recorda um rapaz loiro que encarava o jogo com grande seriedade: «Não sorria muito em campo. Já era muito adulto a jogar. Já marcava a diferença, pois pensava o jogo durante noventa minutos. Nunca se alheava. A consistência dele era anormal, para a idade.»

À boleia de «El Niño», até à Vila das Aves

Fernando Torres dominou por completo a 24ª edição do Torneio do Algarve. Foi o melhor jogador e o melhor marcador da prova. A Espanha arrecadou o troféu, igualmente. A caminhada vitoriosa arranca com um triunfo sobre a Inglaterra (2-1), uma goleada à Finlândia (4-0) e um empate com Portugal (1-1).

Nesse duelo ibérico, disputado em Portimão (27 de Fevereiro) esteve Hugo Ferreira. O guarda-redes do Desp. Aves era então titular dos sub-16 lusos. Assim que o Maisfutebol lhe fala em Fernando Torres, solta uma resposta: «Sim sim. Marcou-me um golo no Algarve. Foi um cruzamento da esquerda e ele concluiu na área.»

A memória parece não atraiçoar. É sinal de que o nome do avançado espanhol ficou gravado. «Era tecnicamente muito evoluído, para a idade. Já se notava que era um jogador acima da média.»

O contacto do Maisfutebol desperta saudosismo em Hugo Ferreira. Em 2001 também ele era uma promessa do Boavista, titular da baliza dos sub-16 portugueses. Nove anos depois é suplente do Desp. Aves. «Não me deram oportunidades no Bessa. Esse foi o problema. Infelizmente é isso que acontece com muitos jovens», reclama. «Podia ter tido mais sorte, e ter chegado a outro patamar», acrescenta.

Hugo Ferreira lamenta a falta de oportunidades, mas não esquece os erros cometidos na primeira pessoa. «Logo após o torneio do Algarve tivemos dois jogos decisivos no apuramento para o Europeu de sub-16. Goleámos a Macedónia em Aveiro (4-0), e depois jogámos com a Bélgica em Santa Maria de Lamas. Bastava o empate para a qualificação, mas perdemos (0-1). Perdi a cabeça. Fui expulso, ao cometer uma grande penalidade. Saltei a uma bola, daquelas em que os guarda-redes se protegem com o joelho. O árbitro entendeu que fui com a perna levantada. Depois ainda fiquei a discutir. Atirei areia aos suplentes belgas», recorda.

«Os erros pagam-se caros. A federação castigou-me. Ainda estive para ir ao Europeu de sub-19, algum tempo depois, mas lesionei-me a poucos dias da prova.»

sábado, 27 de março de 2010

Amador explica: como ganhar fama e chegar a um clube de topo

Greg Akcelrod é um bom malandro. No fundo, balança naquela linha ténue entre as omissões e as mentiras. Ele jogou no Paris Saint-Germain, mas nos amadores. Esteve no Tigres da Argentina, mas apenas para treinar. Junta-se o currículo a alguns toques na bola e temos um amador transformado em craque.

Na semana passada, contámos a história do francês que quase enganou o CSKA de Sófia. As credenciais, alheadas ao contacto de um empresário, convenceram o clube búlgaro a oferecer um período de testes. Até que um adepto desconfiou e tentou saber quantos jogos Akcelord fez no Parque dos Príncipes. Nenhum, pois então.

«Eu não enganei ninguém. Tenho o meu site pessoal, onde refiro que passei pelo Paris Saint-Germain, mas não está lá escrito que foi na primeira equipa. Cheguei ao CSKA para treinar e a verdade é que eles gostaram de mim. O Penev, que jogou em Espanha, era o treinador e deu o seu aval. Por isso é que já queriam assinar contrato. Só que depois a imprensa veio dizer que eu era um impostor», desabafa Greg, em conversa com o Maisfutebol.

Greg Akcelrod nasceu em Paris, há 27 anos. Sempre teve o sonho de jogar ao mais alto nível. Faltaram-lhe as oportunidades. Como tal, o avançado francês decidiu criá-las. «Nunca joguei nas camadas jovens. Em 2006, estive na segunda divisão de Gales, no Cwmbran Town. Quando voltei a França, pedi para treinar na terceira equipa do PSG. Acabei por assinar, mas para jogar na sexta divisão. Ainda assim, sempre acreditei que chegaria ao topo», atira.

O leitor interroga-se. Afinal, este amador merece sequer ser notícia? Akcelrod conquista-nos pela sua ambição, pela criatividade para atingir um fim que ocupa o imaginário de vários jovens futebolistas. Do futebol de rua, para a Liga dos Campeões.

«Certo dia, conheci um empresário que me levou a treinar no Tigres, da Argentina. Até joguei num particular contra o Redondo», garante. Terá jogado mesmo? «Bem, eu fui para treinar, para me ambientar e assinar contrato para a época seguinte. Mas depois acabei por vir embora.»

«Currículo não interessa»

Com algum talento nos pés e outro tanto nas palavras, Greg Akcelrod chegou ao CSKA de Sófia, clube com maior historial da Bulgária e crónico candidato às competições europeias. Após dois dias de treinos, pediram-lhe para tirar uma fotografia e ser anunciado no site oficial do clube. Anunciado como um ex-craque do Paris Saint-Germain, claro está: «Os jornais do dia seguinte disseram que o CSKA estava a cometer um erro incrível, que eu era uma farsa e acabei por vir embora. Mas eles tinham gostado de mim. É uma questão de talento, ou se tem ou não. O currículo não interessa.»

Nos últimos meses, graças a um erro que atingiu proporções mundiais, o avançado francês multiplicou-se em entrevistas. Não joga, não treina em nenhum clube, mas continua a alimentar o sonho: chegar a um emblema de topo. Para ganhar a vida, enquanto não abre a porta certa, trabalha como figurante. E deixa a promessa. «Em breve, estarei a jogar na Liga de Espanha». Quer apostar?

sexta-feira, 19 de março de 2010

Jesus: fez-se treinador no Algarve com «golpe de capoeira»

A história do treinador Jorge Jesus começa no Algarve, em 1990. Duas décadas depois, ele volta à região para disputar o primeiro grande título da carreira. A final da Taça da Liga, entre Benfica e F.C. Porto, será disputada a dois passos de Almancil, última etapa de Jesus/jogador.

Mário Wilson Filho, óbvio descendente do Velho Capitão, relata a história com amargura. Torce pelo Benfica e pelo sucesso do seu treinador, mas não foge ao que diz ser a verdade dos factos: «Houve um golpe de capoeira, mesmo.»

«Sou benfiquista e acho que o Jesus é o melhor técnico português, a seguir ao José Mourinho. Mas é verdade e não há volta a dar. Ele era o jogador fundamental do Almancilense, fazia o meu papel de treinador dentro do campo, e desapareceu para ir treinar o Amora, rival na subida de divisão. Ele subiu, nós não, ficámos na III Divisão. Foi assim», desabafa, ao Maisfutebol.

«Nunca mais falámos»

Jorge Jesus era um jogador talentoso. Sobretudo na vertente táctica. Passou por Olhanense e Farense, terminando a carreira no modesto Almancilense. Motivos naturais para recuperar essa história. Polémica, segundo o antigo companheiro de Jesus.

Mário Wilson Filho foi colega de equipa do Farense e reencontrou Jesus em Almancil. «Chegámos a partilhar casa em Faro. Mais tarde, quando soube que se tinha gorado a possibilidade de ele ir para o estrangeiro, falei ao nosso presidente e o Jesus veio para o Almancilense. Era o meu primeiro ano de treinador e o último dele como jogador. Ou veio a ser, como mais tarde percebeu-se», relata.

«Estávamos em primeiro lugar e o Jesus era capitão de equipa, uma voz de comando num plantel formado por jovens. Certo dia, comunicou ao presidente que ia treinar o Amora, nosso adversário na subida. Nem falou comigo. Isso foi há 20 anos e nunca mais falámos. Fomos jogar ao Amora, perdemos 1-0 e não o cumprimentei. Como disse na altura, foi um golpe de capoeira. O resto guardo para mim. É um excelente treinador, quero o melhor para o meu Benfica e pronto», remata o antigo jogador do Benfica.

Terceiro português a pensar no título

Jorge Jesus recorda o episódio. Diz que foi abordado por dirigentes do Amora, quando nem pensava em ser treinador. «Acho que essa subida foi fundamental para alicerçar a carreira do Jesus», brinca Mário Wilson Filho. Até hoje.

Curiosamente, Jesus ambiciona repetir um feito de Mário Wilson, o pai. Pode ser o terceiro treinador português a vencer o título nacional no Benfica, depois do Velho Capitão e de Toni: «O meu pai foi o primeiro e, através dele, conheci de perto muitos treinadores. Por isso digo com sinceridade: excluindo o Mourinho, Jesus é o melhor técnico português que por aí ainda.»

A conversa termina com um ponto de situação do pai, abalado com o falecimento da esposa em Janeiro de 2010, e recordações de uma carreira mal gerida do Filho. «Estive no Benfica, com Mortimore e o meu pai, mas só aproveitava o que Deus me deu. Tecnicamente, era dos melhores. Infelizmente, levei sempre o futebol como uma brincadeira. Fui treinador, mas depois daquele episódio no Almancilense não mais fui feliz. Agora, temos a Escola de Futebol Mr. Wilson, da família. E torço pelo Benfica», conclui, em tom saudosista.

Toni: «Sou benfiquista mas vou torcer pelo Liverpool»

Toni Brito Silva e Sá saiu do Benfica para jogar no Liverpool. O Maisfutebol contou-lhe parte da história do jovem médio, actualmente com 16 anos, no dia em que o sorteio da Liga Europa ditou um duelo encarnado.

Conheça a promessa que trocou o Benfica pelo Liverpool

Ao final da tarde, foi a vez do jogador falar com o nosso jornal, apresentando-se aos portugueses numa entrevista similar a uma história de vida. Toni está no Liverpool, Mesca e Baky no Chelsea. Todos nascidos na Guiné-Bissau, criados em Portugal e internacionais pela nossa selecção. Agora, crescem no futebol inglês.

Antes de mais, como chegou até ao Liverpool?
«Fiz a pré-época com o Fulham, entretanto fizemos um jogo-treino frente ao Liverpool, eles gostaram de mim e, passados dois dias, estava a treinar no Liverpool. Assinei contrato profissional e aqui estou.»

Mas também foi cobiçado pelo Chelsea?
«Sim, estive vários meses no Chelsea, na época passada, mas estava inscrito pelo Benfica e o Benfica pedia muito dinheiro pelo meu passe, acho que 300 mil euros. Então voltei para Portugal, deixámos o tempo passar e assim, como terminou a época, ficou mais fácil. Vim para o Fulham para servir de ponte para o Chelsea, mas entretanto surgiu o Liverpool.»

Voltando atrás, em que clubes jogou em Portugal?
«Vim da Guiné com a minha mãe, para a Damaia. Quando cheguei, nem falava português. Corria na rua, corria muito, até que encontrei uns miúdos a treinar, no Damaiense. Voltei a casa e pedi para me levarem lá. O treinador foi excelente, porque entendeu que eu não falava português e sempre me deu todo o apoio.»

Entretanto saiu para o Real Massamá?
«Sim. Antes houve o interesse do Sporting e cheguei a estar três dias na Academia, em Alcochete, só que o Damaiense pedia muito dinheiro por mim. Fiquei e só saí no final da época. Estive três meses no Real Massamá e de lá fui para o Benfica.»

Como foi esse tempo no Benfica?
«Gostei muito de lá estar, sempre fui benfiquista, mas foi complicado. No início do segundo ano, queriam que assinasse o contrato de formação e, como eu não o fazia, proibiram-me de jogar. Em Dezembro, recebi o BI português e fui chamado à selecção, mas o Benfica não me deixou. Então, cheguei a pegar nas minhas coisas e ir para casa.»

Mas chegou à selecção mais tarde. Porquê Portugal?
«Nasci na Guiné, a minha mãe é de lá, mas o meu pai é português. Portanto podia escolher. E para mim é melhor estar na Europa, jogar por Portugal. Sinto-me português.»

Agora sente-se feliz?
«Muito mesmo. Assinei contrato profissional com o Liverpool e treino com os sub-16 ou os sub-18. O mister é espanhol portanto ajudou-me muito, na linguagem. Em Portugal, eu jogava como médio ofensivo em 4x3x3. Eles aqui jogam todos em 4x4x2. Então comecei por ser extremo esquerdo, mas entretanto experimentaram-me como segundo avançado, marquei dois golos e convenci.»

Está num centro de estágio do Liverpool?
«Não, aqui em Inglaterra é diferente, não há centros para os jovens ficarem. Os clubes preferem meter os jovens em casas de famílias. É o que está a acontecer comigo. Depois, o centro de treinos dos jovens é muito longe do centro dos seniores, mas já fui ao estádio do Liverpool e adorei. Passei o jogo a filmar os adeptos, não o jogo. Isto é um sonho.»

E por quem vai torcer, no Benfica-Liverpool?
«Ora bem, espero que me percebam. Em Portugal sempre disse que era benfiquista. Ainda por cima joguei lá. Sou benfiquista mas vou torcer pelo Liverpool. Estou cá agora e sempre torci pelo clube em que jogo. Portanto, estarei pelo Liverpool, nesses jogos.»

Toni: conheça a promessa que trocou o Benfica pelo Liverpool

Toni Brito Silva e Sá. Já ouviu falar dele? Se tudo correr pelo melhor, irá vê-los nos grandes palcos a médio prazo. Para já, fica o retrato possível do miúdo de 16 anos que trocou o Benfica pelo Liverpool. Rivais da Liga Europa, por sinal.

«O Toni veio da Guiné Bissau e estava a jogar no Damaiense. Assinou pelo Real Massamá dias antes de fazer 14 anos. Em Janeiro do ano seguinte, foi para o Benfica. É um médio esquerdino, com enorme poderio físico e visão de jogo. O talento está lá, mas é cedo para dizer se vai explodir ou não», resume Luís Neves, responsável das camadas jovens do Real, ao Maisfutebol.

O Benfica resgatou o jovem talento em Janeiro de 2008. Toni esteve nos iniciados do clube da Luz e preparava-se para o primeiro ano de juvenil, quando surgiu o interesse de emblemas britânicos. «O Chelsea chegou a negociar o Toni, mas depois ele foi para o Liverpool. Fizemos um acordo com o Benfica e iremos receber 10 por cento de todos os rendimentos futuros relativos ao Toni. Para já, ainda não recebemos nada», explica Luís Neves.

O Liverpool integrou o jovem médio nos seus quadros, antes de Toni assinar contrato de formação com o Benfica. A transferência levantou alguma polémica, mas o clube inglês acabou por negociar um pagamento por objectivos. Aos 16 anos, Toni procura o seu espaço em Inglaterra. «Temos esperança nele. Também apostámos no Nani e acredito que o Nani será dos melhores do Mundo em dois anos. Só tenho pena de termos ficado com apenas 5 por cento de uma futura transferência», conclui o dirigente.

Magia dos talentos africanos

Nascido na Guiné-Bissau, Toni chegou a Portugal para singrar no futebol e já integra a selecção lusa de sub-17. África continua a fornecer talentos precoces e os gigantes europeus estão atentos.

O Chelsea perdeu este médio esquerdino mas tem Mesca e Kaby, dois jovens com raízes africanas e internacionais por Portugal. «Há sempre alguma desconfiança em relação aos jovens que vêm de África, relacionadas com a sua idade, mas como provar isso? Quando à sua qualidade, fica dependente da evolução a médio prazo», lembra João Couto, antigo treinador de juvenis de Benfica e Sporting.

«No caso do Toni, acabei por estar pouco tempo com ele. Ele vinha para os juvenis, fez alguns treinos e jogos de pré-época, mas era a altura em que teria de assinar contrato de formação e acabou por desaparecer, saiu para o Liverpool. Tudo levava a crer que teria um bom futuro. É um médio ofensivo, que joga com o pé esquerdo, se bem que o direito não é cego», recorda o técnico.

As incertezas da juventude

João Couto apresenta um currículo louvável. Pelas suas mãos, passaram grandes craques, outros que se perderam ao atingir a idade adulta. No final da última época, o Benfica não renovou o seu contrato. O professor dedica-se à sua profissão, enquanto espera pelo regresso ao banco de suplentes.

«Fui sempre bem tratado no Benfica. São opções, se calhar por eu ser sportinguista, não sei. Sempre fui visto dessa forma. Estive no Sporting, sou sportinguista, mas agora também não teria grandes hipóteses lá, uma vez que estive no Benfica. Enfim, resta esperar», reconhece o técnico.

Enquanto espera, recorda os talentos que surgiram no seu caminho. «O melhor, já explodiu: Cristiano Ronaldo. Também o Hugo Viana, o Carlos Martins, agora o Daniel Carriço. O Varela surgiu mais tarde. Outros, como o José Semedo, o Edgar Marcelino, o Paulo Sérgio ou o Fábio Paim, não atingiram o mesmo patamar. No futuro do Benfica, posso destacar o Nélson Oliveira, por exemplo. Resta saber como todos os jovens se desenvolvem, é muito incerto», remata João Couto, em conversa com o Maisfutebol.

Deco: «ser português» e a despedida da selecção após o Mundial

«Fui apenas sincero». Deco, com a simplicidade de sempre, desvaloriza a polémica criada em torno das suas declarações recentes. «Sou brasileiro e não consigo ver a minha vida sem Portugal, amo Portugal por tudo aquilo que me deram, mas seria incapaz de dizer que sou português, porque não o sou», disse o médio, recentemente.

Em entrevista ao Maisfutebol, o jogador do Chelsea esclarece a questão, lembrando que sempre deu o máximo com as cores da selecção nacional: «Quem leu bem, quem viu a entrevista, percebeu o que eu disse. Disse apenas que não sou português, não nasci em Portugal, tal como outros jogadores que representaram a selecção.»

«Nesta geração mais jovem, não se nota tanto, mas há vários exemplos de jogadores que nasceram noutros países que não Portugal. Os próprios jornais descrevem-me como luso-brasileiro. Eu nasci no Brasil, cresci no Brasil, mas escolhi jogar pela selecção de Portugal», reforça o médio ofensivo.

Deco abre o coração, sem nunca levantar a voz. Está tranquilo, ciente do que disse e do que sente. «É o que eu sinto, não percebo a polémica. Ninguém me obrigou a jogar pela selecção portuguesa. Eu podia ter-me naturalizado português, era um direito meu, e não jogar pela selecção. Mas fiz essa escolha e vou dar o meu melhor no Mundial, se for convocado», remata. Ponto final na questão.

«Despeço-me depois do Mundial»

Aos 32 anos, Deco encara o futuro com serenidade. O final aproxima-se e tem contornos definidos. «Já decidi, despeço-me da selecção quando acabar o Mundial. No Euro2012, já teria 34 ou 35 anos, acho que não teria condições para jogar ao melhor nível. É uma decisão natural, chega o momento em que temos de dar o lugar aos mais jovens», reconhece.

O médio ofensivo continua a pensar numa aventura no futebol brasileiro. O Corinthians abre-lhe as portas, «Nesta altura, é melhor não falar muito sobre isso. Tenho o sonho de jogar no Brasil, mas para já tenho contrato com o Chelsea e estou concentrado no clube», garante, ao Maisfutebol.

«Seria importante para o F.C. Porto vencer o Benfica»

Deco, em entrevista ao Maisfutebol, deixou uma palavra de incentivo para os jogadores do F.C. Porto, em vésperas da final da Taça da Liga. O médio do Chelsea salienta a importância de um triunfo frente ao Benfica, histórico rival.

«Para o Porto, seria importante, uma vez que na Liga tem poucas hipóteses de chegar ao primeiro lugar. O Benfica também está bem, acho que vai ser um grande jogo», considera o jogador, que não esquece a sua passagem por Portugal, as alegrias com a camisola azul e branca.

Deco: «ser português» e a despedida da selecção após o Mundial

O F.C. Porto está na terceira posição da Liga e os adeptos questionam a continuidade de Jesualdo Ferreira. Deco evita falar em final de ciclo, mas reconhece que os indícios apontam nesse sentido «É natural, acontece com todas as equipas grandes, por vezes surge a sensação de um final de ciclo. Quando isso acontece, pensa-se logo em mudanças. Mas se vai acontecer ou não, não sei», diz.

O médio ofensivo centra atenções no Chelsea, na ressaca da despedida da Liga dos Campeões, frente ao Inter de Mourinho. «Foi uma derrota dura, não esperávamos, mas o Inter já tinha conquistado um bom resultado na primeira mão. Falhámos mais uma vez na Liga dos Campeões», desabafa

Deco falhou os últimos compromissos do Chelsea, devido a limitações físicas. Apesar das incertezas em torno do seu futuro, o luso-brasileiro garante que está concentrado nos objectivos imediatos dos «blues». «Eu já me sinto bem fisicamente e quero agora ajudar o Chelsea a chegar ao primeiro lugar da Premier League, é esse o nosso pensamento agora», conclui, em conversa com o Maisfutebol.

quarta-feira, 17 de março de 2010

F.C. Porto: vitória frente ao Benfica será dedicada a Mariano

O F.C. Porto já encontrou a fórmula ideal para motivar os seus jogadores, na preparação do escaldante confronto com o Benfica, na final da Taça da Liga. O plantel azul e branco está determinado a conquistar o troféu para dedicar a Mariano González.

O argentino, um dos capitães de equipa, contraiu uma lesão grave no jogo com a Académica. Entrou em campo e sucumbiu minutos depois, ao tentar fazer um desarme. Resultado: rotura total do ligamento cruzado anterior do joelho direito. Seis meses de paragem.

Mariano González não poderá dar o seu contributo ao F.C. Porto até final da época, mas serve de factor motivacional para o grupo. Apesar de não reunir consenso entre os adeptos, o extremo marcou golos importantes (frente a Man. United e Sporting, por exemplo) e é apreciado pelo seu companheirismo e profissionalismo.

Os jogadores ficaram sensibilizados com o drama pessoal de Mariano e decidiram, de acordo com as informações recolhidas pelo Maisfutebol, que um eventual triunfo frente ao rival Benfica será dedicado exclusivamente ao companheiro de equipa.

Mariano está remetido a tratamento no Olival, enquanto espera pela cirurgia. O regresso aos relvados está agendado para o início da próxima época.

F.C. Porto: Miguel Lopes quer «meter o Di María no bolso»

Miguel Lopes conquistou a titularidade no F.C. Porto e deve ser a escolha de Jesualdo Ferreira para o lado direito da defesa, na final da Taça da Liga. O lateral português irá defrontar o Benfica, clube que o dispensou em 2006.

«Vai ser um jogo especial para o Miguel, porque esteve na equipa B do Benfica, foi emprestado no ano seguinte e acabou por sair de vez. Ele quer provar que merecia ter ficado no Benfica», começa por dizer Nuno Lopes, extremo do Boavista e irmão gémeo de Miguel.

O jogador do F.C. Porto cresceu em Chelas, no seio de uma família de adeptos do Sporting, e já passou pelo Benfica. Um trajecto curioso.

Nuno revela o estado de espírito de Miguel. O defesa surgiu no onze após a desastrosa exibição de Fucile no Emirates Stadium, frente ao Arsenal. «O Miguel está confiante, fez uma boa exibição contra a Académica. Não errou uma única vez. Contra o Olhanense, não esteve tão bem, mas é preciso ver que ele não tinha ritmo. Agora está melhor», defende, em conversa com o Maisfutebol.

«Contra a Académica, o Miguel provou que merece a oportunidade. Espero que ele seja titular frente ao Benfica e já se está a preparar para esse jogo. Ele anulou o João Ribeiro, da Académica, e agora quer meter o Di María no bolso. É mesmo assim. Não o pode deixar virar-se, tem de estar sempre em cima. Ele está preparado para isso», assegura Nuno Lopes.

Miguel Lopes estuda o flanco esquerdo do Benfica. Fábio Coentrão, um velho amigo, deverá ocupar um lugar nesse corredor. Um encontro de antigos colegas no Rio Ave. «Ainda não falaram sobre este jogo, mas eles eram amigos no Rio Ave e continuam a falar um com o outro, de vez em quando», explica.

«O Fucile tem uma boa relação com o Miguel»

O lateral direito chegou ao F.C. Porto sem grande pompa. Contraiu uma lesão e ficou na sombra de Fucile. Agora, o cenário mudou. «Eles trocam conselhos, falam muito. Mesmo quando o Miguel estava de fora, o Fucile incentivava-o, ajudava-o. É tudo uma grande família», diz Nuno.

Contudo, Miguel Lopes espera agarrar a oportunidade e arrancar para uma bela recta final de temporada. «Ele tem melhorado muito em termos defensivos. Contra a Académica, não subiu tanto como costuma fazer. Percebeu que tem de ser essa a prioridade. Agora, está nas suas mãos segurar o lugar. Só depende dele», remata o extremo do Boavista.

Aos 23 anos, o irmão gémeo do lateral portista espera recuperar o tempo perdido e chegar ao mesmo patamar que Miguel. «É uma questão de oportunidade. Esta época está a correr bem. Fiz várias assistências e já marquei cinco golos. Vamos ver», remata, em jeito de promessa.

terça-feira, 16 de março de 2010

Vencedores da primeira Taça mundial renascem...138 anos depois

138 anos depois. A 16 de Março de 1872, o Wanderers Football Club vencia a primeira Taça do futebol mundial. O fenómeno conquistava adeptos em Inglaterra, berço da modernidade no desporto. A FA Cup veio para ficar. Até hoje.

Em dia de aniversário da primeira final da Taça de Inglaterra (FA Cup), o Maisfutebol redescobriu os Wanderers, renascidos após uma hibernação secular. O clube, orgulhosamente vestido de dourado e rosa, conquistou cinco dos primeiros sete troféus disputados. Chelsea e Everton, por exemplo, ainda não superaram essa marca.

Os Wanderers nunca perderam uma final. Chegavam a Kennington Oval, casa do cricket emprestada para o emergente desporto da bola no pé, e não falhavam. A palavra espalhou-se pelo Mundo. O conceito de Taça, competição a eliminar, propagou-se e perdurou no tempo.

«Queremos honrar o passado»

O emblema londrino desapareceu em 1887. Quinze anos após a primeira conquista, os Wanderers tombavam ao peso do seu nome. Um Wanderer é um viajante, alguém sem residência fixa. Os jogadores vinham das escolas locais. Estas criaram as suas próprias equipas e esgotaram os recursos naturais do primeiro vencedor do futebol mundial.

138 anos depois da histórica final da FA Cup, os Wanderers estão de volta. Um grupo de amigos tenta honrar o passado e recuperar a imagem do clube. A 15 de Maio, irão defrontar os Royal Engineers, finalistas vencidos nesse remoto ano de 1872.

«Já tínhamos uma equipa de amigos até que decidimos falar com a neta de um dos fundadores dos Wanderers, pedindo autorização para utilizar o nome do clube. Queremos honrar o seu passado e também angariamos fundos para a UNICEF. Estamos a começar, mas gostaríamos de entrar na FA Cup dentro de dois ou três anos», explica Mark Wilson, um dos fundadores dos novos Wanderers, ao Maisfutebol.

Levantar a taça com duas vitórias

O futebol encanta biliões de pessoas mas teve parto difícil. Em Inglaterra, tudo girava em torno do cricket. Em 1871-1872, a FA Cup arrancou com apenas 15 equipas. Dessas, três acabariam por desistir.

Os Wanderers levantaram o troféu com duas vitórias na competição. «Havia muito pouco interesse no futebol, nessa altura. Até para definir as regras, foi complicado. Mas nada apaga o mérito daquela conquista», considera Mark Wilson.

Os Harrow Chequers, primeiros adversários na prova, não compareceram. Na segunda ronda, os Wanderers venceram os Clapham Rovers (3-1). Seguiu-se o Crystal Palace, com um empate a redundar na qualificação das duas equipas.

Nas meias-finais, o Queens Park da Escócia ainda surgiu para um nulo, mas não teve dinheiro para disputar o jogo de desempate. Caminho aberto para a final. Em Kennington Oval, perante dois mil espectadores curiosos, Morton Betts marcou o único golo da final e derrubou os Royal Engineers. Momento histórico.

Isaías não esquece Benfica: «Chuta à vontade, Cardozo!»

Isaías não esquece a sua passagem pelo Benfica. O brasileiro marcou 71 golos com a camisola encarnada, o melhor registo entre os atletas sul-americanos que passaram pela Luz. Oscar Cardozo ameaça, com 66 tentos, mas Isaías não fica desiludido.

«Sinceramente, não sabia que eu tinha essa marca. Mas por mim, não me importo nada que o Cardozo chegue aos 71, 72, ou até que chegue aos 100 golos. É sinal que o Benfica seria campeão, isso é o mais importante. Chuta à vontade, Cardozo», diz Isaías, através do Maisfutebol.

O ex-avançado vive em Cabo Frio, onde ensina miúdos a jogar futebol e aproveita os jogos de veteranos para combater a obesidade. Enquanto isso, torce pelo clube que lhe deu maiores alegrias em Portugal. «Cardozo parece-me ser um bom jogador, do que tenho visto, também remata forte, mas só com o pé esquerdo, não é?», interroga, sem perder tempo: «Pois eu rematava com os dois, de todo o lado.»

«Sei que o Benfica está muito forte, este ano. Tem jogadores de grande qualidade e penso que só irá perder o campeonato se acontecer algo de anormal. O Braga está muito bem também, mas não é equipa grande, ainda não tem estrutura para aguentar até ao final», vaticina o antigo jogador.

«Sou benfiquista desde que assinei contrato»

Isaías chegou ao Benfica em 1990. Jogou no Rio Ave, cresceu no no Boavista e teve, recorda, vários convites em cima da mesa: «Sou benfiquista desde que o Major (ndr. Valentim Loureiro) me colocou três propostas à frente e eu escolhi aquela. As outras? Eram do Porto e do Sporting. Também escolhi o Benfica pelos jogadores brasileiros de grande nível que tinha na altura.»

«Fui muito feliz no Benfica e só lamento uma coisa: aquilo que Artur Jorge fez quando chegou. Aquilo não foi uma limpeza, foi mesmo estragar tudo o que havia de bom no clube. Por isso é que o Benfica esteve dez anos sem ganhar o título», considera.

«Os três primeiros remates iam sempre para fora»

Isaías esteve cinco temporadas na Luz. Pegava na bola e chutava. Ganhava balanço, procurava a bola e chutava de novo. De novo, de novo. Até acertar. «Os três primeiros remates iam sempre para fora, mas eu acabava sempre por acertar. Lembro-me de um jogo, com o Farense, em que estávamos a perder 1-0 e o Rufai estava a ser o melhor em campo. Lá marquei dois golos e demos a volta», diz, entre sorrisos.

Em 1995, com 71 golos no registo pessoal (Cardozo contabiliza 66, na terceira época de águia ao peito), o brasileiro partiu para o Coventry City, regressando posteriormente para jogar no Campomaiorense. «Marquei bons golos. Lembro-me desse Benfica-Farense, depois de um muito bom num Campomaiorense-Sp. Braga. E claro, quando vencemos o Arsenal, para surpresa de todos, em Londres», recorda.

Isaías não resiste à provocação. Benfiquista como diz ser, teria de aproveitar o momento para espicaçar o rival. «Vencemos o Arsenal em Londres, onde o Porto apanhou agora cinco, não foi? Eu também lhes costumava marcar uns golos, tinha esse hábito de marcar nos jogos grandes», remata o brasileiro, bem ao seu jeito.

Isaías quer o filho no Benfica: «Ele herdou o meu pé canhão»

Um novo Isaías na forja. O antigo avançado do Benfica garante que o filho, chamado Isaías Júnior, tem potencial para dar novas alegrias aos adeptos encarnados. «Ele herdou o meu pé canhão», avisa.

Aos 46 anos, Isaías Marques Soares ensina miúdos em Cabo Frio e espera pela oportunidade para regressar a Portugal. Objectivo: colocar o seu sucessor no Benfica. «Ele nasceu em Portugal, é português e quer jogar no Benfica. O seu sonho é fazer dupla com o Cristiano Ronaldo», explica.

«O Isaías Júnior tem o mesmo pontapé forte, mas claro que ainda lhe faltam outros aspectos. Só completou há pouco tempo o seu 18º aniversário. Mas se conseguir fazer metade que o pai fez em Portugal, já seria bom demais. Em Janeiro, ia levá-lo para treinar no Benfica. Não deu, mas será em breve», promete.

Isaías não esquece Benfica: «Chuta à vontade, Cardozo!»

«Vou torcer por Portugal no Mundial»

O ex-jogador de Boavista, Benfica e Campomaiorense sorri ao recordar o passado. Antes de Deco, Pepe ou Liedson, pensou-se em Isaías para a selecção de Portugal. A empatia perdurou no tempo.

«Chegou a falar-se nessa possibilidade, mas depois não se concretizou. Eram tempos diferentes, hoje é mais fácil. De qualquer forma, nunca mais esqueço o carinho dos portugueses. Vou torcer por Portugal no Mundial. Não torço contra o Brasil, mas espero que Portugal vença o Mundial», garante.

Enquanto espera pelo certame na África do Sul, Isaías combate o ócio em Cabo Frio. «Tenho os meus negócios, a escolinha de futebol e aproveito todas as oportunidades para jogar. Quando se tem bola no pé, não se pode parar. Na carreira, joga-se muito e come-se muito. Se parar depois, começa a inchar. Tenho o mesmo peso que tinha antes. Esperem para ver. Vou aí para colocar o meu filho no Benfica. Se não for lá, será noutro clube», finaliza Isaías, em entrevista ao Maisfutebol.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Três dias e um pesadelo em Londres

Hornby: fanático do Arsenal nomeado para os Óscares
http://www.maisfutebol.iol.pt/horas-vagas/oscares-arsenal-an-education-fever-pitch-nick-hornby/1145174-1478.html

Boa Morte e o Arsenal-F.C. Porto: «Está exactamente a 50-50»
http://diario.iol.pt/noticia.html?id=1145525&div_id=4062

Arsenal-F.C. Porto: «Árbitro esteve pior que Fabianski no Dragão»
http://diario.iol.pt/fcporto/arsenal-fc-porto-fabianski-martin-wiesner-maisfutebol/1145322-1304.html

Figura do Arsenal tira jogadores do vício há uma década
http://diario.iol.pt/noticia.html?id=1145580&div_id=4062

Arsenal-F.C. Porto, contra os canhões, marcar, marcar!
http://diario.iol.pt/noticia.html?id=1145621&div_id=4062

Brian Deane: «Fui muito feliz mas o Benfica era uma novela»
http://www.maisfutebol.iol.pt/benfica/brian-deane-benfica-arsenal-maisfutebol/1145681-1456.html

Brian Deane: «Aposto no 2-0, Porto não é bom fora»
http://www.maisfutebol.iol.pt/fcporto/brian-deane-fc-porto-arsenal-maisfutebol/1145685-1304.html

Arsenal aquece: destaque a Fernando e esmola para desconfiar
http://diario.iol.pt/noticia.html?id=1145867&div_id=4062

Emirates: a Luz, uma ferradura e o feng shui que guia Wenger
http://diario.iol.pt/fcporto/arsene-wenger-balneario-arsenal-ferradura-feng-shui-maisfutebol/1145718-1304.html

Arsenal-F.C. Porto, 5-0 (crónica)
http://www.maisfutebol.iol.pt/desporto/arsenal-cronica-fc-porto-maisfutebol-futebol-iol/1145905-4062.html

Arsenal-F.C. Porto, 5-0 (destaques)
http://diario.iol.pt/fcporto/destaques-fc-porto-maisfutebol-futebol-iol-arshavin/1145906-1304.html

Denilson revela: «Hulk estava bravo mesmo, estava danado»
http://www.maisfutebol.iol.pt/fcporto/arsenal-fc-porto-denilson-maisfutebol-futebol-iol/1145922-1304.html

Nuno André Coelho: «O mister já me vinha a falar disto há algum tempo»
http://www.maisfutebol.iol.pt/desporto/arsenal-fc-porto-maisfutebol-futebol-iol-nuno-andre-coelho/1145923-4062.html

Sabia? A Premier League nunca teve um vencedor inglês
http://www.maisfutebol.iol.pt/inglaterra/howard-wilkinson-maisfutebol-inglaterra/1146176-1488.html

Premier League: «Estrangeiros dão espectáculo com ingleses a ver»
http://www.maisfutebol.iol.pt/desporto/howard-wilkinson-wilkinson-maisfutebol-futebol-iol-inglaterra/1146175-4062.html

Veja três pérolas americanas que já caíram na rede de Wenger
http://www.maisfutebol.iol.pt/desporto/wellington-silva-arsenal-galindo-wenger-fc-porto/1146425-4062.html

F.C. Porto e Fucile ridicularizados pelos jornais ingleses
http://www.maisfutebol.iol.pt/fcporto/fc-porto-arsenal-imprensa-bendtner-maisfutebol/1145991-1304.html

Inglaterra morre de saudades de Mourinho
http://www.maisfutebol.iol.pt/desporto/jose-mourinho-inglaterra-chelsea-inter/1146595-4062.html

Paulo Ferreira e o Chelsea-Inter: «Todos querem ver Mourinho»
http://www.maisfutebol.iol.pt/desporto/paulo-ferreira-chelsea-mourinho-jose-mourinho-inter-maisfutebol/1146737-4062.html

Paulo Ferreira e os bigodes: «Íamos ser gozados no Mundial»
http://www.maisfutebol.iol.pt/desporto/paulo-ferreira-maisfutebol-entrevista-mundial-bigodes/1146822-4062.html

Paulo Ferreira, 31 anos: «Penso terminar a carreira no Chelsea»
http://www.maisfutebol.iol.pt/inglaterra/paulo-ferreira-entrevista-chelsea-maisfutebol/1146852-1488.html

Paulo Ferreira chegou a capitão: «Falta um título na selecção»
http://www.maisfutebol.iol.pt/inglaterra/paulo-ferreira-maisfutebol-seleccao-mundial-entrevista-chelsea/1146853-1488.html

Paulo Ferreira e Fucile: «Não é só um jogador o responsável»
http://www.maisfutebol.iol.pt/fcporto/paulo-ferreira-maisfutebol-chelsea-fucile-fc-porto-entrevista/1146854-1304.html

terça-feira, 2 de março de 2010

Coelho: do Porto ao Inter, do Benfica à bancada do Paços

Ponto prévio: José Manuel Barbosa Alves, Coelho no mundo do futebol, fala com uma desenvoltura mental imprópria para um miúdo de 20 anos acabadinhos de fazer. É craque nas palavras, talento enclausurado com a bola nos pés.

Passou por F.C. Porto, Inter de Milão e Benfica. Agora é reserva do Paços de Ferreira.

«Quando se acaba de fazer uma casa, percebe-se que podia ter sido feita de outra forma melhor. Há coisas de que me arrependo na minha carreira, até ao momento, mas acredito que tenho um bom futuro pela frente», atira, em entrevista ao Maisfutebol.

Nos relvados, ele dribla, simula, avança em curva-contra-curva por entre adversários. No discurso não. Pensa, reflecte e solta ideias próprias, moldadas num passado recente com demasiados altos para o actual baixo.

Foi emprestado pelo Benfica no início da época, fez cinco jogos como suplente utilizado em Paços de Ferreira e eclipsou-se.

A formação pacense visita o Estádio da Luz mas José Coelho não sonha. Já o fez demasiado. Com Ulisses Morais, deixou de ser opção. A partida de Paulo Sérgio para Guimarães coincidiu com o seu ocaso na Mata Real. «Sabia que ia ser complicado, até porque fui o único jogador nascido em 90 e emprestado pelo Benfica a uma equipa da Liga.»

Três colossos na rotunda de Paços

José Coelho surgiu no P. Ferreira, segundo avançado com 175 centímetros. Em 2001, rumou ao F.C. Porto, onde explodiu.

«Fui muito feliz no Porto, foi o melhor período que tive enquanto jogador, na minha carreira. Há pouco tempo, fui jogar lá para a Liga Intercalar e fui muito bem recebido. Quem sabe bem a história, sabe que a culpa de sair do Porto não foi só minha», lembra.

Em 2006, o jovem internacional português recebeu um convite do Inter de Milão. Fez o que quase todos fariam. Aceitou. O F.C. Porto contestou a transferência e venceu a causa. Coelho pagou uma factura pesada. Ficou um ano sem jogar.

«Penso que o Inter pagou. A Federação italiana assumiu a culpa, interpretou mal uma carta da FIFA, mas fui eu o principal prejudicado», desabafa.

Nos juvenis do Inter de Milão, partilhou quarto e ataque com Mario Balotelli. Regressaria a Portugal para jogar no Benfica. Passou pelos juniores e retornou à casa de partida neste defeso. O seu Paços de Ferreira abriu as portas, para uma época de promessas por cumprir.

«No início do ano, disse que esta época seria o fim do meu purgatório. Infelizmente, isso não está a acontecer. Resta-me esperar e trabalhar, porque depois da tempestade, vem a bonança. Em Janeiro houve possibilidade de sair de P. Ferreira, mas as pessoas disseram-me que a segunda volta ia ser diferente. Não tem sido, tenho de respeitar», resume Coelho.

O indomável Balotelli e Pablo Aimar, o maior de todos

Coelho recupera memórias com classe. Enumera talentos, compara estilos, relata histórias como jornalista ou escritor. É jogador de futebol. Passou por F.C. Porto, Inter de Milão e Benfica. Agora, tenta encontrar o seu espaço no Paços de Ferreira.

Folheando o livro de memórias, tantas para um jovem de apenas 20 anos, encontram-se referências vincadas a Mario Balotelli e Pablo Aimar. Duas gerações, dois talentos incomparáveis. Em entrevista ao Maisfutebol, José Alves «Coelho» garante que nunca viu nada parecido com aqueles dois.

«Joguei com o Balotelli nos juvenis do Inter de Milão. Era o meu colega de quarto e, sim, sempre teve um feitio muito complicado. Mas atenção: é bom rapaz. Diz as coisas, tem o coração quase fora da boca, mas depois reflecte e vem pedir desculpas», começa por relatar.

Balotelli, o homem que mantém uma relação de amor-ódio com José Mourinho, já sabia que iria chegar ao topo. Marcava golos atrás de golos, saltava etapas na formação. Quando era criticado, respondia tão depressa como responde por estes dias: «Andávamos na mesma escola e, sempre que lhe diziam alguma coisa, ele respondia sempre o mesmo: Daqui a uns anos, vais ver, ainda te vais arrepender de dizer isso.»

O avançado chegou ao topo. Coelho continua à procura de um espaço. Os dois amigos mantém o contacto e o jogador português revela que Balotelli sempre quis trabalhar com Mourinho.

«Falei com ele no início da época e disse-me que adorava trabalhar com Mourinho, os treinos sempre com bola. Em Itália não costuma ser assim, é muito físico. Sempre vi que Balotelli ia longe. Joguei contra a Espanha do Bojan, o Brasil dos irmãos Silva (Man. United) e do Lulinha (Estoril) e ninguém tinha tanto talento como o Balotelli», garante.

«Aimar é o melhor jogador com quem tive contacto»

Agora, o Benfica, próximo adversário do P. Ferreira na Liga. Coelho não deve ser utilizado no Estádio da Luz, palco que já pisou em jogos da equipa júnior e em treinos esporádicos no plantel principal. Lá, encontrou Pablo Aimar, «o maior de todos».

«Nos treinos, surpreendia-me sempre a qualidade do Aimar, para além do Di María. O Aimar é mesmo espantoso. No Inter, os jogadores do plantel principal vinham treinar connosco quando estavam a recuperar de lesões, mas mesmo entre esses nunca vi ninguém a jogar melhor que Aimar. É o melhor jogador com quem tive contacto», garante.

Coelho salienta ainda um trio de benfiquistas, enquanto deseja boa sorte aos encarnados para a recta final do campeonato.

«Em termos de integração, tenho de destacar o David Luiz, o Ruben Amorim, o Nuno Gomes. Sempre preocupados em integrar os jovens, em fazer-nos sentir bem. Espero voltar no futuro, mas sou realista, sei que muito dificilmente integrarei o plantel principal na próxima época», remata o avançado

segunda-feira, 1 de março de 2010

Viver no mar: um pequeno passo para a liberdade

Já imaginou viver em alto mar, numa sociedade formada de raiz, sem leis impostas pelo Governo que o leva ao desespero? Eles já. Nas últimas décadas, multiplicaram-se projectos de aproveitamento do espaço marítimo para uma vida em liberdade. O tvi24.pt partiu à procura de novos Mundos no Mundo.

O Sealand surge como ponto de partida nesta aventura. Um projecto maltrapilho, em alicerces já erguidos pelo homem e reinventados por um grupo que chegou a reclamar o estado de Nação. Surgiu em 1967 e garantiu a sua independência durante mais de quatro décadas. Até hoje. Tornou-se uma referência, por isso mesmo.

Aproveitando a ausência de leis rígidas em Águas Internacionais, grupos de pessoas tentam e tentaram criar plataformas habitacionais para alcançar a liberdade. Gente que já tentou comprar terras para viver em comunidade, sem conseguir fugir às amarras das leis urbanas. Excêntricos, milionários, visionários, há de tudo. E vieram para ficar.

Uma lei com espaço por explorar

Ao longo das últimas décadas, os países alargaram a sua soberania com um conceito de mar territorial (22 quilómetros desde a costa) e outro de zona de controlo económico (370 quilómetros). Decorem o primeiro número.

Lembram-se da Women on Waves? A organização sem fins lucrativos fixou-se em águas fora do controlo territorial de Portugal para informar e proceder a abortos legais. Nesse espaço, uma embarcação deve obedecer às leis do país que apresente na bandeira hasteada. Em suma, é esta encruzilhada legal que os futuristas da vida no mar pretendem aproveitar, numa primeira fase.

Projectos falhados e destruídos

A ideia não é nova. O Sealand, como foi explicado, surge como única referência sustentável no passado recente. Desde sempre, aliás. Um grupo ocupou uma plataforma britânica abandonada após a II Guerra Mundial, fora de águas territoriais. Inglaterra tentou recuperar o espaço mas desistiu por ordem judicial. O seu controlo não abrangia aquelas águas. Sealand perdurou e reivindica o estatuto de estado soberano. Não reconhecido, claro está.

Esta bandeira de liberdade inspirou centenas de pessoas e prepare-se para ser confrontado com várias tentativas num futuro próximo. O Instituto Seasteading é um projecto a médio prazo que está a despertar muito interesse da comunidade internacional. Sobretudo desde que Peter Thiel fez um investimento. Este norte-americano, inventor do sistema Paypal, foi o primeiro a acreditar no potencial do Facebook, por exemplo. Com o sucesso conhecido.

Rosas com espinhos

Por cada ideia concretizável, contabilizam-se dezenas de utopias. O Freedom Ship, por exemplo, é um projecto ambicioso. Um navio com 1400 metros de comprimento, 230 metros de largura e 110 metros de altura, população residente e uma autonomia para estar no mar sem depender de terceiros. Ainda não saiu do papel.

Nesta panóplia de projectos futuristas, surgem relatos da ganância de homens e poderes. A Ilha das Rosas merece uma menção honrosa. Nos anos 60, o engenheiro Giorgio Rosa montou uma plataforma com 400 metros quadrados, a 11 quilómetros da costa de Rimini, Itália. Tinha um restaurante, uma loja e um banco, por exemplo. Em 1968, declarou independência, mas foi rapidamente invadida pelo governo transalpino, por alegada fuga aos impostos, quando já estava atolada de turistas. Seria destruída dias depois. Preocupante.



Viver no mar: Sealand, o projecto viável do passado

Na viagem pelos projectos de vida em alto mar, Sealand surge como referência incontornável. Apresentou-se ao Mundo em 1967 e subsiste até aos dias de hoje. Tem um Príncipe e demais herdeiros. Moeda, selos, hino e constituição. É um país. Ou seria, se alguém o reconhecesse como tal.

O Reino Unido abandonou uma base naval após a II Guerra Mundial, a 11 quilómetros da costa. O excêntrico Roy Bates aproveitou. Ocupou o espaço em 1967 para projectar uma rádio pirata e ficou. Foi ficando até hoje. Tanto que Sealand, aliás Principado de Sealand, é apresentado pelos próprios como um Estado independente de facto. Mais à frente, perceberão porquê.

O governo britânico ainda tentou recuperar o local, mas encalhou numa ordem judicial, considerando que o espaço estava fora das suas águas territoriais. Dez anos mais tarde, um empresário alemão invadiu Sealand e reclamou a propriedade, mas Roy Bates, entretanto denominado Príncipe Bates, recuperou o espaço e fez reféns, obrigando um diplomata holandês a viajar até à base naval (só acessível de barco ou helicópreto) para negociar a libertação dos prisioneiros.

Sealand perdurou como micronação, mesmo não passando de uma plataforma devoluta com um edifício e uma média de 20 habitantes. Reclama importância pelo conceito, pela independência conquistada no mar, servindo de exemplo para futuros projectos.

O tvi24.iol.pt entrevistou o Príncipe Michael Bates, filho de Roy e actual responsável pelo espaço, devastado em 2006 por um enorme incêndio. Aqui fica o testemunho de Bates:

Continuam a viver pessoas em Sealand de forma permanente?
«Sim, vivem pessoas na fortaleza, de forma permanente, há 43 anos.»

Em 2007, decidiu colocar o Sealand à venda. Há interessados?
«Sim, têm surgido várias propostas interessantes. Da Rússia, da América do Sul, do Golfo Pérsico e do conhecido site Pirate Bay.»

Os seus filhos estão dispostos a manter o legado de Sealand?
«Sim, eles continuar a estar envolvidos, por vontade própria.»

Você falou sobre a possibilidade de criar uma selecção nacional de futebol. Como está esse projecto?
«Óptimo. Neste momento, estamos à procura de um patrocinador. Depois, começaremos a jogar. Será algo como um David contra os Golias.»

Como estão as vossas relações com o governo do Reino Unido?
«O Reino Unido utiliza uma táctica e sempre: ignorar coisas que não representem uma ameaça directa. Eles ignoram Sealand e Sealand ignora-os, apesar de nem sempre ser fácil, porque basta olhar pela janela para vê-los. Sem brincadeiras, nunca prejudicaríamos os interesses do Reino Unidos e temos muito orgulho na nossa dupla nacionalidade.»



Viver no mar: Seasteading, o projecto viável do futuro

A ideia de uma comunidade instalada no mar está geralmente associada ao libertarismo, filosofia política que defende a liberdade absoluta para os homens, algo como a anarquia com preocupações de livre concorrência dos mercados. O Instituto Seasteading, o projecto mais viável para o futuro, não foge a essa tendência.

O Seasteading marca pontos entre os rivais por dois motivos: aposta na pequena escala, não caindo na tentação de utopias incomportáveis do ponto de vista financeiro e tecnológico, e despertou a atenção de um bilionário com especial apetência para desenterrar minas de ouro.

Peter Thiel conquistou o mundo quando lançou o sistema Paypal e investiu agora 500 mil dólares no Seasteading Institute. Exactamente o mesmo montante que aplicou num pequeno projecto em 2004: o Facebook. Pois.

O tvi24.iol.pt entrevistou Naomi Most, Gestora de Desenvolvimento do projecto Seasteading, procurando compilar informações sobre um plano de âmbito global que aposta na troca de experiências e interactividade.

Em suma, os promotores desta iniciativa querem criar pequenas plataformas auto-suficientes, algo como um navio de cruzeiro com bóias semi-fixas. Cada plataforma seria entregue a um grupo com um projecto de sustentabilidade económica e política. A médio prazo, as plataformas cresceriam em número de pessoas e independência.

Parece utópico? Claro. Tanto quanto parece uma inevitabilidade. Naomi Most, Gestora de Desenvolvimento do Seasteading, não tem dúvidas.

Em termos gerais, qual a diferença entre o Seasteading e os projectos que falharam no passado?

«Existem diferenças significativas entre o nosso primeiro projecto de engenharia, o Poseidon, e outros. A diferença principal está nos conceitos. Os Seasteads que usem a nossa filosofia devem ser modulares, confortáveis e resistentes a tempestades. Os módulos são importantes por questões económicas e políticas. Um módulo deve ser independente e ter igualmente capacidade para ligar-se a outros módulos. Também estamos preocupados como os custos. Enquanto os outros apostam em milagres tecnológicos, nós preferimos a tecnologia existente.

Pode dizer-nos uma data realista para a inauguração do primeiro projecto do Seasteading?

«Escolhemos 2015 como o ano de lançamento do Projecto Poseidon (ndr. uma estância subaquática), o nosso primeiro módulo independente e auto-suficiente do ponto de vista financeiro. Será essencial para o desenvolvimento de questões de engenharia e legais. Também estamos a apostar no nosso festival anual, o Ephemerisle.»

Vários projectos falharam no passado devido à falta de cooperação dos países, pouco dispostos a abdicar do seu controlo político. Têm esse receio?

«Olhando para a lei internacional, parece que uma ilha artificial só pode ter independência total se estiver fora do limite de 370 quilómetros em relação à costa. Contudo, essa realidade é utópica, nesta altura, em termos económicos. Por isso, numa primeira fase, vamos apostar em soluções de compromisso com nações que estejam dispostas a algumas cedências.»

O Steasteading Institute pretende criar projectos auto-suficientes. Dessa forma, quais serão os vossos lucros a médio prazo?

«O nosso objectivo passa por recolher os frutos de um mundo com maior leque de escolhas. A liberdade individual gera progresso tecnológico, político e financeiro. A inovação só é possível quando há espaço para a experimentação»