sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Selecção no berço da bebida proibida

A Selecção Nacional ocupou Neuchatel durante o Campeonato da Europa de 2008 e pintou a cidade de verde e vermelho. Respira-se futebol de forma ininterrupta, mas sabe bem alargar as vistas e perceber o que nos rodeia. A Suíça é conotada com relógios, chocolates e bancos, mas importa explicar que aqui, bem perto de Neuchatel, podemos encontrar o berço de uma bebida polémica: o absinto.

Bebida apreciada por portugueses e não só, o absinto ganhou forma no Val-de-Travers, distrito do cantão de Neuchatel. Os locais garantem que o micro-clima da região apura a qualidade dos ingredientes. Vamos então, para desenjoar de futebol por momentos, falar de uma fórmula que ajudou a levar génios como Van Gogh à loucura.

Existem relatos pouco claros da utilização da planta no Antigo Egipto e na Grécia Antiga, mas o registo histórico do absinto ganhou forma na Suíça. Em 1769, um jornal de Val-de-Travers divulgava o anúncio das Irmãs Henriod, sobre um exilir medicinal baptizado como «Bon Extrait d’Absinthe».

A fórmula mágica prometia curar vários males. Alguns estudiosos garantem que foi o médico francês Pierre Ordinaire a criar o absinto, passando depois o segredo às Irmãs Henriod. Depois, o Major Dubied comprou a receita e formou a primeira destilaria, em Couvet.

A bebida na história da Belle Époque

Val-de-Travers situa-se entre Neuchatel, quartel-general da Selecção Nacional, e a França. Foi nesse país, aliás, que o absinto ganhou popularidade, sobretudo entre os artistas da época. Aliás, durante a Belle Époque, período criativo que impulsionou massas até à I Guerra Mundial, em 1914.

Os boémios da época experimentaram o absinto para lá dos seus anunciados efeitos medicinais e transpuseram fronteiras. A «Fada Verde», como a bebida é conhecida, caiu no goto de artistas e intelectuais como Óscar Wilde, Baudelaire, Rimbaud ou Vincent Van Gogh.

Manet, Raffaeli e Picasso também apresentaram pinturas a retratar o absinto, mas Van Gogh foi mais longe. Entre várias teorias para a sua loucura, uma diz que o pintor holandês, radicado em Paris, estava sob o efeito da «Fada Verde» quando decidiu cortar um pedaço da orelha esquerda, em Dezembro de 1888.

Uma proibição de quase cem anos

O temor pelo carácter alucinatório do absinto espalhou-se rapidamente pelo Mundo. Os críticos falavam em dependência de milhões de pessoas. Voltando à Suíça, berço da bebida e sede do Euro2008, a história conheceu contornos polémicos em 1910, quando surge a lei a proibir a comercialização do produto. Aliás, o mesmo acontecia um pouco por todo o lado.

A proibição arrastou-se durante quase um século, até 2005. Nos últimos três anos, as destilarias de Val-de-Travers voltaram a produzir absinto de forma legal (algumas nunca o deixaram de fazer, conforme nos explicou Claude-Alain Bugnon, da destinaria Artemisia). Ali nas montanhas, a bebida misteriosa surge em condições excepcionais. Cá em baixo, junto ao fabuloso lago de Neuchatel, a Selecção Nacional procura evitar pecados e trilhar caminho no Euro.

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