segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Coreia do Norte: «Um pesadelo bem pior que a União Soviética»

Leonid Petrov é a maior referência académica nos estudos sobre a Coreia do Norte. Vários parceiros referem o seu nome quando alguém solicita uma visão mais profunda sobre o regime de Pyongyang.

Em entrevista ao Maisfutebol, o professor de Estudos Coreanos da Universidade de Sidney (Austrália) relata várias visitas à Coreia de Norte, reconhece as fortes restrições de movimentos impostas aos turistas e chega a comparar esta realidade com outra bem popular: «A Coreia do Norte parece-me um pesadelo bem pior que a União Soviética».

Formado em História e Língua da Coreia, pela Universidade Estatal de S. Petersburg (1994), o Dr. Leonid Petrov obteve uma pós-graduação em História, com estudos especializados sobre a Coreia do Norte. Deu aulas na Coreia do Sul, nos Estados Unidos da América e em Paris, alimentando um blog sobre a realidade que cativou a sua atenção (www.korea-vision.com).

Como desenvolveu o seu interesse pela Coreia do Norte?
«Eu nasci na União Soviética, antes da Perestroika, quando a Economia mal funcionava e a liberdade política era uma mera utopia. Cresci a acreditar que todos os outros viveriam melhor que nós. Contudo, quando comecei a ouvir as histórias sobre a Coreia do Norte, pareceu-me um pesadelo bem pior que a União Soviética. Fiquei curioso e tentei aprender o máximo sobre esse país eremita. Acabei por entrar para o Departamento de Estudos Coreanos da Universidade Estatal de S. Petersburgo.»

Quantas vezes visitou a Coreia do Norte?
«Visitei a Coreia do Norte em 1999, 2004, 2005, 2007 e já este ano, em 2009»

Nessas viagens, sentiu várias limitações, como ter de deixar o seu telemóvel na fronteira?
«Sim, todos os visitantes estrangeiros têm de deixar o seu telemóvel na fronteira. O telemóvel, o GPS e qualquer outro tipo de aparelho com comunicação por satélite. Se as autoridades assim o exigirem, também temos de deixar todo o material impresso, como jornais, revistas ou livros. Depois, ao deixar o país, o material é devolvido.»

Que retrato pinta sobre a Coreia do Norte, após essas visitas?
«A Coreia do Norte está numa situação semelhante à da União Soviética sob o comando de Estaline, entre 1930 e 1950. O estado distribui alimentos e outros géneros pela população, entregando mais a alguns grupos que demonstrem mais lealdade pelo regime. As liberdades pessoais e políticas são severamente truncadas, transformando todo o país num reino semi-feudal em que tudo e todos pertencem a apenas uma pessoa: o Querido Líder»

Pensa que a unificação das duas Coreias é possível?
«Os coreanos do Norte e do Sul sonham com a unificação. Contudo, eles conhecem muito pouco uns sobre os outros e não imaginam quão difícil seria esse processo, após 60 anos de separação completa. Nesta altura, os líderes dos dois país não consideram que a unificação seja uma opção viável. Para a Coreia do Sul, seria demasiado dispendioso. Para a Coreia do Norte, seria demasiado humilhante.»

A situação nuclear na Coreia do Norte é uma grande preocupação Mundial. Pelo que estudou e estuda, pensa que a ameaça é real?
«Não. Não acredito que a Coreia do Norte tenha realmente armas nucleares com capacidade para atingir um alvo. Anteriormente, eles fizeram dois testes que falharam ou eram falsos. Os testes de mísseis balísticos também não foram muito bem sucedidos. Por tudo isto, concluo que Pyongyang não tem uma bomba nuclear activa que consiga lançar com algum género de lançador de mísseis. Mas, face a políticas regionais que operam sob a convicção de que a Guerra Coreana de 1950 ainda não acabou, as ambições e garantias da Coreia do Norte em relação à posse de armas nucleares servem como factor de desestabilização. Isto pode originar uma corrida nuclear entre a Coreia do Sul, Japão e Taiwan, agravando as relações entre China, Estados Unidos e Rússia...»

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Clube oferece lugar: você pagava para jogar na Liga Europa?

Se tem entre 18 e 60 anos, 10 mil euros em caixa e vontade de jogar futebol, pode participar na próxima edição da Liga Europa. Basta a vontade, nem é preciso jeito.

O F.C. Olimpia, quarto classificado do campeonato da Moldávia, está a vender um lugar no onze, em leilão. Basta apresentar a melhor proposta e já está: nome na camisola, reportagem na televisão, titularidade garantida!

«Become a football star in a moment». Qualquer coisa como: se pagares, podes ser uma estrela instantânea. A 21 de Dezembro, o Olimpia de Balti lançou o concurso em parceria com o portal televisivo Sports.md.

Até 21 de Março de 2010, todos podem apresentar a sua proposta de adesão. Sem vídeos, sem empresários. Basta ter a idade certa, sem homem e vá lá, não ter problemas de saúde.

O formulário está disponível no site oficial do clube moldavo (http://fcolimpia.md/en/worldstar). Será necessário um registo inicial de 300 euros. Depois, o concorrente avança com a sua proposta. O mínimo são 10 mil euros. Se alguém pagar um milhão de euros, já nem há concurso, teremos vencedor imediato.

A proposta choca, mas importa referir que o salário médio na Moldávia não vai além dos 170 euros, ou seja, nem chegaria para pagar o registo inicial para jogar pelo F.C. Olimpia.

«Depois de assinar contrato com o F.C. Olimpia, essa pessoa será famosa em todo o Mundo. Poderá contar com reportagens nos jornais e televisões. Por momentos, essa pessoa será tão popular como Cristiano Ronaldo, Messi ou Ronaldinho. Ele virá até à Moldavia, para treinar connosco e até poderá jogar no campeonato ou na Taça. Irá trabalhar e depois garantidamente jogar nas competições europeias», explica o vice-presidente Serghei Chiseliov.

Um aviso para os potenciais interessados: o Olimpia está em quarto lugar. Na Taça da Moldávia, a equipa chegou às meias-finais. Ou seja, o F.C. Olimpia oferece um lugar para a disputa da Liga Europa ou mesmo da Liga dos Campeões. Mas ainda não é seguro que chegue até lá.

Entretanto, nesta quarta-feira, o clube deu um passo em frente para promover a sua iniciativa. O F.C. Olimpia contactou Michael Schumacher para oferecer-lhe o lugar. Tem algum talento, fama e o dinheiro necessário. Basta querer.

«Levámos um susto na Moldávia»

A Moldávia em geral, o futebol moldavo em particular, é um enorme ponto de interrogação para os portugueses. Libertada das amarras da União Soviética, a jovem nação espera caminhar para uma subsistência saudável.

Em Julho de 2009, o Paços de Ferreira enfrentou o desconhecido na segunda pré-eliminatória da Liga Europa. A formação lusa viajou até à capital da Moldávia, Chinisau, para defrontar o Zimbru local.

Após um nulo fora de portas, Cristiano garantiu a passagem na segunda mão (1-0).

«Levámos um susto quando chegámos à Moldávia. Não tem nada a ver com o resto da Europa. É um país muito atrasado, com muita pobreza. O aeroporto era pequeno e o nosso avião era o único na pista. Uma cidade pobre, mesmo», recorda o guarda-redes Cássio.

O guardião brasileiro aplaude, por outro lado, a realidade desportiva na Moldávia. «O Zimbru tinha um estádio novo, para mais de 15 mil pessoas, um belo centro de treinos. Foi muito difícil jogar lá. Mas mais difícil foi andar no nosso hotel, no dia do jogo. Acordámos e percebemos que havia uma feira de cosméticos em pleno hotel! Passámos o dia a tentar andar entre duas mil mulheres», recorda Cássio, em conversa com o Maisfutebol.

Vídeo sobre o FC Olimpia:

O ano incrível de Cissokho: «Muito obrigado, Portugal!»

«Muito obrigado, Portugal! Há um ano, estava no Vitória de Setúbal, vinha do Guegnon e podia ter ido jogar para a III Divisão de França. Depois, fui para o F.C. Porto, joguei na Champions, cheguei ao Lyon e à selecção de França. Foi um ano incrível!

Aly Cissokho começa a acreditar: o sonho transformou-se em realidade. No ano passado, comemorava o Natal com alguns sorrisos, face a exibições convincentes com a camisola do Vitória de Setúbal. Chegara do Guegnon, equipa relegada para a III Divisão gaulesa, sem nome ou credenciais. Agora, é titular no Lyon, joga na selecção de França, já brilhou no F.C. Porto e deixou saudades. Um caldeirão de emoções, recuperado em entrevista ao Maisfutebol.

Aly, onde estava há exactamente um ano?
«Há um ano já não estava muito mal. Estava em França, a passar o Natal com a minha família, já com alguma alegria, porque fui feliz no V. Setúbal e tinha sido informado dias antes que ia para o F.C. Porto em Janeiro. Festejei o Natal com a satisfação de ter dado um passo em frente num país novo, com outra cultura. Foi muito difícil. Quando me falaram do Vitória de Setúbal, no Verão, não sabia nada sobre a equipa, nem sequer sabia a cor das camisolas!»

Do Guegnon para Setúbal e depois o Porto. Esperava um salto tão grande?
«Nunca! Estava em fim de contrato com o Guegnon e, se ficasse no clube, ia jogar para a III Divisão de França. Não sei onde estaria agora. Já quando me ligaram do V. Setúbal, fiquei entusiasmado, porque ia para a I Divisão de Portugal. Só pensava em agarrar a oportunidade, melhorar a minha vida. Tudo o resto foi uma surpresa.»

No F.C. Porto, qual foi o seu melhor jogo?
«Penso que dei nas vistas em Old Trafford, no jogo da Liga dos Campeões frente ao Manchester United. Estavam muitos clubes a acompanhar esse jogo, acho que foi a minha melhor exibição com a camisola do F.C. Porto e abriu-me muitas portas. Aliás, nessa altura as pessoas em França começaram logo a falar de mim para a selecção. Logo aí, comecei a pensar ma selecção de França, apesar de ter o convite do Senegal.»


Lateral esquerdo explica falhanço nas negociações com os italianos

Cissokho, o Milan e os dentes: «Tinha demasiados empresários»

Pela primeira vez, Aly Cissokho vai ao fundo da questão e explica o falhanço nas negociações com o AC Milan, em entrevista ao Maisfutebol. O lateral esquerdo acabaria por trocar o F.C. Porto pelo Ol.Lyon, num ano de 2009 verdadeiramente incrível para a sua carreira.

O que se passou afinal com o AC Milan e a questão dos dentes?
«Não tenho nem tive problemas de dentes. Os verdadeiros problemas foram financeiros. Isso foi apenas uma forma de encobrir a história. Naquela altura não quis falar sobre o assunto, mas prometi a mim mesmo que um dia iria contar toda a história.»

Pode contar agora. Foram problemas com empresários?
«Sim, sobretudo isso. Quando eu estava em França, procurando alternativas ao Guegnon, acabei por assinar contratos com demasiados empresários. Alguns contratos eram válidos por dois anos, outros eram para colocação em determinado clube. A verdade é que, quando eu cheguei a Milão, apareceram não sei quantos empresários a pedir dinheiro ao AC Milan, mostrando procurações assinadas por mim.»

Quantos contratos assinados com empresários tinha, nessa altura?
«Bem, só em França, posso dizer que assinei contrato com cinco empresários franceses. É preciso ver que eu era um jovem, sem experiência, e estava com uma situação complicada no Guegnon. Então, um ano depois, eu cheguei a Itália e apareceram todos esses empresários a dizer que tinham direitos sobre a minha transferência!»

Para além do empresário português e o italiano. O Milan desistiu por isso?
«Sim, o presidente do AC Milan, que é uma pessoa muito poderosa em Itália, ficou muito nervoso. Eu tenho culpa nessa parte, de ter assinado contratos com demasiados empresários. Mas também ouve desacordo entre os clubes, depois. E disso não tive culpa nenhuma.»

Quando o negócio abortou, pensou que ficaria mais um ano no Porto?
«Claro, e não me importaria nada com isso! Não indo para o AC Milan, eu queria ficar no F.C. Porto, um clube onde me sentia muito bem. Gostei muito do clube e da cidade. Estava feliz em Portugal. Mas entretanto apareceu o Ol. Lyon, falei com o F.C. Porto e aqui estou.»

Como correm as coisas em França?
«Pessoalmente, correm muito bem. Fiz quase todos os jogos, tenho boas condições para proporcionar também à minha família e já cheguei à selecção de França! Foi lindo treinar ao lado de nomes como Henry, Anelka ou Evra. Nunca vou esquecer essa experiência. Agora quero continuar a trabalhar para tentar ir ao Mundial. É difícil, porque a França tem muitos laterais esquerdos. Mas eu acredito sempre.»


Lateral esquerdo tem acompanhado os dragões e Alvaro Pereira

Cissokho e o F.C. Porto: «Precisa de melhorar na segunda volta»

Aly Cissokho pensa no Olympique de Lyon e na selecção de França. Para trás, em apenas alguns meses, ficaram o modesto Guegnon, o Vitória de Setúbal e o F.C. Porto. Contudo, o jovem lateral esquerdo não esquece Portugal e continua a acompanhar a nossa Liga. Confissões em entrevista ao Maisfutebol:

Tem visto os jogos da Liga portuguesa?
«Claro, tento sempre ver. Vi há dias o clássico, que o F.C. Porto perdeu. Foi pena. Aqui é difícil acompanhar, porque a televisão francesa não transmite os jogos da Liga portuguesa, apenas da Liga dos Campeões. Mas apanho a RTP Internacional e vou acompanhando os jogos, do F.C. Porto e não só. Deixei muitos amigos aí.»

O F.C. Porto parece-lhe mais fraco que no ano passado?
«Sim, não está tão forte, mas também seria difícil esperar mais, porque o F.C. Porto perdeu muitos jogadores. Entraram outros, sobram vários com muita qualidade e um treinador que sabe muito bem o que está a fazer. O F.C. Porto precisa de melhorar na segunda volta e acredito que isso vai acontecer. Que seja campeão e ganhe a Taça de Portugal!»

E o Alvaro Pereira, que ocupou o seu lugar, que lhe parece?
«Ainda estive quase duas semanas com ele no Porto, antes de seguir para o Olympique de Lyon. Tem qualidade, é internacional pelo Uruguai e penso que se vai impor. Não é fácil jogar no F.C. Porto, é preciso manter um nível bem alto, em todos os jogos. Mas penso que ele, tal como o resto da equipa, também irá crescer na segunda metade da época.»

Que lhe apetece dizer, olhando para o último ano?
«Obrigado. Sim, sem dúvida. Muito obrigado, Portugal! Graças a vocês, às oportunidades que tive aí, a minha vida é muito melhor agora. Estive para cair para a III Divisão de França e num ano cheguei à Liga dos Campeões, ao Ol. Lyon e à selecção nacional. Foi um ano incrível!»

José de Morais: português recorda a selecção sem pátria

José de Morais integra o contingente luso de treinadores emigrados. Portugal espalha representantes pelos quatro cantos do Mundo e multiplicam-se as histórias interessantes, os registos inacreditáveis de experiências sem paralelo na nossa realidade. Em conversa com o Maisfutebol, o actual técnico do Espérance de Tunis (Tunísia) recupera o seu diário de viagem.

Aos 43 anos, Morais já treinou em destinos distintos como Portugal, Alemanha, Suécia, Arábia Saudita, Iémen e Tunísia. A bola é sempre redonda, costumam ser onze para cada lado, mas as semelhanças terminam logo aí. Por vezes, encontram-se muito mais que clubes de futebol. A história do Assyriska, por exemplo, merece ser contada.

José de Morais treinara a equipa B do Benfica, alguns emblemas na Alemanha, Estoril, Ac. Viseu e Santa Clara. Em 2005, recebe um convite da Suécia. Iria encontrar os famosos jogadores altos, loiros e relativamente toscos? Longe disso. O Assyriska chegou ao topo do futebol sueco como representante da comunidade assíria radicada no país. Os assírios são um grupo étnico actualmente sem pátria. As suas origens estão dispersas por Iraque, Síria, Turquia ou Irão.

Cinco milhões de adeptos

«Chamam-lhe uma selecção nacional sem pátria. Aliás, foi feito um documentário nesse ano em que estiveram na primeira divisão, documentário que concorreu a festivais e recebeu um prémio. Nesse ano, a equipa subiu administrativamente, mas estava preparada para jogar na II Divisão e não tinha dinheiro para mais», recorda o treinador português.

O Assyriska subiu e desceu de divisão no ano seguinte, mas conquistou adeptos em cerca de oitenta países. Existem mais de cinco milhões de assírios espalhados pelo Mundo. José de Morais ficou na história: «Não tinha jogadores com experiência de I Liga, mas ainda assim fez bons jogos, mesmo tendo regressado à segunda divisão. Aliás, o mesmo grupo de jogadores, em 2006, desceu à terceira divisão. Ou seja, o trabalho teve a qualidade possível e, como prova disso, posso dizer que o Assinkirya endossou-me um convite há menos de duas semanas, para tentar nova subida ao escalão principal, mas tive de declinar.»

Arábia Saudita, Iémen e Tunísia

«Depois da Suécia, estive em três clubes da Arábia Saudita (Al Faysali, Al Shabab e Al Hazem). Seguiu-se um convite para trabalhar no Stade Tunisien, mas entretanto tive a oportunidade de assumir o comando da selecção do Iémen. Em termos de currículo, seria um elemento bom e decidir aceitar. Infelizmente, as expectativas foram defraudadas, não havia confianças. Senti muitas intromissões nas minhas escolhas. Acabei por forçar a minha posição e sair», vai contando o técnico.

No mês passado, José de Morais regressou à Tunísia para orientar o Esperance de Tunis, líder do campeonato. Um desafio de peso. «A equipa tem estado a jogar em quatro frentes mas desenrascou-se bem. Consegui aumentar a vantagem na frente para três pontos e, com a vitória de 6ª feira, passou para seis, mas o 2º classificado ainda vai jogar. Este é o maior clube da Tunísia, joga perante 40 mil espectadores e rivaliza com o Al-Ahly (Egipto) em termos de notoriedade no Norte de África», sintetiza.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Alvaro e Falcao chegam à Luz: «Benfica é um grande clube»

Alvaro Pereira e Radamel Falcao vão pisar o relvado do Estádio da Luz neste domingo. Com cinco meses de atraso. Os dois jogadores entraram na órbita do Benfica durante o último defeso, chegaram a falar como futuros reforços encarnados, mas voaram para o Dragão.

O clássico de domingo servirá para Alvaro Pereira e Falcao conhecerem, finalmente, a águia Vitória. Contudo, esta não mostrará o seu esplendor nos braços do uruguaio e do colombiano. O Benfica encetou negociações mas não chegou a bom Porto. O clube da Invicta, num ápice, contratou os dois. Shaffer e César Peixoto, Weldon e Keirrison colmataram as lacunas na Luz.

«Não sei se o acordo está perto ou longe. Só sei que os clubes falaram. Só posso dizer que o Benfica é um grande clube, que qualquer jogador gostaria de representar», disse Alvaro Pereira ao Maisfutebol, a 18 de Maio. A 4 de Junho, o F.C. Porto desviou o lateral, a troco de 4,5 milhões de euros por 80 por cento do passe! «Assinei em quatro minutos», disse o defesa, com a marca portista.

«O Benfica é um clube muito grande»

Radamel Falcao seguiu o mesmo trajecto. Voou sobre o Estádio da Luz e aterrou no Porto. «O Benfica é uma equipa muito grande, que disputa as provas europeias. É um orgulho que esteja atrás de mim. Claro que gostaria de jogar no Benfica», dizia o avançado a O Jogo, a 1 de Julho.

«Dadas as indefinições manifestadas pelo jogador e seus representantes, o Benfica informa que Radamel Falcao deixou de fazer parte dos planos da equipa», surpreendia o Benfica, a 7 de Julho.

Uma semana depois, o F.C. Porto anunciava a contratação do avançado. 3,9 milhões de euros por 60 por cento do passe. «Não entendo o que pretendiam. Se fosse para o Benfica ia ganhar menos do que ganho no River», revelou Falcao ao Maisfutebol.

Obrigado ao Benfica, resposta de Rui Costa

Pinto da Costa não perdeu a oportunidade de picar o adversário, com os primeiros golos de Falcao de azul e branco. «Eu não desviei o Falcao, ele voa para onde quer e quis o Dragão. Não há dúvida de que os olheiros do Benfica tiveram grande mérito na vinda deste jogador para o FC Porto», ironizou o presidente (1 de Outubro).

Rui Costa respondeu à letra: «Não percebo bem se é um elogio à nossa prospecção ou se é um puxão de orelhas à prospecção do F.C. Porto. Gosto muito de falar do Benfica. Não sonho com o F.C. Porto todos os dias.» Em Julho, Pinto da Costa aplaudira ainda as contratações de Shaffer, classificando-o como «um grande lateral esquerdo», e de Saviola.

Cardozo e David Luiz, o lado B

As trocas e baldrocas entre Benfica e F.C. Porto não são de hoje. Alvaro Pereira e Falcao chegaram à Invicta, mas o clube encarnado segurou dois talentos que foram cogitados pelos portistas, no passado recente.

O Maisfutebol anunciou, em Junho de 2007, que o F.C. Porto estava fortemente interessado em Óscar Cardozo (Newell's Old Boys). O avançado mostrava-se entusiasmado: «É um clube extremamente atraente. O Porto é uma grande formação europeia e ir para lá é, claro, uma ideia que me agrada.» Dias depois, assinava pelo Benfica.

David Luiz foi outro caso de disputa renhida. Pelo menos, a julgar pelas palavras do jogador. «É verdade, o F.C. Porto quis contratar-me, mas optei por permanecer no Benfica, um clube que me recebeu muito bem e que aprendi a adorar durante estes últimos meses. A proposta do F.C. Porto até era melhor em termos financeiros, mas preferi continuar a evoluir no Benfica», garantia o central, em entrevista a O Jogo, em Jullho de 2007.

Resumindo, e para que não se perca: Alvaro Pereira e Falcao são do F.C. Porto, Cardozo e David Luiz do Benfica. Serão essas as cores que irão vestir no clássico do ano, no Estádio da Luz, neste domingo. O resto é circo. O circo do futebol.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

David Luiz vs Hulk: Vitória comum num duelo com faíscas



O Jogo publica a 17 de Dezembro a mesma reportagem. Não foi copiado, eles tinham falado com o mesmo treinador no sábado. E ficou bem feito, por sinal.

David Luiz e Hulk irão protagonizar o duelo mais escaldante do Benfica-F.C. Porto, o Clássico do próximo fim-de-semana, no Estádio da Luz. Perspectivam-se faíscas no cruzamento de dois jogadores que disputam cada lance como se estivessem ruma corrida rumo ao infinito. Em comum, um passado no Vitória da Bahia, a partilha do mesmo centro de treinos, as sessões em conjunto no ano de 2003.

Nos treinos dos juvenis contra os juniores do Vitória da Bahia, em Salvador, João Paulo Sampaio observava um médio defensivo sem grande futuro e um organizador de jogo com potencial para explodir a qualquer momento. Hoje em dia, quem imaginaria que David Luiz e Hulk partilharam o mesmo relvado, foram até colegas de equipa em algumas sessões, ambos com funções no sector intermediário?

João Paulo Sampaio, coordenador das camadas jovens do clube baiano, revela ao Maisfutebol a história: «Lembro-me que David Luiz ainda era juvenil e veio fazer alguns treinos aos juniores, onde estava o Hulk. Curiosamente, o David Luiz jogava como volante e o Hulk estava numa fase de transição, jogando como meia. Para além disso, moravam no mesmo prédio, no nosso centro de treinos, porque eram ambos de fora da Bahia. Devem ter até jogado na consola juntos, como os meninos fazem aqui», recorda o técnico.

«Esse duelo vai dar faísca»

David Luiz e Hulk realizaram treinos em comum, não mais que isso. O portista chegou à equipa profissional e partiu num ápice para o Japão. O defesa encarnado, um ano mais novo, ficou no Vitória da Bahia até 2006, antes de seguir para o Benfica. Agora, reencontram-se para um duelo que divide os elementos do clube canarinho.

«Como disse, muitas vezes treinaram ao mesmo tempo, às vezes jogavam os juniores contra os juvenis, portanto já devem ter surgido uns atritos nessa altura. São dois jogadores com muito ímpeto. Mas agora estão muito diferentes, cresceram e vão continuar a crescer. Não dá para torcer por um deles. Vamos apostar num empate», brinca João Paulo Sampaio.

Hulk parte dos flancos para o centro do terreno. David Luiz surge no eixo mas faz dobras com regularidade. Choque frontal na Luz: «Como se diz aqui no Brasil, acho que isso vai dar faísca. O Hulk tem velocidade, um grande pontapé, leva vantagem contra defesas lentos. Mas não é o caso do David Luiz. Ele é muito rápido e joga muito bem em antecipação. Vai ser um duelo bem interessante.»

David perto da dispensa, Hulk levou do treinador

João Paulo Sampaio acrescenta pormenores deliciosos à história da águia e do dragão, durante a conversa com o Maisfutebol. O técnico lembra, por exemplo, que David Luiz esteve perto de ser dispensado do Vitória da Bahia, quando chegou a júnior.

«Como disse, ele nos juvenis era volante, jogava no meio-campo defensivo, mas tinha dificuldades. Tanto que chegou a ter o atestado de liberação passado, ia embora. Mas lá decidi experimentar o David como central e ele fez um grande ano. Não tem medo de sair a jogar e isso às vezes deixa-nos com o coração nas mãos. Fez isso num torneio que vencemos na Holanda, contra o PSV Eindhoven. Também é demasiado duro, por vezes, mas nunca teve problemas de comportamento comigo», frisa o treinador brasileiro.

A história de Hulk é ligeiramente diferente. Começando pelos problemas com João Paulo Sampaio, precisamente. «Num jogo em Feira da Santana, ele começou a mandar vir, a abrir muito os abraços. Fiquei irritado. Cheguei ao balneário, derrubei a porta e fui para cima dele. Não pode fazer isso com a comissão técnica. Mas ele entendeu e pediu desculpa. Melhorou muito. Era lateral, esteve uns tempos como meia e explodiu como atacante. Tanto que fez dois jogos na equipa principal do Vitória e foi logo vendido para o Japão», remata o coordenador das camadas jovens do Vitória da Bahia.

Cardozo e Belluschi: memórias do jogo da vida deles

14 de Agosto de 2006, 2ª jornada do Torneio de Abertura. O Monumental veste fato de gala para aplaudir o River Plate, no regresso de Ariel Ortega. O Newell's Old Boys, que vendera o Burrito e um tal de Belluschi, reformulou o ataque com dois paraguaios desconhecidos. Um deles, Oscar Cardozo. No final da partida, choveriam elogios para Tacuara e o Samurai.

Foi um dos melhores jogos do torneio. A memória daquele 3-3, de um Newell's renascido das cinzas após a debandada das estrelas, de um River Plate com um Ortega a milhas do seu real valor, perdura até aos dias de hoje.

Cardozo chegara à Argentina sem rótulo. Neri Pumpido, o treinador que já foi guarda-redes de topo, recorda ao Maisfutebol: «O Cardozo não era conhecido, eu mesmo só tinha visto algumas jogadas em vídeo, nem sequer jogos inteiros. Mas esse talvez o seu melhor jogo de sempre no Newell'. Surpreendeu todos com o seu remate.»

O avançado do Benfica marcara um golo na primeira jornada. Nesse dia, no poderoso Monumental, dobrou a parada e silenciou os «hinchas» do River. O segundo golo, de livre, espantou a crítica.

Fernando Belluschi, escondido na sombra de Ariel Ortega, recebeu um par de palmas antes do apito inicial. No River Plate, Sambueza, Marcelo Gallardo, Ernesto Farías. O médio do F.C. Porto, o Samurai, disputado por River e Boca Juniors no defeso, concentrava poucas atenções. Mas foi ele a salvar Los Millionarios.

Salcedo, o outro paraguaio, inaugurou o marcador. Silêncio no Monumental. Ortega, a estrela, não cintilava. Eis que surge Belluschi, da direita para o centro, passe a rasgar, queda de Farías na área. Penalty convertido por Gallardo.

O Samurai empurrava o River Plate. Ao minuto 22, uma jogada marcante. Belluschi toca para a frente, Ortega domina na área. O médio portista, em velocidade, rouba a bola ao companheiro de equipa, a estrela da companhia. Um ultraje!

El Burrito fica a ver. Simulação, um adversário pelo caminho, remate de pé esquerdo, golo! Belluschi sangra por dentro. Junta as mãos e pede desculpas aos adeptos do Newell's, o seu clube de sempre. Bonito.

«O Belluschi foi vendido semanas antes de chegar o Cardozo ao Newell's. Marcou um golo e sempre achei que é um rapaz com muita dinâmica», elogia Pumpido.

O Monumental respirava de alívio, mas faltava o Tacuara. Em dois minutos, Cardozo apresentou-se à Argentina. Foi o primeiro bis no país das Pampas. A confirmação de um talento desconhecido. Um golo de cabeça, ao minuto 44, um aperitivo antes do prato principal. Logo depois, uma bomba de livre, surpreendendo German Lux. 2-3 para o Newell's.

Aquela patada tornava-se marca registada.

Logo após o intervalo, em livre cobrado por Belluschi, Tuzzio marca na primeira vez em que toca na bola. 3-3, 46 minutos de um «partidazo», assim mesmo, em argentino. Sim, em espanhol, claro.

Termina o River Plate-Newell's, o jogo do ano, sem golos de Farías ou da estrela Ortega. O Burrito continua a ser acarinhado, cercado por um batalhão da imprensa. Para Cardozo e Belluschi, os homens do dia, um único jornalista. O avançado, jovem e acanhado, pouco diz. O médio fala da traição ao Newell's, o seu Newell's, o clube que viu nascer Leo Messi. Sabe que será perdoado.

Veja o vídeo de um jogo marcante nas carreiras de Oscar Cardozo e Fernando Belluschi. No Estádio da Luz, sentirão emoções novas, suarão a camisola. Mas nunca esquecerão o Monumental, aquele 14 de Agosto de 2006. São oito minutos deliciosos, Millionários contra Leprosos. Vale bem a pena.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Conheça o goleador de 16 anos que encanta a Europa

Romelu Lukaku está a encantar adeptos um pouco por toda a Europa. Os maiores «tubarões» do Velho Continense começam a apertar o cerco ao jovem ponta-de-lança do Anderlecht. O Maisfutebol conta-lhe a sua história.

Com apenas 16 anos, o avançado belga tem características físicas impressionantes (1,92 metros) e já marcou seis golos na Liga, em dez jogos com a camisola do Anderlecht!

Este jovem prodígio tem raízes no Congo, mas nasceu em Antuérpia e tudo aponta para uma estreia pela selecção principal da Bélgica a curto prazo. O seleccionador já admitiu a sua chamada nas próximas semanas.

A 24 de Maio de 2009, Lukaku fazia a sua estreia ao mais alto nível. Seis meses depois, está na agenda dos principais clubes Mundiais.

Aliás, antes de assinar contrato profissional com o Anderlecht, o ponta-de-lança foi alvo da cobiça de clubes como o Real Madrid, Arsenal ou Chelsea. Os mesmos que continuam a acompanhar a sua carreira a par e passo. A família optou pela sua permanência na Bélgica, com Lukaku a assinar um contrato válido até 2012.

«É verdade que existiu o interesse de grandes clubes e continua a existir. Mas o Romelu tem mais três anos de escola para completar e preferimos que ele fique aqui, por uma questão de estabilidade. Ele ainda é muito novo, tem de concentrar-se no seu futebol e nos estudos. De qualquer forma, apesar de ter assinado um contrato profissional por três anos, sabemos que pode sair a qualquer momento», explica o pai Roger Lukaku, antigo jogador, em entrevista ao Maisfutebol.

Romelu Lukaku continua a superar todas as expectativas. Em dez jogos na Liga belga, cinco deles como suplente utilizado, marcou seis golos. No último fim-de-semana, brilhou com um cabeceamento de belo efeito. Contudo, não é apenas um matador, uma referência na área. Tem capacidade técnica e provou isso mesmo na jogada do segundo golo, frente ao Lokeren (2-0).

A família do jovem avançado tenta moderar a euforia de Romelu, controlando os gastos do jogador.

«Ele não é o tipo de pessoa que ligue muito a luxos, que pense em ter um Porsche quanto antes. Ele tem uma conta onde entram todos os seus ganhos, mas só terá acesso a essa conta quando fizer 18 anos. Até lá, vamos dando-lhe dinheiro. Quando quer sair, leva 50 euros. A maioria das vezes, volta com o dinheiro no bolso. Ele sabe bem o que quer. O Drogba é o seu modelo, como jogador. Mas isso não quer dizer que vá para o Chelsea. Pode ser o Real Madrid, Barcelona ou qualquer outro», remata Roger Lukaku, em conversa com o nosso jornal.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Descubra o português que treinou a selecção do Brasil!

Brasil e Portugal estreitaram laços desportivos nas últimas décadas, com o fluxo migratório a conduzir bons talentos do futebol «canarinho» para o nosso país. A selecção lusa foi orientada por Otto Gloria e Luiz Felipe Scolari, recebeu jogadores naturalizados como Deco ou Pepe, mas o intercâmbio fez-se nos dois sentidos: o Maisfutebol conta-lhe a história de um português que, nos anos 40, orientou a selecção do Brasil!

Jorge Gomes de Lima nasceu em Lisboa, em 1904, mas fez toda a carreira do outro lado do Atlântico. Joreca, como era conhecido no mundo do futebol, está nos almanaques do São Paulo como um treinador de sucesso, fruto de três campeonatos paulistas conquistados na década de 40. Foi técnico, funcionário da Federação paulista, jornalista, árbitro e até «boxeur», com duas vitórias em igual número de combates. Registo imaculado, portanto.

Joreca, bem falante, grande contador de histórias e adepto incontornável de bons charutos cubanos, chegou a fazer parte de uma comissão técnica que, em 1944, orientou a selecção do Brasil em dois jogos frente ao Uruguai. O português levara o São Paulo à conquista do título, no ano anterior, e juntou-se ao carioca Flávio Costa no banco da «canarinha». A 14 de Maio, o Brasil venceu por 6-1, no Rio de Janeiro. Três dias depois, novo desaire uruguaio (4-1), desta vez em São Paulo. Flávio Costa garantiu a exclusividade do cargo após esse duplo confronto, orientando a selecção até o Mundial de 1950. Também passou pelo F.C. Porto, por duas vezes.

Brilho de Leônidas e cabeça de Baltazar

Jorge Gomes de Lima era conhecido como o «português» nos corredores do São Paulo. Como árbitro, esteve na estreia de Lêonidas da Silva pelo clube. O avançado, proclamado como inventor da «bicicleta», foi pago a peso de ouro em 1942, levando os adeptos da equipa ao delírio. No ano seguinte, face aos maus resultados no arranque do campeonato, o «português» foi convidado a treinar o São Paulo.

Joreca comandou o «Mais querido» durante 166 jogos, vencendo mais de uma centena. Conquistou o Campeonato Paulista em 1943, 1945 e 1946. «O primeiro campeonato do Joreca ficou conhecido como o título da moeda em pé. Palmeiras e Corinthians diziam que iam decidir o título lançando a moeda ao ar. Se caísse de pé, era para o São Paulo. E foi mesmo. Dos textos que li, o Joreca foi uma personagem interessante e importante na década de 40, o primeiro treinador campeão com o Leónidas. Mas não sei o resto da história», explica Renato de Santis, enciclopédia viva do São Paulo, em breve conversa com o Maisfutebol.

Vicente Feola, treinador campeão do Mundo pelo Brasil em 1958, chegou a colaborar com o português Joreca e foi o sucessor deste no final do seu percurso no São Paulo. Seguir-se-ia o Corinthians, durante um único ano, em 1949. Joreca foi o primeiro treinador de Baltazar e ajudou a criar a figura de «cabecinha de ouro», obrigando o avançado a melhorar o jogo aéreo. Baltazar marcou 71 golos de cabeça, foi o segundo maior goleador da história do clube, enquanto o português faleceu no final desse ano, vítima de um ataque cardíaco. Já deixara a sua marca.

«Il Dottore» tem 67 anos e é guarda-redes!

Valentino Rossi apresenta-se como «Il Dottore», mas esse seria o rótulo perfeito para Lamberto Boranga, que vive em Itália e foge continuamente ao ócio da terceira idade. Aos 67 anos, o antigo guarda-redes de Fiorentina e Parma regressou à baliza, brilhou em dois jogos e provou que a idade é apenas um estado de espírito. Agora, parou. Vai para a reforma? Nada disso. Boranga quer defender o título de recordista mundial do salto em comprimento, conquistado na categoria Master.

Nestes 450 caracteres, apresentámos o resumo de uma vida que faria inveja a qualquer trintão de sofá, a olhar para a sua barriga de cerveja. Lamberto Boranga respira saúde e apresenta um registo físico impressionante. Por estes dias, treina com o plantel do Perugia e dedica parte do seu tempo ao atletismo. No próximo ano, estará nos Mundiais da classe acima dos 60 anos.

Voltemos atrás. Lamberto Boranga nasceu em 1942. Defendeu a baliza de Perugia, Fiorentina e Parma, entre outros. Aos 50 anos, o primeiro regresso. O modesto Bastardo perdera todos os guarda-redes e recorreu ao «doutor», formado em cardiologia e biologia. Aliás, Boranga trabalha no Centro de Saúde de Magione, na especialidade de Medicina Desportiva.

«Pedi uns pneus para jogar no Ammeto»

Em Setembro de 2009, surge a notícia bombástica. Novo regresso! O Ammeto, dos regionais de Perugia, tem os dois guarda-redes suspensos para o arranque do campeonato. Alguém pensou em Lamberto Boranga.

«Sou médico e, ao lado do sítio onde trabalho, existe uma loja de pneus. O dono da loja pediu-me para defender a baliza do Ammeto. Em jeito de brincadeira, até pedi uns pneus grátis em troca. Mas a verdade é que lá me convenceram. Aquilo correu bem. Vencemos por 3-2 e ainda fiz um par de boas defesas», recorda «Il Dottore», em entrevista ao Maisfutebol.

Seria apenas um jogo, mas Lamberto Boranga entusiasmou-se. Os responsáveis do Ammeto gostaram e ampliaram o prazo. Mais uma partida, desta vez em casa. Correu mal. «Perdemos e não joguei bem. Assim, para mim, acabou, não quero cair no ridículo. Para além disso, os outros guarda-redes recuperaram, não era justo um velho roubar-lhes o lugar», atira Boranga, entre sorrisos.

«Lembro-me de Vítor Baía e Preudhomme»

«Agora, estou a treinar para os Mundiais de atletismo do próximo ano, em Budapeste. Continuo a treinar futebol, uma vez por semana, com o Perugia. O guarda-redes, o Benassi, é bom e está sempre a pedir-me para voltar, a dizer-me que se orgulha do que ainda consigo fazer. Não bebo, não fumo, vivo uma vida sã. É apenas esse o segredo», garante este super-homem do desporto.

Na conversa com o Maisfutebol, Lamberto Boranga tenta encontrar pontos de ligação com Portugal, com o futebol português: «Bem, claro que acompanho o Mourinho, já desde que foi campeão europeu com o F.C. Porto. E lembro-me do guarda-redes, o Vítor Baía. Não muito alto, mas elástico, explosivo a sair da baliza, como eu. O Benfica teve Preudhomme, outro guarda-redes de grande qualidade.»

«Mortes súbitas? Faz parte da história»

Especializado em Medicina Desportiva, «il Dottore» originou controvérsia em 2005, quando revelou a utilização generalizada de cortisona e nandrolona, no seu tempo. Estranhou ainda o desenvolvimento corporal de Messi, desde que apareceu no Barcelona, atribuindo-o a hormonas de crescimento.

Por outro lado, Lamberto Boranga evita associar esses hábitos à multiplicação de casos de morte subida no desporto. «Não creio que os factos estejam ligados. A morte súbita faz parte da história do desporto. Sempre aconteceram, infelizmente. É muito difícil falar sobre esse tema. A transformação dos tecidos musculares, os treinos duros, podem acelerar o desenvolvimento de arritmias cardíacas. Mas é tudo muito difícil de prever», remata o italiano.

Conheça o clube mais antigo do Mundo no seu 152º aniversário

O clube mais antigo do Mundo, com o cunho oficial da FIFA, prepara-se para celebrar o seu 152º aniversário. O Sheffield Football Club surgiu a 24 de Outubro de 1857. O futebol veio da China, chegou a Inglaterra sem regras e prometia confundir-se progressivamente com o rugby. Os «Códigos de Sheffield» colocaram ordem no caos.

«Foi importante termos o reconhecimento da FIFA, porque mesmo hoje em dia, os adeptos em geral pensam que foi o Notts County ou qualquer outro a surgir primeiro. Não é verdade», explica o presidente Richard Timms, no início da conversa com o Maisfutebol.

O Sheffield F.C. criou um conjunto de regras que viria a ser adoptado pelos restantes clubes da Football Association, fundada seis anos mais tarde. «Quando surgimos em 1857, rapidamente surgiram mais clubes em Sheffield e em Londres, mas cada um jogava conforme as suas regras. As nossas foram as primeiras, já contemplavam a trave, o pontapé de canto, o primeiro livre. Alguns anos depois, acabaram por ser adoptada por todos», diz Timms.

Um espírito puro e amador

A cidade de Sheffield viu nascer o United e o Wednesday, clubes que avançaram para o profissionalismo e deixaram o F.C. nos escalões inferiores do futebol inglês. Nada que perturbe os adeptos do clube: «No início, os jogadores não praticavam o desporto por dinheiro. Tentámos, ao máximo, não alterar esse espírito. A nossa missão é manter o futebol no estado puro. Os nossos jogadores sempre foram amadores ou semi-profissionais.»

«Quando as pessoas nos ligam, pensam que estão a falar com o Sheffield United ou o Sheffield Wednesday. Não há problema. Temos uma boa relação com eles. Nós somos diferentes. Uma pessoa pode torcer pelo Benfica ou pelo Boca Juniors, não interessa. No fundo, terá sempre uma ligação ao Sheffield F.C., pois fomos nós a apresentar o jogo ao Mundo», lembra o presidente do emblema britânico.

Ordem de Mérito da FIFA

O Sheffield F.C. disputa actualmente a UniBond League Division, o oitavo escalão do futebol inglês. O clube mais antigo do Mundo, o detentor da Ordem de Mérito da FIFA, uma honra apenas ao alcance do Real Madrid, refugia-se na história.

«Temos actualmente 500 adeptos no estádio, quando jogamos em casa, e cerca de 1.700 espalhados no Mundo, como reconhecimento pelas nossas raízes. Há dois anos, quando celebrámos o nosso 150º aniversário, defrontámos o Inter de Milão e fomos visitados por Pelé. Isso são suficientes motivos de orgulho», considera Timms.

O clube tem sócios de enorme peso, como Sven-Goran Eriksson ou Sepp Blatter. Os Def Leppard, banda da cidade, já se associaram à causa. Nesta altura, o Sheffield F.C. tenta regressar ao terreno onde disputou os primeiros encontros e implementou as regras que viriam a criar raízes no desporto. «Seria um regresso com enorme peso simbólico. Estamos a fazer por isso. Depois, veremos o que acontece no futuro, se podemos subir mais algumas divisões. Mas nunca perderemos o nosso espírito, essencialmente puro», remata o presidente, em entrevista ao Maisfutebol.

«Um Paulo Bento para todos», defendem os Paulobentenses

«Um Paulo Bento para todos». Já imaginou? Andar pela rua e deparar-se com panfletos ou cartazes a espalhar a máxima de um povo? Um Paulo Bento para cada um, ou para todos neste caso. Dá que pensar.

O nome não se resume ao treinador do Sporting, antigo internacional português. Do outro lado no Atlântico, aparece um local remoto onde todos são Paulobentenses.

Não passam de 2090 pessoas, divididas quase equitativamente entre homens e mulheres. Pegando nesse números, percebe-se que apenas 477 são consideradas como população urbana. Em Paulo Bento, município de Rio Grande do Sul, a terra continua a ser a principal fonte de subsistência.

Lá, a cerca de 400 quilómetros da capital Porto Alegre, terra que viu crescer craques como Ronaldinho Gaúcho ou Anderson, poucos ouviram falar do outro Paulo Bento. Todos eles são Paulo Bento. Ou melhor, Paulobentenses.

«Já ouvi falar de um jogador...»

Não é fácil entrar em contacto com o Rio Grande do Sul profundo. Ainda mais, explicar a curiosa mistura de um treinador de futebol com uma localidade onde o desporto é subjugado do peso do labor.

Numa terra onde até os números de telemóvel dos vereadores são do conhecimento público, Carlos Alberto Dall Agnol acaba por responder ao contacto do Maisfutebol. A ligação é péssima, dá apenas para o essencial.

«Paulo Bento, futebol? Realmente, eu sabia que existia um jogador chamado Paulo Bento, em Portugal, mas treinador não», começa por dizer o vereador. Actualiza-se o percurso do antigo internacional luso e o vereador de Paulo Bento sorri com a coincidência. «É mesmo, treinador de uma grande equipa de Portugal? É curioso, isso, sem dúvida. Temos de ficar atentos ao trabalho dele. Claro, vamos todos torcer por ele», promete, de fugida. Não há tempo para distracções.

Paulo Bento governa-se com o gado

A história de Paulo Bento, deste Paulo Bento de Rio Grande do Sul, conta-se em poucas linhas. Importava perceber o óbvio, antes de mais: porquê uma terra chamada Paulo, Paulo Bento? Em 1870, os irmãos Paulo e Manuel Bento de Souza tomaram posse daquelas terras. Está explicado.

A agropecuária dita leis em Paulo Bento e os últimos números apontavam para cerca de 27 mil cabeças de gado. Recorde-se, para 2090 pessoas. Com uma área de 148 quilómetros quadrados, o município homónimo do treinador do Sporting apresenta um modesto PIB per capita: qualquer coisa como 4, 5 euros.

É gente de trabalho, deu para perceber, sem tempo para grandes distracções, mas ficou a promessa. A partir de agora, Paulo Bento de Portugal terá seguidores atentos e fiéis em Terras de Vera Cruz: os Paulobentenses. Sempre são mais 2090 adeptos para o derby que aí vem.

Um Paulo Bento para todos? «Não é fácil», diz o próprio

Paulo Bento, o treinador do Sporting, não tem ligações ao Rio Grande do Sul. Aliás, passa a ter, pois o antigo internacional português não estava a par da coincidência. Do outro lado do Atlântico, na zona do Alto Uruguai, há uma localidade chamada Paulo Bento, repleta de Paulobentenses.

«Sinceramente, desconhecia a existência de uma terra chamada Paulo Bento. Agora que sei, vou estar atento e sou capaz de fazer algumas perguntas para saber mais informações», admitiu o técnico, quando confrontado pelo Maisfutebol. Terá pensado que seria brincadeira, mas não é. Existem mesmo 2090 Paulobentenses no Brasil.

O lema do município, conforme foi referido, é simples: «Um Paulo Bento para todos». Ao ouvir esta frase, do outro lado da linha, o próprio Paulo Bento teve dificuldade em suster o riso e reconheceu a dificuldade de agradar a gregos e troianos. «Não é fácil... Mas se pudermos ser bons para todos, tanto melhor. Tudo o que possamos fazer para o bem dos outros é, sem dúvida, positivo», defendeu.

Rochemback e Polga partilham as origens

Paulo Bento está a preparar o derby com o Benfica e caso esteja, ainda, intrigado com a história da localidade homónima, basta dirigir-se ao balneário do Sporting e questionar dois jogadores em particular.

Percorrendo a história desportiva do Rio Grande do Sul, à procura de referências para aproximar as partes, surgem dois jogadores do clube leonino. Anderson Polga e Fábio Rochemback nasceram algures entre a capital do Estado, Porto Alegre, e o tal município denominado Paulo Bento.

Anderson Polga nasceu em Santiago, mais perto da fronteira com o Uruguai, enquanto Fábio Rochemback veio ao Mundo em Soledade, a meio caminho entre Paulo Bento e Porto Alegre. Será que já passaram por lá?

Empresário de jogadores conhece o Arsenal de Paulo Bento

Jorge Baidek, antigo defesa-central e actual empresário de futebol, ganhou o prémio de máximo representante desportivo da zona do Alto Uruguai, no Brasil. Após vários contactos para Paulo Bento, a tal localidade homónima do treinador do Sporting, surgiu finalmente um nome conhecido. «Futebol? Só conheço o Baidek», referiu um vereador.

De facto, Baidek nasceu e cresceu em Barão de Cotegipe, outra pequena localidade da microrregião de Erechim. Quando começa a relatar a sua história ao Maisfutebol, vem dar razão a McLuhan e ao seu conceito de Aldeia Global: «Paulo Bento? Conheço sim, aliás, a minha esposa é de Paulo Bento, foi lá que a conheci.»

«É estranho e tem muita piada, mas nunca me tinha lembrado de comentar isso com o treinador do Sporting. Tenho muitos laços lá, sim, e costumo passar as minhas férias em Paulo Bento. Um dos meus cunhados, Pedro Lorenzi, é o prefeito de Paulo Bento há oito anos», refere o agente.

O Arsenal de Paulo Bento

Baidek leva-nos por uma visita guiada, à distância, através da estrada que liga Barão de Cotegipe, Erechim, Paulo Bento e outras localidades do Alto Uruguai: «Aquilo é uma região de agricultura, de pecuária. É gente que vive da terra, mas de uma terra lindíssima. Conheço bem porque de Cotegipe a Paulo Bento é só percorrer a mesma estrada, fica a uns dez quilómetros.»

«Naquela terra, só existe um clube de futebol, e amador. É o Arsenal de Paulo Bento. Para você ver, o presidente do clube é outro cunhado meu, Celso Lorenzi», explica, sorrindo progressivamente com as coincidências.

Erechim e a ressaca do Grenal

Erechim é a capital da microrregião onde Paulo Bento está inserido. Fica a meia dúzia de quilómetros e motiva um constante fluxo migratório. Jorge Baidek também deixou a sua terra natal de Barão de Cotegipe para instalar-se definitivamente na «Capital da Amizade».

Bem perto de Paulo Bento, o fervor futebolístico cresce exponencialmente. Em 1970, foi inaugurado o Estádio Olímpico Colosso da Lagoa. «Na altura, tinha capacidade para 45 mil espectadores. Ou seja, toda a gente da região cabia lá dentro. Foi realizado um torneio e Pelé marcou o primeiro golo, na vitória do Santos sobre o Grémio. Foi o seu golo 1040. Aliás, actualmente, para sintonizar a Rádio Difusão de Erechim, tem que colocar 1040 na frequência, por causa disso», refere Jorge Baidek.

O Estádio Colosso da Lagoa foi palco do mais recente confronto entre Grémio e Internacional de Porto Alegre, o famoso Grenal. A 8 de Fevereiro, o Inter foi mais feliz e venceu por 2-1, com golos de DAlessandro e Nilmar. Ali, do outro lado do Atlântico, mas bem perto de Paulo Bento.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Ú-Á-Ouattara: «Desculpa pai Queiroz, mas podemos surpreender»

Lembra-se de Ahmed Ouattara? Ou melhor, do Ú-Á-Ouattara? O antigo avançado de Sporting e Salgueiros é o secretário-técnico da selecção da Costa do Marfim, primeiro adversário de Portugal na fase de grupos do Campeonato do Mundo de 2010. Em entrevista ao Maisfutebol, o ex-jogador recorda a passagem pelo nosso país e fala sobre o duelo com a selecção nacional na África do Sul.

«Vai ser muito difícil para nós, porque Portugal e Brasil são duas grandes nações. Falei com Carlos Queiroz depois do sorteio e dissemos logo que seria um jogo muito disputado. Será um reencontro com ele, Queiroz foi como um pai para mim quando estive no Sporting. Mas desculpa pai Queiroz, penso que podemos surpreender Portugal», começou por dizer.

Outtara não esquece a música entoada pelos adeptos do Sporting, entre 1995 e 1996: «Amo muito Portugal, passei dois anos em Lisboa e fui muito feliz com a família, adorei a cidade e as pessoas. Lembro-me perfeitamente da música que cantavam para mim: Ú-Á-Ouattara. Adorava ouvir aquilo. É uma grande recordação, que fica para toda a vida.»

«Marquei golos contra o F.C. Porto, contra o Benfica, marquei ao Vítor Baía, ao PreudHomme. Marquei e ganhámos uma Supertaça em Paris, frente ao F.C. Porto. Penso que fiz boas coisas em Portugal», remata o antigo avançado.

«O impossível não é marfinense»

Aos 40 anos, Ahmed Ouattara recorda a segunda passagem pelo campeonato nacional, agora para representar o Salgueiros: «Em 2000, voltei ao campeonato português para jogar no Salgueiros. Fizemos a melhor época da equipa em muitos anos. Não sabia que tinham desistido do futebol português. É uma pena, porque o clube era como uma grande família, com boas pessoas.»

Actual funcionário da Federação da Costa do Marfim, o ex-jogador continua a seguir o campeonato português, sobretudo para acompanhar Marc Zoro. «Encerrei a carreira como jogador na Costa do Marfim e agora sou secretário-técnico da selecção. Moro em França e observo jogos na Europa. Costumo acompanhar a carreira do Marc Zoro, que está agora no Setúbal. É um jogador de selecção, deve estar no Mundial e tem valor para jogar no Benfica, sem dúvida», garante.

«A nossa selecção pode ir longe no Mundia. Temos grandes jogadores, como o YayaTouré, o Kalou ou o Drogba, mas Portugal tem Deco, Cristiano Ronaldo ou Simão Sabrosa, que jogou comigo no Sporting. Vai ser um primeiro jogo interessante. Para mim, Portugal é um dos favoritos a vencer o Mundial. Quanto a nós, no meu país costuma-se dizer: o impossível não é marfinense», remata Ú-Á-Ouattara.

sábado, 5 de dezembro de 2009

António Ribeiro: oliveirense à conquista dos Estados Unidos

António Ribeiro nasceu em Oliveira de Azeméis, Portugal. Emigrou para Montreal, Canadá. Aos 29 anos, surge na Major League Soccer, dos Estados Unidos da América, com a camisola dos San Jose Earthquakes. Um salto de gigante, uma história que merece ser contada na primeira pessoa.

«Nasci em Oliveira de Azeméis mas fui para o Canadá com 11 anos, com os meus pais. Comecei a jogar aqui, não joguei em Portugal. Deu os primeiros toques nos Sporting Patriots de Montreal, uma equipa de jovens portugueses, e a partir daí comecei a crescer como jogador», começa por relatar o médio, em entrevista ao Maisfutebol.

Ribeiro vestiu a camisola 8 do último classificado da Major League Soccer. Chegou a meio da época, com a equipa mergulhada no fundo da tabela classificativa. Antes, trilhara o seu caminho no futebol do Canadá. «Jogou no campeonato canadiano de províncias, pela equipa do Quebec. Os melhores jogadores são escolhidos para um programa de alta performance. Assim, cheguei à selecção do Canadá, disputei o torneio da CONCACAF com 18 anos e os jogos Pan Americanos em 1999. Em 2007, joguei pela selecção principal», recorda.

O jogador português passou oito épocas no Montreal Impact, antes de progredir para o futebol dos Estados Unidos da América. «Terminei contrato com o Impact e tinha um amigo que jogava nos San Jose Earthquakes. O treinador também me conhecida, portanto fui fazer um ensaio de uma semana e fiquei. Esses ensaios são normais aqui, mas compreendo o que aconteceu com o João Vieira Pinto, por exemplo. Um internacional português não pode vir treinar à experiência para cá», frisa.

Um português sem interesse pela Liga

António Ribeiro nasceu em Portugal, não esquece o nosso país mas denota algum desinteresse pela Liga nacional. O pai torce pelo F.C. Porto, passou-lhe a simpatia mas torna-se difícil acompanhar o nosso futebol, a partir dos Estados Unidos da América.

Aos 29 anos, o médio ofensivo afasta a ideia de uma aventura no futebol português. Cresceu na América do Norte e pretende continuar por lá: «Cheguei ao San Jose a meio da época, sem preparação. Estávamos em último lugar e foi difícil jogar, mas assinei por quatro anos e vou continuar aqui. A equipa vai disputar novamente a Major League Soccer e faremos melhor no próximo ano.»

«Quero conquistar o meu espaço no futebol dos Estados Unidos e talvez experimentar outro campeonato. Queria jogar no México, sempre me interessou. Quanto a Portugal, é o país onde nasci, terei sempre Portugal no coração, mas esta é a realidade que conheço e irei continuar por cá. Voltei há dois anos a Portugal, num estágio do Montreal Impact, e foi bom matar saudades da família, mas sinto-me bem aqui», frisa António Ribeiro.

A selecção dos Estados Unidos da América garantiu a qualificação para o Mundial de 2010 e apresenta uma equipa interessante. António Ribeiro confirma. O futebol local está a evoluir. «Aqui, têm muito bons programas para desenvolver os jovens. Não sei se isso acontece na Europa. Tenho um colega de equipa que se chama André Luiz Moreira e jogou no Tenerife, no Paris Saint-Germain, no Marselha e mesmo no México. Quando lhe perguntei qual era o sítio mais difícil para jogar, ele respondeu: na MLS. Há muita pressão, correm muito», remata o nosso representante luso, em conversa com o Maisfutebol.

Vídeo sobre António Ribeiro

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Mundial: sem-abrigo escondidos em «campo de refugiados»

A Cidade do Cabo veste fato de gala para o sorteio da fase final do Campeonato do Mundo de 2010. Celebridades, ligadas ao desporto e não só, concentram-se na capital da África do Sul para abrilhantar um evento que serve de cartão-de-visita para o torneio. A 20 quilómetros da cidade, empilham-se os sem-abrigo afastados do centro da Cidade do Cabo nos últimos tempos.

As autoridades da capital da África do Sul criaram a «Symphony Way Temporary Relocation Area» em 2007. Localizada em Delft, a área tem cerca de 1.500 estruturas com uma única divisão, feitas com paredes de lata e tectos de zinco. 18 metros quadrados cada. Os locais encontraram um nome mais apropriado. Esta é a Blikkiesdorp, «Cidade de Lata», na língua nativa.

Jerome Daniels, activista da Western Cape Anti-Eviction Campaign, garante ao Maisfutebol que os sem-abrigo da Cidade do Cabo estão a ser deslocados compulsivamente para a Blikkiesdorp, criando uma situação insustentável para os seus habitantes. «E isto é só agora para o sorteio. Lá para Maio, um mês antes do início do Mundial, serão milhares de pessoas a serem atiradas para cá, escondidas do Mundo», começa por dizer.

«Isto parece um campo de refugiados, parecemos judeus na época nazi. Na semana passada, retiraram 20 famílias que estavam em casas (ndr. habitações devolutas e sem condições) perto do estádio há 25 anos e colocaram-nas aqui. As autoridades chegam sem ordens do tribunal mas não querem saber disso. E como disse, em Maio vão limpar a cidade em peso, vai ser uma desgraça», alerta.

«Querem esconder estas pessoas do Mundo»

Delft é uma localidade próxima da Cidade do Cabo, bem perto do aeroporto internacional. As selecções que chegarem à África do Sul poderão vislumbrar, no momento da aterragem, esse cenário grotesco. Depois, virá a imagem de luxo, os estádios e hotéis, o retrato perfeito pintado pelos organizadores do Mundial e pela FIFA.

«Apesar de estar localizada a cerca de 20 quilómetros do estádio, a 15 dos limites da Cidade do Cabo, a verdade é que a Blikkiesdorp está longe de tudo. Não temos transportes, temos de fazer vários quilómetros a pé para chegar a algum lado. Já percebemos a intenção dos políticos: querem esconder estas pessoas do Mundo. Mas esta também é a realidade da África do Sul», alerta Jerome Daniels.

Os residentes da Blikkiesdorp e aqueles que montam as suas tendas nas imediações (Os Symphony Way Pavement Dwellers preferem ficar no exterior, em tendas, face à onda de criminalidade no local) procuram lutar contra o esquecimento e a exclusão. «Não há condições sanitárias, multiplicam-se os vírus, não há escolas, nada. Agora, que estão a trazer os sem-abrigo para cá, isto está a tornar-se cada vez mais um paraíso para os criminosos, os traficantes de droga. As pessoas têm medo de sair à rua, até durante o dia.»

A Blikkiesdorp tem arame farpado a toda a volta. Naquele descampado transformado em «campo de concentração», ninguém se move sem o consentimento dos policiais colocados na única entrada, em dois veículos de controlo de multidões. No fundo, constroem-se mais estruturas de lata, para os que estão a chegar. Eles não farão parte do Mundial.

Ângelo Ferro, futebolista e actor porno: «Junto prazer e trabalho»

Luzes, câmara, acção!

Ângelo Ferro prepara-se para o mais difícil desafio da sua vida. E não falha. Conclui à primeira o trabalho, apesar de estar em estreia absoluta. O ambiente do set onde grava as cenas do filme pornográfico «intimida», mas o futebolista de uma equipa dos distritais de Setúbal supera a prova com distinção.

Importa dizer que Ângelo Ferro é apenas o nome artístico deste jovem de 26 anos, que o Maisfutebol foi conhecer. Por motivos óbvios, pede recato e prefere não se expor publicamente. Mas conta com orgulho a sua história. Um relato que mistura «a busca do prazer» com «o dever do trabalho».

«Jogo futebol desde os cinco anos e estive perto de ser profissional. Não aconteceu. Recentemente respondi a um anúncio na internet e inscrevi-me num casting de uma produtora para filmes de adultos. Estava sem trabalho fixo e tentei tornar real algo que faz parte do imaginário de muitas pessoas.»

O futebolista passou a entrevista com distinção - «apenas uma conversa e uma sessão fotográfica» - e foi convidado a participar no filme O Diário Sexual de Maria.

«Sabia que não podia tremer. Com o primeiro beijo e o primeiro toque descontraí-me. Esqueci-me que estava rodeado por muitas pessoas.»

Pelé, Maradona, Rocco Siffredi, Nacho Vidal...

A maior parte dos jovens futebolistas tem como ídolos Pelé, Maradona, talvez Cruyff ou Garrincha. Ângelo Ferro juntou dois nomes a estes: Rocco Siffredi e Nacho Vidal, ícones da indústria pornográfica. A atracção por este mundo vem, como se percebe, de há muito tempo.

Durante vários anos, Ângelo manteve o desejo controlado. Viveu para a escola e para o futebol. Mas o que tem de ser, tem mesmo muita força. A entrada na rede do cinema porno foi mantida em segredo «por segurança», mas apenas até ao futebolista/actor perceber que era realmente esta a vida que pretende.

«Fui honesto com a minha família. Quando lhes disse ficaram um pouco preocupados, o que é normal. Qualquer pai prefere ver o filho como advogado ou médico. Depois deram-me todo o apoio indispensável e respeitaram a minha escolha.»

E a namorada? «Agora tenho muitas», responde Ângelo Ferro. «Não tive nenhuma reacção negativa até hoje. Todas as pessoas continuam a falar bem comigo.»

«Em Portugal não é fácil encontrar um actor porno»

A dada altura, o futebolista decide também contar as suas aventuras cinematográficas aos colegas de equipa. Instintivamente, toda a gente no clube reage com silêncio e aparente indiferença. Tudo muda com o passar do tempo. «Os homens são assim, mais camaradas do que as mulheres. Só brincam comigo. Têm muita curiosidade e alguma inveja. O ambiente é óptimo.»

Ângelo é apaixonado por futebol e, apesar de viver na zona sul, assume o amor pelo F.C. Porto. «Não estamos num bom momento mas mantemos a mística. Admiro o Bruno Alves pela raça, o Raul Meireles pela segurança e o Varela por viver na minha zona e já nos conhecermos há muito tempo.»

Para breve fica a promessa de mais uma participação num filme para adultos. Ângelo trabalha a recibos verdes e recebe «muito bem» por cada cena que protagoniza. Só lamenta a falta de coragem dos homens portugueses.

«Não fazemos filmes para nós, fazemos para outras pessoas. Recebemos cerca de 500 inscrições no site da produtora, antes do Salão Erótico de Lisboa. Desses, só um apareceu. Em Portugal não é fácil encontrar um actor porno.»

Corta!

20 anos após a queda do Muro, a história do herói desertor

A história do futebol da Alemanha Oriental está intimamente ligada a um nome: Jurgen Sparwasser. Foi ele que marcou o golo da única vitória sobre a Alemanha Ocidental. O que se tornou um feito capitalizado pelo regime comunista de leste. Até ao dia em que também ele fugiu, como cerca de cinco mil alemães orientais.

Mas por partes. Primeiro o golo. Aconteceu em Hamburgo, no Mundial organizado pela Alemanha Ocidental. O pontapé vitorioso aos 77m permitiu à Alemanha de Leste ganhar o grupo à frente da Alemanha Ocidental. O que deixou às portas do céu o orgulho do bloco de leste. Até o defunto Estaline exultou na campa.

Sparwasser foi então convertido num menino-propaganda do regime. Uma distinção que o jogador nunca quis. Por isso fugiu. Aproveitou um jogo de veteranos e desertou. Estabeleceu-se em Frankfurt, onde trabalhou como adjunto do Eitracht. Foi na capital financeira da Alemanha que soube da queda do Muro de Berlim.

O golo que foi apenas mais um golo

Ora no dia em que se completam vinte anos sobre a queda do Muro de Berlim, que por essa altura estava mais firme do que um Trabant, o Maisfutebol falou com Sparwasser. Com o auxílio da assessoria de imprensa de Hugo Almeida, ouvimos o herói dizer que «não foi o golo mais importante» da carreira dele.

Sparwasser não quer ser lembrando como uma arma da Guerra Fria. «Na época existia uma grande rivalidade e eu fiquei obviamente feliz com o golo. Mas foi um jogo como outro do Mundial. Disseram que eu fiquei rico, mas não é verdade. O golo só me deu fama e a fama deu-me oportunidades».

A deserção para a Alemanha Ocidental

As oportunidades surgiam porém condicionadas pelo regime e pela Stasi. O que Sparwasser nunca aceitou. Por isso em 1988, já depois de encerrar a carreira de jogador e um ano antes da queda do muro de Berlim, fugiu para a Alemanha Ocidental. Aproveitou uma viagem a Frankfurt e ficou lá.

«Dava aulas na universidade e fui indicado para treinador do Magdeburgo. Mas só queria dar aulas. Era um momento político diferente e não podia dizer-se que não. Para não acabar com as perspectivas de carreira fui obrigado a sair. Não poderia ficar e continuar na universidade, o regime não me dava essa escolha.»

Um caso que não foi único entre heróis

Curiosamente Sparwasser não foi o único desertor do regime. Lutz Eigendorf, defesa da selecção e do Dínamo de Berlim (o clube da Stasi) também fugiu. Aproveitou um jogo com o Kaiserlautern e nunca mais regressou ao lado oriental do Muro. Eigendorf teve porém um fim bem mais trágico.

A deserção aconteceu em 1979, numa altura em que o fim da divisão ainda estava longe. Pouco depois de fugir, Eigendorf morreu na sequência de um acidente de automóvel. Na altura disse-se que o jogador estava bêbado. Após a queda do Muro, descobriu-se que o acidente tinha sido provocado pela Stasi.

Vinte anos depois da queda do Muro, Sparwasser diz que são episódios da história. «A Alemanha Oriental foi integrada na Alemanha Ocidental e as diferenças foram sendo absorvidas.» Só quer saber de futebol. «Aquele jogo foi muito marcante e é um motivo de celebração independente de qualquer questão política.»

De Maradona a Ronny: a história das mãos de Deus

«Diego Armando Maradona, 22 de Junho de 1986, Estádio Azteca. Na Cidade do México, o argentino regista a patente perpétua da «mão de Deus». A Inglaterra não perdoa o gesto, mas a história repete-se. De Maradona a Vata, de Vata a Ronny, de Ronny a Adriano, são vários momentos para recordar. Ou não.

O Internacional Board decidiu, no passado sábado, avançar para testes com cinco árbitros, colocando mais um par de olhos em cada linha de fundo. Seria possível, dessa forma, evitar golos que perduram na memória colectiva dos adeptos de futebol? Veremos.

Maradona cometeu a proeza de marcar o melhor golo do século e o mais polémico no mesmo jogo. Multiplicaram-se os seguidores. Muitos tentaram repetir o contorno sucessivo de adversários, rumo à baliza. Outros, nem tantos, imitaram o primeiro gesto, aquele salto dissimulado e um movimento de cabeça para nada. A mão, essa sim, compensou a falta de centímetros e começou a desenhar o triunfo (2-1).

Vieram as réplicas, a espaços. No futebol português, por exemplo, os mais atentos recordam Paulinho Cascavel num Vitória de Guimarães-Groningen, de 1986/87, ou Stephane Paille num F.C. Porto-E. Amadora, no segundo jogo da Supertaça de Portugal de 1990.

Nesse mesmo ano, nas meias-finais da Taça dos Campeões Europeus, Vata produz uma das fotocópias mais importantes da «mão de Deus», frente ao Marselha de Mozer, conduzindo o Benfica à final. Nos anos mais recentes, em pleno Estádio de Alvalade, Ronny (P. Ferreira) passou a inimigo público do Sporting. E há bem pouco tempo, provando que o futebol pouco evoluiu no escrutínio desses lances, Adriano decidiu um derby de Milão com o braço, de olhos fechados.»

«Bobby Robson e a mão de Maradona: "Nem com 10 árbitros"

Sir Bobby Robson continua a lutar contra os problemas de saúde que limitam a sua esperança da vida, mas fala com toda a jovialidade que contagiou os adeptos portugueses e não só, durante largos anos. Aos 76 anos, o treinador não esquece um dos momentos mais tristes da carreira. Esse mesmo. A «mão de Deus» no Mundial de 1986.

Diego Armando Maradona bisou de forma cruel. Com um golo de antologia e outro de pura batota, pouco antes. «Foi o momento mais bizarro a que assisti em toda a minha vida. Sinceramente, acho que toda a gente presente naquele estádio percebeu que Maradona tinha marcado com a mão, mas pronto, não há nada a fazer. Foi pena», reconhece Robson, seleccionador de Inglaterra nessa competição, em conversa com o Maisfutebol.

O antigo técnico de Sporting e F.C. Porto continua a acompanhar o fenómeno futebolístico, apesar do desgaste natural provocado pela sua doença. Bobby Robson aplaude a medida aprovada pelo Internacional Board no último fim-de-semana, relativa a testes com árbitros na linha de fundo.

«Sinceramente, apoio qualquer medida que ajude o futebol, mas é preciso testar bem as coisas antes. Será importante termos um período de análise e testes com cinco árbitros, para vermos como a experiência resulta. Nesse golo de Maradona, não sei se isso iria adiantar de muito. Se calhar, nem com 10 árbitros¿ O árbitro não viu, o fiscal-de-linha diz que também não viu, portanto não sei que fazer, temos de acreditar neles», remata Robson, com aquela gentileza incomparável, mesmo num momento extremamente complicado.»

«Vata e o golo ao Marselha: «Não marquei com a mão»

Vata Matanu Garcia está do outro lado do Mundo mas continua a ser acarinhado pelos adeptos do Benfica. Desde a Austrália, onde tem uma academia de futebol, o avançado angolano recorda o título de melhor marcador do campeonato português, na época 1988/89, e um golo polémico nas meias-finais da Taça dos Campeões Europeus, frente ao Marselha, no ano seguinte.

«É difícil para mim falar desse lance, porque as pessoas não acreditam em mim. As pessoas dizem que viram, mas fui eu que marquei, que estava lá», começa por dizer ao Maisfutebol. Fica o aviso para o diálogo: ninguém pode garantir, com certeza absoluta, que o golo foi marcado com a mão.

O Benfica vinha de uma derrota por 2-1 em França. Foi-se a primeira parte. No Estádio da Luz, perto de 120 mil pessoas tremiam perante a possibilidade de um afastamento doloroso. Num lance rápido. Vata antecipa-se ao marcador directo e desvia para o fundo da baliza.

Aos 47 anos, o angolano esforça-se para explicar, da melhor forma, a sua postura. «Eu digo que não marquei com a mão, mas o lance foi tão rápido, estava tanto vento, que é melhor ficar o ponto de interrogação. Não se pode culpar o árbitro por esse lance. O Mozer? Pois, ele nesse altura jogava no Marselha e ficou furioso, mas de resto eu adorava o Mozer, sempre tivemos uma óptima relação», garante.»

«Ronny recorda mão de Alvalade: «Hoje repetiria o gesto»

Ronny Carlos da Silva. Este nome continua a atormentar o pensamento dos adeptos do Sporting. Esqueça-se o lateral esquerdo dos quadros leoninos. Na véspera de nova recepção ao Paços de Ferreira, o Ronny de que se fala é esse mesmo: o avançado que marcou um golo com a mão em pleno Estádio de Alvalade.

Do outro lado do Atlântico, o ponta-de-lança continua a acompanhar o campeonato português e deixou uma certeza, em conversa com o Maisfutebol. «Se fosse hoje, de certeza que repetiria o gesto. Foram três prontos importantes para o Paços de Ferreira. Estava a defender os interesses do Paços, nesse lance a bola foi em direcção ao braço e fiz o que tinha a fazer para ajudar a minha equipa. Sem arrependimento», garante.

Aos 26 anos, Ronny recupera de uma lesão complicada, contraída ao Outubro de 2008, com a camisola dos chineses do Shaanxi Baorong. «Tive de fazer uma cirurgia de reconstrução de um ligamento no joelho, mas estou a recuperar bem aqui em Ribeirão Preto e devo concluir o processo no prazo de um mês», espera.

Recuando até 19 de Setembro de 2006, o avançado brasileiro recorda a polémica em torno de um golo que perdura na memória colectiva. No sábado, o Internacional Board decidiu avançar para a colocação de árbitros na linha de fundo. Ronny concorda. «Acho que é uma boa medida, para defender o futebol. Fica mais difícil fazer sacanagem», brinca.»

Bombeiro-goleador desafia Cristiano Ronaldo para um duelo

Rhys Griffiths, avançado do Llanellia, terminou o campeonato do País de Gales com 40 golos. Os coeficientes da UEFA reduzem a importância da marca e colocam Cristiano Ronaldo como o melhor marcador dos campeonatos europeus, com 28 golos na Premiership inglesa.

Em conversa com o Maisfutebol, Rhys Griffiths apresenta-se como um goleador modesto, jogador em part-time, bombeiro durante o dia. Quando se fala em Cristiano Ronaldo, estrela do Manchester United que joga a uma curta distância de Cardiff, o ponta-de-lança galês sorri e não resiste a uma provocação.

«Os meus amigos dizem que eu sou melhor que o Cristiano Ronaldo. O que é que eu acho? Talvez seja, talvez», começa por dizer, entre gargalhadas, reconhecendo que nunca se cruzou com o líder da corrida à Bota de Ouro: «Até gostava de ir ter com ele a Manchester, mas acho que os seguranças me barravam logo o caminho.»

Griffiths está preparado para um duelo em campo, para perceber quem é, afinal, o melhor goleador. Quantidade ou qualidade? «Era engraçado encontrá-lo num jogo e ver quem marcava mais golos, tipo duelo, só para tirar a dúvida. Quem sabe, pode ser que ele leia a entrevista e se sinta tentado», brinca.

«Melhor bombeiro que Ronaldo»

O avançado do Llanellia marcou 101 golos em 95 jogos pelo seu clube. Aos 28 anos, sente-se preparado para enveredar pelo profissionalismo: «Já falei aqui na corporação de bombeiros e eles deixam-se sair se tiver a oportunidade de assinar um contrato profissional, depois posso sempre voltar. Estive a treinar recentemente no Aaraus, da Suíça, mas o campeonato estava parado, os treinos eram ligeiros, não deu para dar nas vistas. Quem sabe, talvez em Portugal?»

«Conheço o futebol português, vejo jogos do F.C. Porto e Benfica. Aqui o campeonato de Gales é mais equilibrado, não é como o vosso, em que o F.C. Porto dominou completamente», reconhece Griffiths, orgulhoso pelo seu registo como goleador, mas também como bombeiro: «De uma coisa tenho a certeza. Sou melhor bombeiro que o Cristiano Ronaldo.»

Sempre afável, percebendo que a fama pode esfumar-se num ápice, o bombeiro-goleador pede para receber a entrevista ao Maisfutebol por e-mail. Vai em português, mas o avançado tem uma auxiliar à medida. «Não há problema, a minha namorada é portuguesa e pode traduzir-me a entrevista. Ela já nasceu aqui, mas os pais são portugueses. Eu não sei é dizer nada em português, só arranho espanhol», remata.

Técnico de 25 anos luta com sapos na pior selecção do Mundo

A imprensa britânica apaixonou-se pela aventura de Paul Watson, descrevendo este jornalista inglês como o treinador mais novo na pior selecção do Mundo. Aos 25 anos, Watson tropeçou num convite do Comité Olímpico da Micronésia e aceitou orientar a selecção estatal de Pohnpei, uma equipa sem qualquer vitória no currículo.

De resto, num ranking elaborado pela associação que engloba as selecções não reconhecidas pela FIFA, Pohnpei ocupa mesmo o último lugar, atrás dos vizinhos Chuuk e Yap, por exemplo.

Antes de mais, convém explicar por onde anda este aventureiro. Ponhpei é um dos quatro estados dos Estados Federados da Micronésia, acolhendo a capital da nação, Palikir. Fica relativamente perto das Filipinas e da Indonésia, no Oceano Pacífico. É ainda conhecido por ter o terceiro clima mais húmido do Mundo.

Feitas as apresentações, fica a história de uma reportagem que abriu caminho para uma proposta de emprego. Paul Watson, jornalista freelancer e jogador amador de futebol, estava a realizar um trabalho sobre as piores equipas mundiais. Ora, Pohnpei estava na lista. Ao falar com os responsáveis do Comité Olímpico da Micronésia, estes lamentaram a falta de treinadores disponíveis para assumir o projecto.

Paul Watson ficou entusiasmado e apresentou a sua candidatura. Sabia alguma coisa de futebol e tinha vontade. Esse currículo bastava. Assim, em Agosto de 2009, o jovem inglês chegou a acordo para assumir a selecção de Ponhpei. «Não somos a pior equipa do Mundo. Vamos provar isso mesmo em breve. Temos muito potencial aqui», diz um técnico optimista, no início da conversa com o Maisfutebol

Os atrasos e os sapos

O jovem inglês procura explorar o potencial futebolístico na região e dispôs-se a trabalhar sem vencimento, nesta fase inicial, até começar a apresentar resultados. «O meu alojamento é pago pelo Comité Olímpico da Micronésia, mas não achei justo exigir um salário nesta fase», atira.

«O clima é complicado, por ser o terceiro mais húmido do Mundo. Para além disso, o futebol aqui é menos popular que o basquetebol e o voleibol. Temos ainda uma grande falta de equipamentos, mas contactámos todos os clubes em Inglaterra e já recebemos algumas ajudas, do Yeovil Town, do Tottenham Hotspur, do Norwich City e do Bristol City», aplaude Watson.

Descrevendo um rol imenso de complicações, Paul Watson lamenta ainda os constantes atrasos de jogadores e...os sapos: «A mentalidade na ilha é diferente da europeia. Nas primeiras semanas, os jogadores chegavam muito atrasados aos treinos e nem pediam desculpas. Os relvados também inundam facilmente e surgem sempre muitos sapos por aqui».

Pohnpei terá, de qualquer forma, capacidade para representar os Estados Federais da Micronésia a médio prazo. «Temos uma selecção estatal, neste momento, por falta de meios para aproveitar os talentos dos outros estados, de Chuuk, Yap e Kosrae. No futuro, queremos representar os Estados Federais da Micronésia, uma nação reconhecida e com capacidade para entrar na FIFA», remata o mais jovem seleccionador mundial.

«O Pará no F.C. Porto? Está tudo maluco?»

Quando os jornalistas contactaram Edu Castigo e os outros antigos jogadores do Vilanovense, para pedirem um comentário sobre a vinda de Hulk (não o herói verde, nem o lutador de wrestling) para o F.C. Porto, todos reagiram da mesma maneira: “O quê? O Pará no F.C. Porto? Está tudo maluco?”.

Mas afinal, o que os antigos atletas do clube de Vila Nova de Gaia têm a ver com o novo reforço do emblema portista, porque é que reagiram desta forma, e quem é Pará?

Givanildo Vieira de Souza nasceu em Campina Grande, Paraíba, em 1986. Quinze anos depois, trocou o Brasil por Portugal, para alimentar um sonho nas camadas jovens do Vilanovense, em Vila Nova de Gaia. Nesta altura, ninguém se lembra de Givanildo, nem de Hulk, mas sim, de Pará. O jovem adoptou uma alcunha relacionada com o seu Estado, por causa do seu sotaque acentuado.

“Vinha com o «pô gentes» e ficávamos todos a rir. Mas é um ganda miúdo. Dizia-me: «eu vim para o Vilanovense mas vou jogar no F.C. Porto. Um dia, vou jogar no Porto, escreve aí». E eu respondia-lhe: Ó Pará, se você chegar no Porto, o Mundo acaba. Agora, ele chegou mesmo?”, pergunta incrédulo Edu Castigo (actualmente no Penafiel).

Hulk, então Pará, chegara cheio de pé. Não tem erro não, é mesmo pé, pois o jogador tinha um pé enorme e um corpo invulgar para a sua idade, capaz de rivalizar com os jogadores da equipa sénior do Vilanovense.

“Eu tinha mais quatro anos que o Edu e ele ia treinar com os seniores e eu ficava nos júniores. «Passáva-me». Também estava por lá o Toni, que foi campeão do Mundo e jogou no F.C. Porto. O Pará chegava e atacava com uma força incrível. Tinha uma patada fenomenal. Parecia o Rivaldo, mas com mais corpo. Podia ser um jogador fenomenal, mas como vinha do Brasil, tinha aquela mentalidade de só querer atacar. Jogava como extremo, esquerdino puro, mas nem queria saber se apoiar o lateral. É por isso que lhe dizia que ele nunca chegaria ao F.C. Porto, mas afinal…”, acrescenta Edu Castigo.

O actual jogador do Penafiel, juntamente com Nélson (do Benfica) e Luizinho (que já abandonou o futebol), eram uma referência para Pará, perdão, Hulk. O jovem brasileiro gostava de bater na porta do quarto de Edu Castigo para cobiçar a sua roupa: “Era mais novo que eu mas calçava e vestia os mesmos números. Chegava e dizia: «Edu, dá-me um cenário». Gostava do que eu tinha, mas eu já ganhava dinheiro, e ele não. Quando vim da selecção de sub-20 de Angola, acabei por lhe dar um blusão, que ele levou quando regressou ao Brasil.”

Rivanildo, então Pará, agora Hulk, regressa nesta sexta-feira a Portugal. Em 2008, chega pela porta grande, mas no início do milénio, partira com um sonho desfeito.

Edu Castigo, tinha sido “o escolhido” para levar o destroçado jovem ao aeroporto: “O Vilanovense não conseguia pagar para ficar com ele e foi-se embora, a família enviou-lhe dinheiro para o bilhete. Estava de rastos. Fui levá-lo ao Porto e pensei que nunca mais o ia ver. Agora, você diz-me que ele vem para o F.C. Porto? Vai ter de pagar um jantar, que eu paguei-lhe muitos”, remata Edu, ainda incrédulo.

Selecção no berço da bebida proibida

A Selecção Nacional ocupou Neuchatel durante o Campeonato da Europa de 2008 e pintou a cidade de verde e vermelho. Respira-se futebol de forma ininterrupta, mas sabe bem alargar as vistas e perceber o que nos rodeia. A Suíça é conotada com relógios, chocolates e bancos, mas importa explicar que aqui, bem perto de Neuchatel, podemos encontrar o berço de uma bebida polémica: o absinto.

Bebida apreciada por portugueses e não só, o absinto ganhou forma no Val-de-Travers, distrito do cantão de Neuchatel. Os locais garantem que o micro-clima da região apura a qualidade dos ingredientes. Vamos então, para desenjoar de futebol por momentos, falar de uma fórmula que ajudou a levar génios como Van Gogh à loucura.

Existem relatos pouco claros da utilização da planta no Antigo Egipto e na Grécia Antiga, mas o registo histórico do absinto ganhou forma na Suíça. Em 1769, um jornal de Val-de-Travers divulgava o anúncio das Irmãs Henriod, sobre um exilir medicinal baptizado como «Bon Extrait d’Absinthe».

A fórmula mágica prometia curar vários males. Alguns estudiosos garantem que foi o médico francês Pierre Ordinaire a criar o absinto, passando depois o segredo às Irmãs Henriod. Depois, o Major Dubied comprou a receita e formou a primeira destilaria, em Couvet.

A bebida na história da Belle Époque

Val-de-Travers situa-se entre Neuchatel, quartel-general da Selecção Nacional, e a França. Foi nesse país, aliás, que o absinto ganhou popularidade, sobretudo entre os artistas da época. Aliás, durante a Belle Époque, período criativo que impulsionou massas até à I Guerra Mundial, em 1914.

Os boémios da época experimentaram o absinto para lá dos seus anunciados efeitos medicinais e transpuseram fronteiras. A «Fada Verde», como a bebida é conhecida, caiu no goto de artistas e intelectuais como Óscar Wilde, Baudelaire, Rimbaud ou Vincent Van Gogh.

Manet, Raffaeli e Picasso também apresentaram pinturas a retratar o absinto, mas Van Gogh foi mais longe. Entre várias teorias para a sua loucura, uma diz que o pintor holandês, radicado em Paris, estava sob o efeito da «Fada Verde» quando decidiu cortar um pedaço da orelha esquerda, em Dezembro de 1888.

Uma proibição de quase cem anos

O temor pelo carácter alucinatório do absinto espalhou-se rapidamente pelo Mundo. Os críticos falavam em dependência de milhões de pessoas. Voltando à Suíça, berço da bebida e sede do Euro2008, a história conheceu contornos polémicos em 1910, quando surge a lei a proibir a comercialização do produto. Aliás, o mesmo acontecia um pouco por todo o lado.

A proibição arrastou-se durante quase um século, até 2005. Nos últimos três anos, as destilarias de Val-de-Travers voltaram a produzir absinto de forma legal (algumas nunca o deixaram de fazer, conforme nos explicou Claude-Alain Bugnon, da destinaria Artemisia). Ali nas montanhas, a bebida misteriosa surge em condições excepcionais. Cá em baixo, junto ao fabuloso lago de Neuchatel, a Selecção Nacional procura evitar pecados e trilhar caminho no Euro.

Canalizador-avançado explica: como ser expulso em 3 segundos

David Pratt nem queria acreditar. Nem queria acreditar quando viu o cartão vermelho em três segundos, no início do jogo entre o Chippenham Town e o Bashley, no sétimo escalão do futebol inglês. Nem queria acreditar quando recebeu um telefonema de Portugal para falar sobre o recorde mundial estabelecido neste fim-de-semana: «Foi um lance sem maldade, só quis ir à bola».

O jovem de 21 anos, canalizador durante o dia, avançado em part-time no Chippenham Town, explica ao Maisfutebol como foi possível receber ordem de expulsão no primeiro lance do encontro.

«Então foi assim: a equipa adversária começou o jogo, o jogador que estava no centro do relvado tocou para outro, que estava já fora da meia lua, e esse chutou para a frente. Eu já tinha arrancando e fiz o carrinho em velocidade. Ainda toquei na bola, mas acabei por atingir o outro jogador. A expulsão foi exagerada», garante.

Pratt nem costuma ser notícia por motivos disciplinares. O Chippenham Town teve de ser paciente nas negociações com o Swindon Submarine, acabando por garantir o concurso da jovem promessa.

«Ele é um rapaz calmo, nada maldoso. Pronto, acabámos por ter publicidade à custa deste momento. Nesse sentido, é bom», reconhece George McCaffrey, secretário do clube, antes de facultar o número do jogador.

O avançado passou as últimas horas a falar. Falou para rádios, jornais e até televisões em Inglaterra. «De onde liga? De Portugal? Ah, Portugal, sei. Estou surpreendido, sinceramente não fico feliz por ser notícia por este motivo, mas pronto», atira Pratt.

«Não pedi desculpa»

O anterior recorde pertencia a Giuseppe Lorenzo (Bolonha), por um cartão vermelho frente ao Parma, em 1990, com dez segundos de jogo.

«Sou canalizador, nesta divisão o futebol é amador», continua David Pratt, com tremenda humildade, apesar do assédio espontâneo. Tudo batia certo, há um novo recorde para celebrar, ou não, e as partes estão de acordo quanto à ausência de maldade no movimento do avançado do Chippenham Town.

Contudo, qual Edward Norton no filme «A Raíz do Medo», com Dulce Pontes na banda sonora, Pratt revela a ponta de maldade na última resposta dada ao Maisfutebol. Já pediu desculpas a Chris Knowles, o médio do Bashley? «Não, não pedi desculpa nem tenho nada que pedir», remata o canalizador/avançado. Foi ou não de propósito?

Samoa Americana: futebol contra Yokozuna, Umaga e The Rock!

Poucos ouviram falar da Samoa Americana. Os que ouviram, desconhecem a existência de uma selecção de futebol. Nos Estados Unidos da América, encontram-se nativos espalhados pelos principais clubes de futebol americano ou basebol. Mas a grande afirmação do povo do Pacífico surgiu nos ringues, através do Wrestling!

Conhece Umaga, Yokozuna ou The Rock, por exemplo? Pois bem, são apenas exemplares famosos da família Anoai, a mais conhecida do fenómeno que reconquistou adeptos em Portugal, ao longo dos últimos anos.

Afa e Sika Anoai lançaram as raízes com os Wild Samoans. Na geração seguinte, entre uma dezena de lutares, distinguiram-se Eddie Fatu (Umaga) e Rodney Anoai (Yokozuna). Este último, apesar de ter adoptado uma personagem japonesa, tem raízes na Samoa Americana.

Samula Anoai e Solofa Fatu formaram uma das «tag teams» mais acarinhadas no meio. Os «Headsrinkers» apresentavam as vestimentas de selvagens da Samoa Americana. No passado recente, a árvore genealógica teve frutos pouco consistentes.

Dwayne «The Rock» Johnson, nascido nos Estados Unidos, não esquecer as raízes e sempre assumiu a ligação à família Anoai, assumindo-se como o último símbolo da Samoa Americana no Wrestling profissional. O campeão viria enveredar por uma carreira no cinema. Assim, em 2009, pela primeira vez, a Samoa Americana não tem qualquer representante nos ringues.

«Eu comecei pelo basebol»

Ramin Ott, capitão da selecção de futebol da Samoa Americana, é apenas mais um exemplo de uma realidade preocupante para os responsáveis locais. Num país com forte influência norte-americana, poucos acham piada à bola redonda, aos relvados e às balizas.

«O basebol foi o meu primeiro desporto. Aliás, só comecei a jogar futebol porque o meu irmão mais velho era dono de um clube e passei a assistir aos treinos e jogos. Apaixonei-me pelo futebol, como uma criança se apaixona por uma guloseima», explica o jogador, em entrevista ao Maisfutebol.

Para além do basebol e do Wrestling, desportos já abordados na peça, o principal adversário do futebol é o seu homónimo americano. Existem cerca de 30 jogadores com raízes samoanas no campeonato principal de futebol americano dos Estados Unidos da América. Troy Polamalu, dos Pittsburgh Steelers, é o mais famoso.

Kaviedes: 32º aniversário em clínica de reabilitação

Ivan Kaviedes celebra, neste sábado, o seu 32º aniversário. Seria num dia para festejos intensos, um pouco por todo o Equador, país que continua a recordar um dos maiores talentos locais. Contudo, o antigo avançado do F.C. Porto desapareceu das capas dos jornais. Numa fase de desespero, pediu ajuda a amigos e deu entrada numa clínica de reabilitação. Álcool, drogas e depressão. Um quadro preocupante.

Em Setembro, um ano depois de ter participado no seu último jogo oficial, Jaime Iván Kaviedes Llorenty bateu no fundo mas decidiu reagir. Procurou ajuda e entrou em contacto com a Clínica Nueva Luz, em Guayaquil. Seguiria posteriormente para o Quito, em busca de privacidade. O melhor marcador mundial de 1998 sucumbiu na recta final da carreira.

«Entrevistámos o Ivan e ele demonstrou o seu desejo de mudar. Está a receber ajuda. Ele será submetido a processos de desintoxicação corporal e a psicoterapia. Escutará testemunhos de pessoas que procuram resolver os seus problemas. Isso será uma grande ajuda», disse, na altura, o coordenador da Clínica Nueva Luz, Christian Diaz.

Raúl Noriega, antigo jogador, decidiu ajudar Kaviedes com o apoio da sua mulher, Zaida. «Ele quer sair do mundo em que caiu e por isso pediu-me ajuda. Actuei como sua representante e serei eu a decidir quando tempo ficará internado na clínica do Quito. Ele pode voltar a jogar mas, para já, o mais importante é a sua recuperação como pessoa», explica Zaida Noriega.

«É preciso ter estrutura mental»

Pena conviveu com Ivan Kaviedes no F.C. Porto, ao longo da temporada 2001/02. O avançado equatoriano disputou apenas uma partida, na Taça de Portugal, sob o comando técnico de Octávio Machado. Desiludiu nas Antas, mas ainda deixou a sua marca nos Mundiais de 2002 e 2006.

«Lembro-me do Kaviedes, mas não havia na altura sinais de que pudesse vir a ter essas dependências. Infelizmente, há jogadores que se deixam levar pelo dinheiro, pelas mulheres, pelo álcool e as drogas. É preciso ter estrutura mental para resistir, e nisso a família é muito importante. Eu também cresci num meio difícil, com muita coisa má à volta, mas nunca mexi em drogas, nunca cheirei. Apenas bebo o meu vinho de vez em quando», explica Pena, ao Maisfutebol.

Estrutura familiar. Algo que Kaviedes nunca teve. Os pais do jogador morreram quando este tinha apenas seis anos, num acidente de automóvel. A avó procurou compensar as ausências, mas a imprensa do Equador garante que o avançado nunca ultrapassou a perda, apesar da fama.

No final do mês de Setembro, após semanas de isolamento, Ivan Kaviedes reapareceu em público, num jogo de futebol de rua. O Equador aplaude o esforço e incentiva o antigo ídolo. Resta saber se «el Nine» vence este jogo. «Se não me conheces, não me julgues», lê-se numa tatuagem, no braço esquerdo do jogador.

«Benfica? Nós é que somos o melhor ataque da Europa!»

O Campomaiorense abdicou do futebol profissional em 2002, adoptando uma medida que se alastra pelos clubes com dificuldades financeiras em Portugal. Os galgos chegaram à final da Taça de Portugal em 1998/99, disputaram o escalão principal mas desapareceram. Agora, renascem nos distritais de Portalegre, onde apresentam «o melhor ataque da Europa».

O Benfica contabiliza 31 golos em 10 jornadas da Liga 2009/10. A formação orientada por Jorge Jesus apresenta um registo atacante assinalável, sem paralelo nos campeonatos europeus. Contudo, em Campo Maior, a formação local congratula-se com uma marca superior: 32 golos em 7 jogos da Série A da I Divisão da Associação de Futebol de Portalegre.

Contas feitas, o Campomaiorense é o melhor ataque do futebol português. «Nós somos melhores que o Benfica», atira Nuno Travassos, vice-presidente do clube, em tom de brincadeira. No final da entrevista ao Maisfutebol, o mesmo sentido de humor, sem intenção de provocar o clube encarnados: «Nós é que somos o melhor ataque da Europa!»

«A época está a correr muito bem, vencemos os sete jogos e temos uma equipa muito competitiva. Não fizemos a equipa para a subida, até porque não temos jogadores profissionais, mas agora vamos lutar para sermos campeões. Depois, será a direcção a decidir se subimos ou não», explica o dirigente. Isto porque João Manuel Nabeiro, presidente e homem forte da Delta Cafés, já disse que não quer sair dos distritais.

Em Campo Maior, não há salários nem prémios de jogo. Acabou-se o tempo das vacas gordas. Os golos e as vitórias valem apenas uma jantarada. «Aqui joga-se por amor à camisola. Temos condições profissionais, mas fizemos um projecto para o amadorismo. Se formos campeões, de certeza que o presidente irá reflectir, veremos se subimos ou não», conclui Nuno Travassos.

Goleador-vendedor de 34 anos

Jorginho é o principal goleador do Campomaiorense. Aos 34, o avançado regressou ao activo e apontou 8 dos 32 golos dos galgos. Isto após três épocas de divórcio com o futebol. O amor ao desporto e à terra falou mais alto. «Parei de jogar aos 30, desiludido com o futebol. Estava a trabalhar na Delta Cafés, em Setúbal, mas surgiu a possibilidade de voltar a Campo Maior. Trabalho como vendedor na Opel e na Chevrolet. Estando aqui, lá me convenceram a jogar. Não consegui dizer que não», explica.

Em conversa com o Maisfutebol, Jorginho recorda a fama proporcionada pelos grandes palcos, os jogos na primeira divisão com o Campomaiorense e a Académica. Aos poucos, tudo se esfumou: «Lesionei-me, fui operado, depois fui para Viseu, para a II Divisão B. Aí fartei-me. Andar sempre com os filhos e a mulher de um lado para o outro, não é vida. Decidi apostar numa profissão mais estável.»

«Estive três anos parado mas fiz sempre desporto. Continuo sequinho, sem gordura e rápido. Quer dizer, rápido para os meus 34 anos. Fiz cinco golos num jogo e tive de parar, senão marcava mais. A equipa é nova, tem muita qualidade e temos condições de profissionais. No que depender dos jogadores, é para subir. Depois depende da direcção. O futebol para mim já só é um hobby», atira o avançado, afastando as comparações com o Benfica: «A qualidade aqui não é tão grande, é mais difícil para o Benfica marcar esses 31 golos, na Liga principal. Mas também é verdade que podíamos ter marcado muitos mais, até ao momento.»

Villas Boas: técnico à custa da vizinhança com Bobby Robson

André Villas Boas devorava futebol. Alimentou o amor ao desporto desde cedo, mas faltava-lhe o talento na ponta das chuteiras. Resignou-se. Pegou nos livros, comprou cadernetas e devorou jornais. Todos os dias, lá estava ele no café, a compilar informações sobre os craques dos campeonatos nacionais.

Em 1994, o jovem de 17 anos depara-se com Sir Bobby Robson no seu prédio. Neto de uma inglesa e de um português com estatuto, o pequeno André encheu-se de coragem e meteu conversa com o novo treinador do F.C. Porto. Esta feito o mais difícil.

Bobby Robson ficou agradado com os conhecimentos de André Villas Boas e o domínio da língua inglesa e apontou-lhe o caminho: tirar o curso de treinador. Inicialmente, este preferia seguir Educação Física, abordar o desporto em geral. Mas a oportunidade estava ali, bastava agarrar.

O saudoso treinador britânico foi crucial para o jovem português. André Villas Boas tinha apenas 17 anos, idade insuficiente para tirar o curso na Football Association de Inglaterra e na homóloga de Escócia. Robson falou com o responsável Charles Hughes (um acérrimo defensor da escola do pontapé para a frente) e contornou a questão. Como estágio, o aspirante luso seguiu os treinos do Ipswich de George Burley.

André Villas Boas crescia como técnico e estava pronto para a primeira experiência. Entra no F.C. Porto para treinar as camadas jovens, enquanto tira os vários níveis do curso de treinadores da UEFA.

Do Porto para o Mundo

O cargo de director-técnico da selecção das Ilhas Virgens Britânicas, logo em 2000, permite a Villas Boas conhecer a realidade do futebol nas Caraíbas e crescer, crescer até com as pesadas derrotas.

Um ano depois, o F.C. Porto volta a abrir-lhe as portas. José Mourinho chega entretanto e reencontra o miúdo que andava sempre com Bobby Robson. André Villas Boas passa a encarregar-se da observação de adversários. Fá-lo com mestria. Admirador confesso do Championship Manager, desenvolve capacidades no futebol real e transforma-se num valor seguro.

José Mourinho não mais prescinde de André Villas Boas e apresenta o jovem como os seus «olhos e ouvidos». Necessariamente discreto, condição essencial para trabalhar com o «Special One», Villas Boas passa a elaborar dossiers completos sobre os adversários do F.C. Porto. Viria a fazer o mesmo no Chelsea.

O processo era simples. Aparecia nos treinos dos adversários, sempre de forma incógnita, e começava a reunir informações sobre os principais jogadores da equipa. Aliás, de todos os jogadores, se for preciso. Em quatro dias, durante a semana, André Villas Boas compilava todos os dados. Depois, bastava apresentá-los a José Mourinho e jogadores, para estes saberem ao pormenor quem iam defrontar no encontro seguinte.

Mourinho leva Villas Boas do F.C. Porto para o Chelsea, do Chelsea para o Inter de Milão. Aos poucos, André conquista capital de confiança para aspirar a uma carreira a solo. Aos 31 anos, 32 feitos entretanto, a Académica acena-lhe com um convite. O empresário Jorge Mendes intermedeia o negócio. O discurso à chegada, os primeiros resultados, o ar fresco fazem o resto. O futuro é dele.

Um técnico virgem nas Ilhas Virgens Britânicas

Não há registo da passagem de André Villas Boas pela selecção das Ilhas Virgens Britânicas, mas o técnico garante que essa foi a sua primeira experiência no banco, no ano 2000. Aos 22 anos, o português garantia o cargo de director de futebol no país das Caraíbas.

«Era tão novo que só lhes disse a minha idade no dia em que abandonei o cargo», recordou Villas Boas, mais tarde. O treinador luso passou cerca de um ano nas Ilhas Virgens Britânicas e viu a sua selecção participar na fase de apuramento para o Campeonato do Mundo de 2002.

As Ilhas Virgens Britânicas não foram longe. Aliás, a primeira experiência de André Villas Boas poderia assemelhar-se a um tremendo fracasso, se não fosse considerado o potencial futebolístico da equipa em questão. Contas feitas, a selecção caiu na primeira ronda, frente à Bermuda.

André Villas Boas viu as Ilhas Virgens perderem por 1-5 em casa. Fora de portas, uma goleada das antigas. 9-0 para a Bermuda. Nada que perturbasse o treinador. Este seria apenas o primeiro passo numa carreira ascendente.