sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

«O Pará no F.C. Porto? Está tudo maluco?»

Quando os jornalistas contactaram Edu Castigo e os outros antigos jogadores do Vilanovense, para pedirem um comentário sobre a vinda de Hulk (não o herói verde, nem o lutador de wrestling) para o F.C. Porto, todos reagiram da mesma maneira: “O quê? O Pará no F.C. Porto? Está tudo maluco?”.

Mas afinal, o que os antigos atletas do clube de Vila Nova de Gaia têm a ver com o novo reforço do emblema portista, porque é que reagiram desta forma, e quem é Pará?

Givanildo Vieira de Souza nasceu em Campina Grande, Paraíba, em 1986. Quinze anos depois, trocou o Brasil por Portugal, para alimentar um sonho nas camadas jovens do Vilanovense, em Vila Nova de Gaia. Nesta altura, ninguém se lembra de Givanildo, nem de Hulk, mas sim, de Pará. O jovem adoptou uma alcunha relacionada com o seu Estado, por causa do seu sotaque acentuado.

“Vinha com o «pô gentes» e ficávamos todos a rir. Mas é um ganda miúdo. Dizia-me: «eu vim para o Vilanovense mas vou jogar no F.C. Porto. Um dia, vou jogar no Porto, escreve aí». E eu respondia-lhe: Ó Pará, se você chegar no Porto, o Mundo acaba. Agora, ele chegou mesmo?”, pergunta incrédulo Edu Castigo (actualmente no Penafiel).

Hulk, então Pará, chegara cheio de pé. Não tem erro não, é mesmo pé, pois o jogador tinha um pé enorme e um corpo invulgar para a sua idade, capaz de rivalizar com os jogadores da equipa sénior do Vilanovense.

“Eu tinha mais quatro anos que o Edu e ele ia treinar com os seniores e eu ficava nos júniores. «Passáva-me». Também estava por lá o Toni, que foi campeão do Mundo e jogou no F.C. Porto. O Pará chegava e atacava com uma força incrível. Tinha uma patada fenomenal. Parecia o Rivaldo, mas com mais corpo. Podia ser um jogador fenomenal, mas como vinha do Brasil, tinha aquela mentalidade de só querer atacar. Jogava como extremo, esquerdino puro, mas nem queria saber se apoiar o lateral. É por isso que lhe dizia que ele nunca chegaria ao F.C. Porto, mas afinal…”, acrescenta Edu Castigo.

O actual jogador do Penafiel, juntamente com Nélson (do Benfica) e Luizinho (que já abandonou o futebol), eram uma referência para Pará, perdão, Hulk. O jovem brasileiro gostava de bater na porta do quarto de Edu Castigo para cobiçar a sua roupa: “Era mais novo que eu mas calçava e vestia os mesmos números. Chegava e dizia: «Edu, dá-me um cenário». Gostava do que eu tinha, mas eu já ganhava dinheiro, e ele não. Quando vim da selecção de sub-20 de Angola, acabei por lhe dar um blusão, que ele levou quando regressou ao Brasil.”

Rivanildo, então Pará, agora Hulk, regressa nesta sexta-feira a Portugal. Em 2008, chega pela porta grande, mas no início do milénio, partira com um sonho desfeito.

Edu Castigo, tinha sido “o escolhido” para levar o destroçado jovem ao aeroporto: “O Vilanovense não conseguia pagar para ficar com ele e foi-se embora, a família enviou-lhe dinheiro para o bilhete. Estava de rastos. Fui levá-lo ao Porto e pensei que nunca mais o ia ver. Agora, você diz-me que ele vem para o F.C. Porto? Vai ter de pagar um jantar, que eu paguei-lhe muitos”, remata Edu, ainda incrédulo.

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