segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Incrível Hulk: a força de vinte pessoas num luto goleador

Incrível, este Hulk. Seis golos em quatro jogos para um talento que atrai emoções num arranque de temporada impressionante. Entre o drama e o regresso à selecção do Brasil, o avançado do F.C. Porto deixa promessas para uma temporada de explosão.

Dragões no topo da Liga, com a Supertaça na vitrina e a fase de grupos da Liga Europa no horizonte. André Villas-Boas silenciou críticos, encontrou alternativas para Bruno Alves e Raul Meireles. Mutações profundas na forma de ser e estar deste F.C. Porto. Para além dos reforços, emerge Hulk, vida nova após castigo prolongado.

O aviso chegara na pré-época: três golos em igual número de particulares. Eis o cerne da questão, incontornável na análise ao fenómeno. Entre fortuna e fama, surge uma família que condiciona emocionalmente um jogador. A alcunha anuncia um super-héroi, as circunstâncias revelam a humanidade do profissional de futebol.

Um mês entre duas crianças

Os adeptos contornam o tema, jornalistas procuram repetir a teoria: vida pessoal e profissional não se misturam. Contudo, saltam à vida desarmada as oscilações, os amuos repentinos, as fases douradas. Nem sempre relacionadas com questões desportivas.

Por isso, importa referir que Hulk não joga por ele, mas por mais vinte pessoas. Não é caso raro, saliente-se. Porém, em momentos de tristeza, tudo se concentra nele. Cada golo seu é o golo dos familiares que também vivem o luto dramático. A morte de uma sobrinha, com pouco mais de um ano, abafou o regresso do avançado à selecção do Brasil.

Um mês antes, após bela pré-temporada, Hulk foi ao Brasil pelo nascimento do segundo filho. O crescimento da prole sugestiona casa nova na Invicta, mudança a concretizar em breve. Do outro lado do Atlântico, em Campina Grande, o Incrível já colocara duas dezenas de familiares a habitar num espaço de luxo e conforto, a vivenda onde a sobrinha Alicya viria a falecer, por afogamento, num momento de desatenção. Circunstâncias terríveis a motivar luto profundo.

O luto, a selecção e os golos

Hulk voltou ao Brasil em Agosto, com um golo na bagagem (penalty frente à Naval) e um cenário de tristeza à espera. No regresso, passou a jogar por ele, pela sobrinha e pelos familiares que só sorriem com uma festa sua, nos relvados.

Falhou metade da eliminatória como Genk mas compensou com um «hat-trick» no Dragão. Perdeu a recepção ao Beira Mar (3-0) mas deu a vitória frente ao Rio Ave (0-2), com mais dois golos. Cinco em quatro dias, aliás. Segue-se a selecção, agora orientada por Mano Menezes.

O avançado do F.C. Porto regressa ao «escrete» para não mais sair. É essa a sua ambição. Aos 24 anos, terceira época de dragão ao peito, colocou a sua alcunha na boca de adeptos europeus e mesmo brasileiros. Hulk casou-se com os golos.

domingo, 29 de agosto de 2010

F.C. Porto-Genk, 4-2: Lágrimas vindas do céu na história do Incrível Hat-trick Hulk

Incrível ou «hat-trick» Hulk? Fica a sugestão, aguardando novos episódios da série goleadora do avançado brasileiro. Três golos de bola parada na recepção ao Genk (4-2), confirmando a presença do F.C. Porto na fase de grupos da Liga Europa. Vossen bisou sem equilibrar a eliminatória (7-2 no total). Fernando, mais ofensivo que nunca, completou a cena.

A delicadeza do tema motiva algum recato. Contudo, quando a homenagem toca o coração dos adeptos, que nem acompanharam os passos da criança em questão, merece entrar na história. A história do Incrível Hulk, uma corrida pessoal rumo à baliza contrária, com propósito nobre.

Hulk falhara o Genk pela morte da sobrinha. Viajou para o Brasil sem esconder a tristeza. O F.C. Porto, sensibilizado, deu-lhe todo o tempo do Mundo e dedicou-lhe o triunfo na Bélgica. Com a eliminatória resolvida, o brasileiro voltou aos relvados. Correu, fintou, falhou até marcar o golo que tanto procurara. Perdeu um castigo máximo mas terminou o jogo com um «hat-trick».

A surpresa e a dedicatória

As lágrimas vindas do céu, em forma de chuva, caíram no rosto de Hulk quando ele marcou o primeiro (37m), ergueu as mãos e dedicou o momento à sobrinha malograda. Para trás, ficara um penalty falhado, por si conquistado, e um golo do Genk que surpreendeu o Dragão.

A análise parece redutora, mas para quem não viu, acredite que tudo andou à volta deste Incrível com nome de herói de banda desenhada. Vossen, que marcara em antecipação a Rolando (22m), baixava a cabeça perante a incapacidade para igualar o adversário directo.

Hulk foi pela direita e pelo centro, pegou na bola e tentou criar. Porém, o «hat-trick» chegaria com o esférico imóvel. Em dois castigos máximos e igual número de livres directos, o internacional brasileiro marcou três golos. No segundo penalty (59m), provou que não é só matéria bruta. Atirou em jeito e não em força. Antes e depois (63m), de bola parada, recorreu à violência para bater Koteles.

Otamendi a ver, centrais a tremer

O F.C. Porto apresentou mais três novidades. Beto discreto na baliza (as redes portistas balançaram pela primeira vez, esta época), Souza em bom plano no apoio a Fernando, Ruben Micael sem brilhar na zona de construção. Hulk regressou ao onze e encaixou num 4x4x2 apresentado como sistema alternativo.

O Genk, com 0-3 na eliminatória, veio com equipa de recurso. Mudaram-se alguns nomes, sem afectar a determinação. A defesa portista tremeu e voltou a denotar alguma desconcentração. Com Otamendi, o internacional argentino que sucede a Bruno Alves, a ver.

Otamendi assistiu ao jogo, a par de 33.512 espectadores. Não houve transmissão televisiva, porque a aposta passa por um Dragão cheio e as propostas não compensavam. Assim, nem todos viram o tento inaugural de Vossen. Nem o penalty falhado logo depois por Hulk. Nem a compensação do brasileiro (37m), a garantir a igualdade com um pontapé rasteiro e potente, na conversão de um livre directo.

Fernando também marca

O F.C. Porto regressou das cabines com 1-1 no marcador e o 4x2x3x1 no papel. Souza aproximou-se de Fernando, o médio defensivo que andava demasiado afastado da baliza contrária. Aliás, nunca marcara com a camisola portista, em jogos oficiais. Deixou a promessa frente ao Ajax e fez a festa na recepção ao Genk, com mais um pontapé de longe, desta vez com culpas para Koteles.

Bola cá, bola lá, a vantagem azul e branca durou escassos quatro minutos. O golo do empate de Vossen (57m) durou muito menos. Segundos após bom voo do avançado, em mais uma antecipação aos centrais portistas, Moutinho conquistou um castigo máximo e permitiu o bis de Hulk. Com a sobrinha na memória do Incrível e a fase de grupos no horizonte do F.C. Porto, o «hat-trick» do brasileiro não foi mais que um belo final de festa. Nova bomba, de livre, com a ajuda do guarda-redes do Genk. 7-2 na eliminatória. Categórico.

Helton: a braçadeira como prémio em troca da baliza inviolada

Helton herdou a braçadeira de capitão do F.C. Porto, face à saída de Bruno Alves para o Zenit, e tem justificado a aposta com várias exibições de bom nível. Aos 32 anos, o brasileiro convence os adeptos com um arranque de temporada à prova de golos.

Em quatro compromissos oficiais, Helton manteve a baliza portista inviolada. Na Supertaça, frente ao Benfica, o brasileiro fez os concorrentes directos perderam parte das esperanças. Mais uma vez, o F.C. Porto foi ao mercado contratar um guarda-redes. Kieszek juntou-se ao Beto no leque de alternativas, mas a baliza continua entregue ao mesmo dono.

«O Helton está a atravessar mais um grande momento no F.C. Porto. Recebeu um prémio do treinador e da direcção, ao passar a usar a braçadeira de capitão. Penso que está a retribuir», começa por dizer Marival Gomes, tio e procurador do guarda-redes, ao Maisfutebol.

Frente a Benfica, Naval 1º de Maio e Genk, Helton acumulou defesas de elevado grau de dificuldade, contribuindo de forma decisiva para o desfecho das partidas. Na recepção ao Beira Mar, o brasileiro teve menos trabalho mas voltou a demonstrar uma segurança assinalável, uma concentração que convenceu os adeptos mais críticos em relação ao brasileiro.

«Cinco anos, quatro vezes campeão»

Depois de Vítor Baía, o F.C. Porto volta a colocar a braçadeira de capitão no braço de um guarda-redes. «O Helton é dos mais antigos no plantel e tem demonstrado sempre respeito e profissionalismo, mesmo quando não jogou. Quando chegou, ele ficou como reserva do Vítor Baía, mas isso é um orgulho para qualquer um. Ruim é ser reserva da equipa da nossa rua», brinca Marival Gomes.

«Nos cinco anos de F.C. Porto, o Helton foi quatro vezes campeão e quer voltar a ser. Quanto à selecção, teremos de esperar para ver. O Mano Menezes chamou o David Luiz e o Hulk, craques que despontam em Portugal. Às vezes o adepto brasileiro não sabe tanto, por causa da distância, mas este ano os jogos do campeonato português estão a passar no Brasil e isso ajuda. Se o Helton fosse naturalizado português, estaria na vossa selecção. No Brasil, é mais política», desabafa o procurador do guarda-redes.

A defesa azul e branca perdeu Bruno Alves, Maicon e Rolando procuram adaptar-se e formar uma dupla coesa. Enquanto decorre o processo, com Otamendi a caminho, Helton vai resolvendo as questões mais bicudas.

Sérgio Pinto, portista e ex-Schalke: «Vou torcer pelo Benfica»

Sérgio Pinto, médio português que representa actualmente o Hannover, acedeu ao pedido do Maisfutebol e descreveu a actual situação do Schalke04. O jogador luso representou o adversário do Benfica, entre 1999 e 2004.

Perspectivando um duelo escaldante na fase de grupos da Liga dos Campeões, Sérgio Pinto esquece rivalidades, até o seu passado no Schalke, e promete torcer pelo Benfica no confronto em solo germânico. «Se tiver oportunidade, irei ao estádio ver o jogo e claro que torcerei pelo Benfica. Sou portista mas, antes de mais, português. Para além disso, os pontos darão jeito para o ranking, para Portugal voltar a ter três equipas na Champions.

«Penso que o Schalke vai sentir dificuldades esta época, no campeonato e na Champions. Por acaso, vamos lá jogar no sábado. O treinador não está satisfeito, já se fizeram muitas mudanças no plantel e ainda devem chegar mais três ou quatro jogadores. Portanto, quando for o jogo com o Benfica, já será um Schalke diferente», avisa o médio português.

Sérgio Pinto fala de uma mistura entre experiência e juventudes: «O Schalke tem bons jogadores, como o Raul, claro. Tem também o Rakitic, que agora está a jogar como médio defensivo, e o Jermaine Jones, muito bom jogador. Lá atrás, está também o Metzelder. Esses são os mais experientes. O resto são jovens, que se fartam de correr durante os noventa minutos.»

«O Schalke ainda não tem um estilo de jogo muito definido, é mais força do que táctica. Os adeptos são fervorosos e criam um grande ambiente. Isso o Benfica pode esperar. Mas penso que o Benfica tem condições para garantir bons resultados contra eles», rematou o médio português.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Da Islândia para o Mundo: conheça os reis dos festejos

Esta é a história de um fenómeno que surgiu na Islândia e está a conquistar adeptos por todo o Mundo. A beleza do futebol expressa na celebração efusiva e original de cada golo. Os jogadores do Stjarnan levam um sorriso ao rosto de cada adepto que anseia por novo balançar das redes adversárias.

O Maisfutebol tornou-se fã desta lufada de ar fresco proveniente da gélida Islândia. Tanto que decidiu investigar as origens do fenómeno e apresentá-lo convenientemente ao público português. Se gostou do Rambo do pescador ou da bicicleta, aqui fica a boa notícia: eles aceitam sugestões.

Aliás, o festejo da bicicleta partiu de sugestão brasileira. Do outro lado do Atlântico, os adeptos canarinhos do Stjarnan enviaram um vídeo para o defesa Johann Laxdal, com a coreografia da banda funk Muleks Piranhas. O jogador sorriu e prometeu apresentar a ideia à equipa. Dito e feito.

«É verdade, o movimento da bicicleta veio de um vídeo que pessoas do Brasil me enviaram, através do Facebook. Achei piada e mostrei aos outros jogadores. Acabámos por fazer mesmo isso no jogo seguinte», explica Johann Laxdal, ao nosso jornal.

Surpreendido pela popularidade, radiante por dar uma entrevista para Portugal, o defesa deixa a promessa: «Se os portugueses quiserem, façam o mesmo. Adicionem-me no Facebook e mandem sugestões. Queremos sempre boas ideias e não vamos parar».

Estrela ao domingo, jardineiro à semana

Nem tudo é radiante na história deste Stjarnan, o 6º classificado do campeonato da Islândia. Johann Laxdal, o número 4 que já foi pescado e simulou uma roda de bicicleta, é um dos jogadores semi-profissionais da equipa. Estrela ao domingo, jardineiro municipal durante a semana.

«Aqui, apenas os estrangeiros conseguem ser profissionais, vêm para cá ganhar mais dinheiro. Eu sou jogador do clube, formado lá, sou internacional nas selecções jovens mas não chega. Portanto, durante a semana, ando a tratar os jardins da cidade, a embelezar a cidade», explica, humildemente, o defesa.

Os adversários não acham piada

Neste domingo, o Stjarnan venceu o Selfoss por 3-2. Os adeptos, em número crescente perante o fenómeno, receberam mais duas prendas originais. «Penso que as imagens estarão em breve no Youtube. Num dos golos, o marcador festejou mas depois ficou parado, como se tivesse ficado sem bateria. Teve de ir lá um colega recarregá-lo. No outro, o marcador meteu a bola debaixo da camisola e simulámos um parto. Eu fui o médico», conta Johann Laxdal.

«O nosso treinador está a gostar muito e não deixamos de treinar por isso. Para fazer a bicicleta, bastaram dois ensaios. Os adversários é que não acham piada, mas tentamos explicar que não é nenhuma ofensa a eles, apenas a nossa festa. Sinceramente, não estávamos à espera que isto chegasse a todo o Mundo, mas agora não vamos parar. Veremos o que o futuro reserva», remata o jogador do Stjarnan, em entrevista ao Maisfutebol.

sábado, 7 de agosto de 2010

Yago na Suécia: gigante luso entre altos, loiros e nada toscos

No Inverno o Natal é baril, no Inverno ando engripado e febril, no Inverno é Verão no Brasil, e na Suécia suicidam-se aos mil.

A contabilidade dos Fúria de Açucar, na música «Eu gosto é do Verão», está desactualizada. Na Suécia, a taxa de suicídios não bate recordes mundiais. Nem tem lugar na conversa com Yago Fernández, jovem internacional luso que abre novos horizontes com a camisola do Malmo.

Yago Fernández Prieto, 22 anos, tem uma embalagem invejável. Cresceu entre o Sporting, o Benfica, o Real Madrid, o Valência e o Espanhol de Barcelona. Nasceu em Lisboa, com ascendência espanhola. Passou largos anos no país vizinho, sem ceder à tentação de cantar outro hino.

«Jogarei sempre pela selecção de Portugal, nunca por Espanha. Sou português, adoro o meu país e não vou mudar nunca», garantiu ao Maisfutebol, em 2007. Estava no Valência e convivia com o namoro de Liverpool e Arsenal. Como acontece com inúmeros jovens, sentiu a passagem para o escalão principal.

No início de 2010, rumou ao Gil Vicente para redescobrir o futebol português. Não foi feliz. Ficou amargurado com a experiência, sentindo que o seu país continua a apostar demasiado em valores de outras latitudes. Teve de emigrar.

«Estou há três semanas no Malmo, assinei contrato até Novembro mas o objectivo passa por continuar. Estou a gostar bastante da experiência, é um clube com excelentes condições e estamos a lutar pelo título da Suécia», explica, ao nosso jornal.

O Malmo de Yago foi ao reduto do Orebro para garantir um triunfo convicente (0-3) e encurtar a distância para o líder Helsingborg: «Os adeptos aqui adoram futebol e são muito fiéis à sua equipa. Hoje, jogámos a 600 quilómetros da nossa cidade mas vieram muitos adeptos apoiar-nos. Fomos de avião para evitar o desgaste e agora estamos a regressar de autocarro.»

Yago Fernández está habituado a olhar de cima para baixo. Com 192 centímetros, é uma torre pouco habitual no tabuleiro lusitano. Porém, na terra dos altos, loiros e outrora toscos, o português encontrou concorrentes à altura. Literalmente.

«Sim, é mesmo verdade. Aqui há uns quantos mais altos que eu. Mas continua a ser um dos maiores», garante o internacional luso, entre gargalhadas, ao Maisfutebol.

Yago reencontrou Anderson: «Fui apanha-bolas dele no Benfica»

Yago Fernández adapta-se à Suécia. Chegou há três semanas e está a adorar a experiência. O defesa-central não encontrou nenhum português pelo caminho, mas teve a oportunidade de matar saudades de uma cara conhecida: Anders Anderson.

O jovem internacional luso estava nas camadas jovens do Benfica quando Anderson vestia de encarnado. O médio sueco nunca foi indiscutível e acabou por sair. Dez anos mais tarde, reencontro inesperado no Malmo.

«Tenho falado com o Anderson, ele ainda fala português e até lhe disse uma coisa engraçada. Eu fui apanha-bolas dele no Benfica. Tinha 12 anos e, nos jogos grandes, o clube metia os miúdos dos iniciados a fazer de apanha-bolas», recorda Yago, em conversa com o Maisfutebol.

Sem querer extremar posições, Yago Fernández não esconde alguma amargura pela aposta falhada no Gil Vicente. O defesa estava no Espanhol de Barcelona e foi emprestado ao emblema de Barcelona. Regressava a Portugal para crescer na Liga de Honra. Contudo, ficou desiludido com a realidade nacional. Pelo menos, com a passagem por Barcelos.

«Foram opções do treinador, é passado e prefiro olhar em frente. Não foi uma experiência do meu agrado, esperava outra coisa. Mas agora estou aqui no Malmo e, se tiver de ficar aqui toda a minha vida, fico radiante. Só digo que os clubes portugueses deviam apostar mais nos seus valores. Aqui no Malmo, há dez jogadores suecos entre os 18 e os 22 anos, por exemplo», desabafa.

Yago está encantado com Malmo, como clube e cidade. Atravessa uma ponte e está em Copenhaga, na capital da Dinamarca. Tranquilidade na Suécia, comércio e festa a dois passos. «O clube tem excelentes condições, o estádio é novo e foi inaugurado no ano passado. Quanto à cidade, é pacata e tranquila. Já fui a Copenhaga, mas lá é muita gente, muita confusão. E é uma cidade bem mais rara», remata o defesa.

Figura do Genk revela: «Helton foi o meu primeiro guarda-redes»

Stéphane Demol, antigo dragão, destaca João Carlos como uma das figuras do Genk, adversário do F.C. Porto no «play-off» da Liga Europa. O central brasileiro acrescenta um ponto na teoria de aldeia global. Helton tem quota de responsabilidade na carreira do defesa de 28 anos.

João Carlos e Helton cresceram lado a lado, no Vasco da Gama. Mais velho, o guarda-redes portista ocupava a baliza quando o central chegou à equipa principal, em 2001. «É meu grande amigo. Já não o vejo desde essa altura, mas falámos no ano passado. Posso dizer que o Helton tem a sua parte na minha formação como jogador. Foi o meu primeiro guarda-redes», começa por dizer, ao Maisfutebol.

«Eu era novo e fizemos ano e meio seguidos na equipa. Ele dizia: João, não é assim, João, faz assim, João, vai para ali. Gritava muito mas sem faltar ao respeito, claro. Deu-me muito na cabeça, mas sempre a pensar no meu melhor e no melhor para a equipa. É grande guarda-redes, grande pessoa e merece tudo de bom. Já nessa altura, andava sempre com o violão atrás», brinca o defesa-central.

«O Hulk é um jogador potente»

João Carlos nunca esteve no Porto. Porém, conhece de cor o adversário do Genk. «O F.C. Porto já venceu tudo o que é troféu, é uma equipa que tem muitas armas, mais que nós. Tem o Helton, mas também o Hulk, que é um jogador potente, que já chegou à selecção. Depois há o Falcao, que chegou no ano passado e também é perigoso. E o Souza, que veio agora do Vasco, onde eu joguei», enumera o brasileiro.

A equipa belga respeita o F.C. Porto, sem prestar vassalagem. João Carlos é central com fama de goleador, uma referência no jogo aéreo: «Se der para marcar o meu golo, não vou dizer que não. É uma satisfação poder jogar no Dragão, com toda a gente a ver, é daqueles momentos em que todos os jogadores se querem mostrar. Dos adversários possíveis, este era o mais complicado para o Genk»

«Mas não vamos entregar o jogo. Também temos as nossas armas. O Kevin De Bruyne, por exemplo, chegou agora à selecção principal da Bélgica. É um jovem extremo com muito talento e ainda pode evoluir muito mais», avisa João Carlos.

O defesa tem 28 anos e está na Bélgica há quatro. Recebeu o passaporte belga e chegou a ser equacionado para a selecção. Para já, o futuro passa pelo Genk. «Houve contactos para sair, mas nada de concreto. Até para Portugal chegou a falar-se, no passado cheguei a estar em Lisboa, porque o meu empresário era português. Mas nada se concretizou. Quanto à selecção belga, houve agora mudança de seleccionador e temos de esperar. De resto, tenho mais dois anos de contrato com o Genk e a minha família é feliz aqui», concluiu.

Demol: «João Carlos e De Bruyne são os melhores do Genk»

Stéphane Demol tem competência para falar sobre o confronto entre F.C. Porto e Racing Genk. O antigo defesa dos dragões abraçou a carreira de treinador e defrontou o adversário portista na época passada, quando orientava o Charleroi.

A partir da Grécia, onde treina o PAS Giannina, Demol fala com o Maisfutebol em bom português. Não esquece a sua passagem pelo nosso país, primeiro no F.C. Porto e depois no Sp. Braga. Tem saudades de Portugal e promete voltar a médio prazo. Para já, aborda o duelo agendado para o «play-off» da Liga Europa.

«O F.C. Porto é um grande favorito neste duelo. O Genk vem de um ano difícil, em que até teve de mudar de treinador. Entrou o Frank Vercauteren, antigo capitão do Anderlecht, que jogou comigo na selecção da Bélgica. Ele conseguiu recuperar a equipa e garantir a Europa no último jogo, num play-off frente ao Westerloo», começa por dizer.

O Genk, catalogado por Demol como a quarta força no futebol da Bélgica, está em mutação: «Eles fizeram grandes épocas, mas o ano passado correu mal. Mudou o treinador, mudou também o presidente e mesmo o director-desportivo. Querem fazer uma época bem melhor este ano.»

«Têm o João Carlos, que para mim é o melhor central a jogar na Bélgica. Depois, têm o Kevin De Bruyne, o melhor talento jovem do país. Para mim, João Carlos e De Bruyne são os melhores do Genk. O De Bruyne é um extremo, pode jogar nos dois flancos, muito técnico e rápido. Tem potencial para a selecção. O Elyaniv Barda, de Israel, teve um ano difícil mas é o goleador», explica o antigo internacional belga.

João Carlos tem 28 anos, nasceu no Brasil e foi formado no Vasco da Gama. Está na Bélgica desde 2004 e já tem o passaporte nacional, entrando nos planos da selecção. É um central goleador. Kevin De Bruyne tem 18 anos mas já realizou 35 jogos na equipa principal do Genk, marcando 5 golos. Nos sub-19 da Bélgica, apontou 16 golos em 14 internacionalizações.

Stéphane Demol deseja boa sorte ao F.C. Porto e promete acompanhar o duplo embate, por via televisiva, desde a Grécia. «Estou aqui agora a treinar, no Pas Iannina, mas gostava de um dia treinar em Portugal. Vou tentar ver os dois jogos. Vai ser interessante», remata o velho conhecido dos dragões.

Villas-Boas: da praia das Ilhas Virgens ao banco do F.C. Porto

André Villas Boas vai disputar o primeiro troféu como treinador principal. Aos 32 anos, é o mais jovem técnico na história do F.C. Porto. Na véspera da estreia oficial, o Maisfutebol recua uma década para perceber como um jovem português foi parar à selecção das Ilhas Virgens Britânicas!

O destino peculiar motivou a curiosidade, saciada pelo contacto do homem que recebeu André Villas-Boas num território britânico perdido no mar das Caraíbas. Na quinta-feira, dois meses após a primeira abordagem, Kenrick Grant respondeu ao desafio e recuperou a história de 2000.

«Eu era presidente da Associação de Futebol das Ilhas Virgens Britânicas, nessa altura, e estava à procura de um treinador jovem, com qualificação. O André enviou-nos o seu currículo, vinha de um grande clube como o F.C. Porto e era amigo de Bobby Robson. Ficámos convencidos», conta.

Villas-Boas queimou várias etapas na sua formação como treinador. Tinha apenas 17 anos quando tirou o curso no Reino Unido, por intermédio de Sir Robson, e voltou a Portugal para colaborar com as camadas jovens do F.C. Porto.

«Ao início, estava sempre na praia»

André queria ser treinador antes do prazo, mas era um miúdo. Tanto que, ao chegar às remotas Ilhas Virgens Britânicas, deslumbrou-se. Tinha 22 anos.

«Ao início, estava sempre na praia! Passava por ele e via-o sempre de calções. Tive de falar com ele. Parecia que estava de férias. Mas quando começou a trabalhar, surpreendeu-me logo», admite Kenrick Grant.

Entregaram-lhe a supervisão das camadas jovens. Era pouco para tamanha ambição. «Logo ao início, fez um plano completo para todas as selecções, um manual com planos de jogo e de treino, cheio de informação. Mexia muito bem nos computadores e era soberbo na observação. Vinha para as selecções jovens, mas ele queria trabalhar na principal».

«Passou então a estar nos treinos da selecção principal, a colaborar com o seleccionador. Eu sabia a idade que ele tinha, mas não me arrependi. Deixou trabalho feito, meteu os seniores a treinar os miúdos e muitos desses jovens chegaram depois à selecção principal», congratula-se o antigo responsável pelo futebol nas Ilhas Virgens Britânicas.

«Não tinha paciência para jogadores sem qualidade»

O actual treinador do F.C. Porto acumulava experiência num destino exótico. Tinha 22 anos e estava com pressa. Queria chegar ao topo quanto antes: «Foi o único problema que tive com ele. Percebi que estava aqui pelo currículo, que não iria ficar muito tempo. Queria ser seleccionador principal, mas nessa altura tínhamos um. Então, acabámos por dizer adeus.»

Villas-Boas regressou à Invicta e ao seu clube de sempre, de novo para as camadas jovens. José Mourinho chega mais tarde e reencontra o jovem. André passa a encarregar-se da observação de adversários. Fá-lo com mestria, cresce na sombra, do Porto a Londres, de Londres a Milão.

Dez anos após a primeira aventura, corta de novo a direito. Quer afirmar-se por conta própria e chega à Académica. Convence o F.C. Porto e entra no Dragão pela porta grande. Neste sábado, vai a jogo, a doer.

«Estou ansioso para ver como se safa. Fiquei surpreendido, ele tinha a teoria toda, falta-me perceber se já tem a prática. E outra coisa. Ele não tinha paciência para jogadores sem qualidade, como havia na selecção principal. Por isso é que preferi deixá-lo com os jovens. Talvez tenha mudado entretanto», remata Kenrick Grant, em conversa com o Maisfutebol.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

# N.Y. Cosmos: os galácticos originais estão de volta (vídeo)

Pelé anunciou, neste domingo, o regresso dos New York Cosmos. Os galácticos originais, as super-estrelas do futebol norte-americano, estão de volta após um interregno de um quarto de século. Na década de 70, este sonho americano surpreendeu o Mundo.

A Warner Communications, inesgotável fonte de capital, criou um fenómeno sem paralelo numa sociedade pouco habituada a conviver com o «soccer». Os NY Cosmos popularizaram-se com nomes como Pelé, Carlos Alberto, Beckenbauer, Chinaglia ou Neskeens. O português Seninho estava entre eles.

«É difícil repetir um fenómeno como aquele. Quando cheguei, em 1978, éramos os verdadeiros galácticos. Vi o estádio dos New York Giants, com 76 mil pessoas, várias vezes esgotado. Já havia ecrâns gigantes, cheerleaders, animações antes do jogo e ao intervalo, até estádios com relva artificial. Naquela altura, diziam que os americanos eram malucos por jogar em relva artificial», recorda Seninho, em conversa com o Maisfutebol, ao rebobinar o filme de uma aventura inesquecível.

A máquina impressionava. Os jogadores desdobravam-se entre as competições e os eventos sociais. «Mal cheguei, disseram-me logo que tinha de aprender inglês. Não estava ali só para jogar futebol. Ainda por cima, ali não sabiam quem era o Seninho. A minha sorte foi ter brilhado numa vitória do F.C. Porto frente ao Man. United. Deu na televisão e, na manhã seguinte, estava reunido com os responsáveis da Warner», diz o antigo avançado.

Pelé a chegar aos estádios de helicópetro

Seninho chegou aos Estados Unidos em 1978, ainda na fase dourada dos New York Cosmos. Pelé foi o porta-estandarte da equipa americana. Nessa altura, jogava apenas os particulares. Sempre com estatuto de estrela: «Foi há 32 anos, mas o Pelé já chegava de helicóptero. Íamos de costa a costa, não raras vezes, em avião particular, da empresa. Certa vez, pagaram a viagem a todas as nossas famílias, para estarem connosco oito dias. Pagaram hotel, tudo. Era algo extraordinário, na altura.»

Os NY Cosmos venciam quase sempre. Arrastavam multidões para os estádios e convenciam milhões de jovens a descobrir o «soccer». Multiplicaram-se os títulos, entre a década de 70 e o início de 80. Porém, com o tempo, surgiram os incontornáveis problemas.

«A dada altura, a Liga chegou a acordo com o Cosmos para distribuir jogadores por outros clubes. O Cruijff foi para Washington, o Cubillas e o Gerd Muller foram para Fort Lauderdale, por exemplo», enumera Seninho, actualmente com 61 anos. Eusébio também participou no desfile de estrelas na América do Norte.

O fim das estrelas para o início da formação

Os adeptos apaixonavam-se pelo fenómeno, as equipas apostavam em estrelas de renome internacional. Contudo, a «galáxia» dos New York Cosmos desapareceu em 1984. Aos poucos, os jogadores norte-americanos foram reclamando o seu espaço e alteraram a lógica vigente.

«Nesse tempo, eles não tinham tanta qualidade como hoje. Quando cheguei, eram nove estrangeiros e dois americanos por equipa. Depois quiseram reduzir, primeiro oito estrangeiros depois sete. Em 1984, jogavam apenas seis. Com isso, o público afastou-se e o encanto perdeu-se. Os NY Cosmos desapareceram nesse ano», lembra o antigo avançado.

26 anos depois, os Cosmos estão de volta. Pelé anunciou o regresso, no lançamento de um projecto assente na formação. «Once in a Lifetime», «Uma vez na vida». Eis o nome do documentário que relata a história daquele fenómeno. Irrepetível, concorda Seninho.