sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Villas Boas: técnico à custa da vizinhança com Bobby Robson

André Villas Boas devorava futebol. Alimentou o amor ao desporto desde cedo, mas faltava-lhe o talento na ponta das chuteiras. Resignou-se. Pegou nos livros, comprou cadernetas e devorou jornais. Todos os dias, lá estava ele no café, a compilar informações sobre os craques dos campeonatos nacionais.

Em 1994, o jovem de 17 anos depara-se com Sir Bobby Robson no seu prédio. Neto de uma inglesa e de um português com estatuto, o pequeno André encheu-se de coragem e meteu conversa com o novo treinador do F.C. Porto. Esta feito o mais difícil.

Bobby Robson ficou agradado com os conhecimentos de André Villas Boas e o domínio da língua inglesa e apontou-lhe o caminho: tirar o curso de treinador. Inicialmente, este preferia seguir Educação Física, abordar o desporto em geral. Mas a oportunidade estava ali, bastava agarrar.

O saudoso treinador britânico foi crucial para o jovem português. André Villas Boas tinha apenas 17 anos, idade insuficiente para tirar o curso na Football Association de Inglaterra e na homóloga de Escócia. Robson falou com o responsável Charles Hughes (um acérrimo defensor da escola do pontapé para a frente) e contornou a questão. Como estágio, o aspirante luso seguiu os treinos do Ipswich de George Burley.

André Villas Boas crescia como técnico e estava pronto para a primeira experiência. Entra no F.C. Porto para treinar as camadas jovens, enquanto tira os vários níveis do curso de treinadores da UEFA.

Do Porto para o Mundo

O cargo de director-técnico da selecção das Ilhas Virgens Britânicas, logo em 2000, permite a Villas Boas conhecer a realidade do futebol nas Caraíbas e crescer, crescer até com as pesadas derrotas.

Um ano depois, o F.C. Porto volta a abrir-lhe as portas. José Mourinho chega entretanto e reencontra o miúdo que andava sempre com Bobby Robson. André Villas Boas passa a encarregar-se da observação de adversários. Fá-lo com mestria. Admirador confesso do Championship Manager, desenvolve capacidades no futebol real e transforma-se num valor seguro.

José Mourinho não mais prescinde de André Villas Boas e apresenta o jovem como os seus «olhos e ouvidos». Necessariamente discreto, condição essencial para trabalhar com o «Special One», Villas Boas passa a elaborar dossiers completos sobre os adversários do F.C. Porto. Viria a fazer o mesmo no Chelsea.

O processo era simples. Aparecia nos treinos dos adversários, sempre de forma incógnita, e começava a reunir informações sobre os principais jogadores da equipa. Aliás, de todos os jogadores, se for preciso. Em quatro dias, durante a semana, André Villas Boas compilava todos os dados. Depois, bastava apresentá-los a José Mourinho e jogadores, para estes saberem ao pormenor quem iam defrontar no encontro seguinte.

Mourinho leva Villas Boas do F.C. Porto para o Chelsea, do Chelsea para o Inter de Milão. Aos poucos, André conquista capital de confiança para aspirar a uma carreira a solo. Aos 31 anos, 32 feitos entretanto, a Académica acena-lhe com um convite. O empresário Jorge Mendes intermedeia o negócio. O discurso à chegada, os primeiros resultados, o ar fresco fazem o resto. O futuro é dele.

Um técnico virgem nas Ilhas Virgens Britânicas

Não há registo da passagem de André Villas Boas pela selecção das Ilhas Virgens Britânicas, mas o técnico garante que essa foi a sua primeira experiência no banco, no ano 2000. Aos 22 anos, o português garantia o cargo de director de futebol no país das Caraíbas.

«Era tão novo que só lhes disse a minha idade no dia em que abandonei o cargo», recordou Villas Boas, mais tarde. O treinador luso passou cerca de um ano nas Ilhas Virgens Britânicas e viu a sua selecção participar na fase de apuramento para o Campeonato do Mundo de 2002.

As Ilhas Virgens Britânicas não foram longe. Aliás, a primeira experiência de André Villas Boas poderia assemelhar-se a um tremendo fracasso, se não fosse considerado o potencial futebolístico da equipa em questão. Contas feitas, a selecção caiu na primeira ronda, frente à Bermuda.

André Villas Boas viu as Ilhas Virgens perderem por 1-5 em casa. Fora de portas, uma goleada das antigas. 9-0 para a Bermuda. Nada que perturbasse o treinador. Este seria apenas o primeiro passo numa carreira ascendente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário