sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

De Maradona a Ronny: a história das mãos de Deus

«Diego Armando Maradona, 22 de Junho de 1986, Estádio Azteca. Na Cidade do México, o argentino regista a patente perpétua da «mão de Deus». A Inglaterra não perdoa o gesto, mas a história repete-se. De Maradona a Vata, de Vata a Ronny, de Ronny a Adriano, são vários momentos para recordar. Ou não.

O Internacional Board decidiu, no passado sábado, avançar para testes com cinco árbitros, colocando mais um par de olhos em cada linha de fundo. Seria possível, dessa forma, evitar golos que perduram na memória colectiva dos adeptos de futebol? Veremos.

Maradona cometeu a proeza de marcar o melhor golo do século e o mais polémico no mesmo jogo. Multiplicaram-se os seguidores. Muitos tentaram repetir o contorno sucessivo de adversários, rumo à baliza. Outros, nem tantos, imitaram o primeiro gesto, aquele salto dissimulado e um movimento de cabeça para nada. A mão, essa sim, compensou a falta de centímetros e começou a desenhar o triunfo (2-1).

Vieram as réplicas, a espaços. No futebol português, por exemplo, os mais atentos recordam Paulinho Cascavel num Vitória de Guimarães-Groningen, de 1986/87, ou Stephane Paille num F.C. Porto-E. Amadora, no segundo jogo da Supertaça de Portugal de 1990.

Nesse mesmo ano, nas meias-finais da Taça dos Campeões Europeus, Vata produz uma das fotocópias mais importantes da «mão de Deus», frente ao Marselha de Mozer, conduzindo o Benfica à final. Nos anos mais recentes, em pleno Estádio de Alvalade, Ronny (P. Ferreira) passou a inimigo público do Sporting. E há bem pouco tempo, provando que o futebol pouco evoluiu no escrutínio desses lances, Adriano decidiu um derby de Milão com o braço, de olhos fechados.»

«Bobby Robson e a mão de Maradona: "Nem com 10 árbitros"

Sir Bobby Robson continua a lutar contra os problemas de saúde que limitam a sua esperança da vida, mas fala com toda a jovialidade que contagiou os adeptos portugueses e não só, durante largos anos. Aos 76 anos, o treinador não esquece um dos momentos mais tristes da carreira. Esse mesmo. A «mão de Deus» no Mundial de 1986.

Diego Armando Maradona bisou de forma cruel. Com um golo de antologia e outro de pura batota, pouco antes. «Foi o momento mais bizarro a que assisti em toda a minha vida. Sinceramente, acho que toda a gente presente naquele estádio percebeu que Maradona tinha marcado com a mão, mas pronto, não há nada a fazer. Foi pena», reconhece Robson, seleccionador de Inglaterra nessa competição, em conversa com o Maisfutebol.

O antigo técnico de Sporting e F.C. Porto continua a acompanhar o fenómeno futebolístico, apesar do desgaste natural provocado pela sua doença. Bobby Robson aplaude a medida aprovada pelo Internacional Board no último fim-de-semana, relativa a testes com árbitros na linha de fundo.

«Sinceramente, apoio qualquer medida que ajude o futebol, mas é preciso testar bem as coisas antes. Será importante termos um período de análise e testes com cinco árbitros, para vermos como a experiência resulta. Nesse golo de Maradona, não sei se isso iria adiantar de muito. Se calhar, nem com 10 árbitros¿ O árbitro não viu, o fiscal-de-linha diz que também não viu, portanto não sei que fazer, temos de acreditar neles», remata Robson, com aquela gentileza incomparável, mesmo num momento extremamente complicado.»

«Vata e o golo ao Marselha: «Não marquei com a mão»

Vata Matanu Garcia está do outro lado do Mundo mas continua a ser acarinhado pelos adeptos do Benfica. Desde a Austrália, onde tem uma academia de futebol, o avançado angolano recorda o título de melhor marcador do campeonato português, na época 1988/89, e um golo polémico nas meias-finais da Taça dos Campeões Europeus, frente ao Marselha, no ano seguinte.

«É difícil para mim falar desse lance, porque as pessoas não acreditam em mim. As pessoas dizem que viram, mas fui eu que marquei, que estava lá», começa por dizer ao Maisfutebol. Fica o aviso para o diálogo: ninguém pode garantir, com certeza absoluta, que o golo foi marcado com a mão.

O Benfica vinha de uma derrota por 2-1 em França. Foi-se a primeira parte. No Estádio da Luz, perto de 120 mil pessoas tremiam perante a possibilidade de um afastamento doloroso. Num lance rápido. Vata antecipa-se ao marcador directo e desvia para o fundo da baliza.

Aos 47 anos, o angolano esforça-se para explicar, da melhor forma, a sua postura. «Eu digo que não marquei com a mão, mas o lance foi tão rápido, estava tanto vento, que é melhor ficar o ponto de interrogação. Não se pode culpar o árbitro por esse lance. O Mozer? Pois, ele nesse altura jogava no Marselha e ficou furioso, mas de resto eu adorava o Mozer, sempre tivemos uma óptima relação», garante.»

«Ronny recorda mão de Alvalade: «Hoje repetiria o gesto»

Ronny Carlos da Silva. Este nome continua a atormentar o pensamento dos adeptos do Sporting. Esqueça-se o lateral esquerdo dos quadros leoninos. Na véspera de nova recepção ao Paços de Ferreira, o Ronny de que se fala é esse mesmo: o avançado que marcou um golo com a mão em pleno Estádio de Alvalade.

Do outro lado do Atlântico, o ponta-de-lança continua a acompanhar o campeonato português e deixou uma certeza, em conversa com o Maisfutebol. «Se fosse hoje, de certeza que repetiria o gesto. Foram três prontos importantes para o Paços de Ferreira. Estava a defender os interesses do Paços, nesse lance a bola foi em direcção ao braço e fiz o que tinha a fazer para ajudar a minha equipa. Sem arrependimento», garante.

Aos 26 anos, Ronny recupera de uma lesão complicada, contraída ao Outubro de 2008, com a camisola dos chineses do Shaanxi Baorong. «Tive de fazer uma cirurgia de reconstrução de um ligamento no joelho, mas estou a recuperar bem aqui em Ribeirão Preto e devo concluir o processo no prazo de um mês», espera.

Recuando até 19 de Setembro de 2006, o avançado brasileiro recorda a polémica em torno de um golo que perdura na memória colectiva. No sábado, o Internacional Board decidiu avançar para a colocação de árbitros na linha de fundo. Ronny concorda. «Acho que é uma boa medida, para defender o futebol. Fica mais difícil fazer sacanagem», brinca.»

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