quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

«Um Paulo Bento para todos», defendem os Paulobentenses

«Um Paulo Bento para todos». Já imaginou? Andar pela rua e deparar-se com panfletos ou cartazes a espalhar a máxima de um povo? Um Paulo Bento para cada um, ou para todos neste caso. Dá que pensar.

O nome não se resume ao treinador do Sporting, antigo internacional português. Do outro lado no Atlântico, aparece um local remoto onde todos são Paulobentenses.

Não passam de 2090 pessoas, divididas quase equitativamente entre homens e mulheres. Pegando nesse números, percebe-se que apenas 477 são consideradas como população urbana. Em Paulo Bento, município de Rio Grande do Sul, a terra continua a ser a principal fonte de subsistência.

Lá, a cerca de 400 quilómetros da capital Porto Alegre, terra que viu crescer craques como Ronaldinho Gaúcho ou Anderson, poucos ouviram falar do outro Paulo Bento. Todos eles são Paulo Bento. Ou melhor, Paulobentenses.

«Já ouvi falar de um jogador...»

Não é fácil entrar em contacto com o Rio Grande do Sul profundo. Ainda mais, explicar a curiosa mistura de um treinador de futebol com uma localidade onde o desporto é subjugado do peso do labor.

Numa terra onde até os números de telemóvel dos vereadores são do conhecimento público, Carlos Alberto Dall Agnol acaba por responder ao contacto do Maisfutebol. A ligação é péssima, dá apenas para o essencial.

«Paulo Bento, futebol? Realmente, eu sabia que existia um jogador chamado Paulo Bento, em Portugal, mas treinador não», começa por dizer o vereador. Actualiza-se o percurso do antigo internacional luso e o vereador de Paulo Bento sorri com a coincidência. «É mesmo, treinador de uma grande equipa de Portugal? É curioso, isso, sem dúvida. Temos de ficar atentos ao trabalho dele. Claro, vamos todos torcer por ele», promete, de fugida. Não há tempo para distracções.

Paulo Bento governa-se com o gado

A história de Paulo Bento, deste Paulo Bento de Rio Grande do Sul, conta-se em poucas linhas. Importava perceber o óbvio, antes de mais: porquê uma terra chamada Paulo, Paulo Bento? Em 1870, os irmãos Paulo e Manuel Bento de Souza tomaram posse daquelas terras. Está explicado.

A agropecuária dita leis em Paulo Bento e os últimos números apontavam para cerca de 27 mil cabeças de gado. Recorde-se, para 2090 pessoas. Com uma área de 148 quilómetros quadrados, o município homónimo do treinador do Sporting apresenta um modesto PIB per capita: qualquer coisa como 4, 5 euros.

É gente de trabalho, deu para perceber, sem tempo para grandes distracções, mas ficou a promessa. A partir de agora, Paulo Bento de Portugal terá seguidores atentos e fiéis em Terras de Vera Cruz: os Paulobentenses. Sempre são mais 2090 adeptos para o derby que aí vem.

Um Paulo Bento para todos? «Não é fácil», diz o próprio

Paulo Bento, o treinador do Sporting, não tem ligações ao Rio Grande do Sul. Aliás, passa a ter, pois o antigo internacional português não estava a par da coincidência. Do outro lado do Atlântico, na zona do Alto Uruguai, há uma localidade chamada Paulo Bento, repleta de Paulobentenses.

«Sinceramente, desconhecia a existência de uma terra chamada Paulo Bento. Agora que sei, vou estar atento e sou capaz de fazer algumas perguntas para saber mais informações», admitiu o técnico, quando confrontado pelo Maisfutebol. Terá pensado que seria brincadeira, mas não é. Existem mesmo 2090 Paulobentenses no Brasil.

O lema do município, conforme foi referido, é simples: «Um Paulo Bento para todos». Ao ouvir esta frase, do outro lado da linha, o próprio Paulo Bento teve dificuldade em suster o riso e reconheceu a dificuldade de agradar a gregos e troianos. «Não é fácil... Mas se pudermos ser bons para todos, tanto melhor. Tudo o que possamos fazer para o bem dos outros é, sem dúvida, positivo», defendeu.

Rochemback e Polga partilham as origens

Paulo Bento está a preparar o derby com o Benfica e caso esteja, ainda, intrigado com a história da localidade homónima, basta dirigir-se ao balneário do Sporting e questionar dois jogadores em particular.

Percorrendo a história desportiva do Rio Grande do Sul, à procura de referências para aproximar as partes, surgem dois jogadores do clube leonino. Anderson Polga e Fábio Rochemback nasceram algures entre a capital do Estado, Porto Alegre, e o tal município denominado Paulo Bento.

Anderson Polga nasceu em Santiago, mais perto da fronteira com o Uruguai, enquanto Fábio Rochemback veio ao Mundo em Soledade, a meio caminho entre Paulo Bento e Porto Alegre. Será que já passaram por lá?

Empresário de jogadores conhece o Arsenal de Paulo Bento

Jorge Baidek, antigo defesa-central e actual empresário de futebol, ganhou o prémio de máximo representante desportivo da zona do Alto Uruguai, no Brasil. Após vários contactos para Paulo Bento, a tal localidade homónima do treinador do Sporting, surgiu finalmente um nome conhecido. «Futebol? Só conheço o Baidek», referiu um vereador.

De facto, Baidek nasceu e cresceu em Barão de Cotegipe, outra pequena localidade da microrregião de Erechim. Quando começa a relatar a sua história ao Maisfutebol, vem dar razão a McLuhan e ao seu conceito de Aldeia Global: «Paulo Bento? Conheço sim, aliás, a minha esposa é de Paulo Bento, foi lá que a conheci.»

«É estranho e tem muita piada, mas nunca me tinha lembrado de comentar isso com o treinador do Sporting. Tenho muitos laços lá, sim, e costumo passar as minhas férias em Paulo Bento. Um dos meus cunhados, Pedro Lorenzi, é o prefeito de Paulo Bento há oito anos», refere o agente.

O Arsenal de Paulo Bento

Baidek leva-nos por uma visita guiada, à distância, através da estrada que liga Barão de Cotegipe, Erechim, Paulo Bento e outras localidades do Alto Uruguai: «Aquilo é uma região de agricultura, de pecuária. É gente que vive da terra, mas de uma terra lindíssima. Conheço bem porque de Cotegipe a Paulo Bento é só percorrer a mesma estrada, fica a uns dez quilómetros.»

«Naquela terra, só existe um clube de futebol, e amador. É o Arsenal de Paulo Bento. Para você ver, o presidente do clube é outro cunhado meu, Celso Lorenzi», explica, sorrindo progressivamente com as coincidências.

Erechim e a ressaca do Grenal

Erechim é a capital da microrregião onde Paulo Bento está inserido. Fica a meia dúzia de quilómetros e motiva um constante fluxo migratório. Jorge Baidek também deixou a sua terra natal de Barão de Cotegipe para instalar-se definitivamente na «Capital da Amizade».

Bem perto de Paulo Bento, o fervor futebolístico cresce exponencialmente. Em 1970, foi inaugurado o Estádio Olímpico Colosso da Lagoa. «Na altura, tinha capacidade para 45 mil espectadores. Ou seja, toda a gente da região cabia lá dentro. Foi realizado um torneio e Pelé marcou o primeiro golo, na vitória do Santos sobre o Grémio. Foi o seu golo 1040. Aliás, actualmente, para sintonizar a Rádio Difusão de Erechim, tem que colocar 1040 na frequência, por causa disso», refere Jorge Baidek.

O Estádio Colosso da Lagoa foi palco do mais recente confronto entre Grémio e Internacional de Porto Alegre, o famoso Grenal. A 8 de Fevereiro, o Inter foi mais feliz e venceu por 2-1, com golos de DAlessandro e Nilmar. Ali, do outro lado do Atlântico, mas bem perto de Paulo Bento.

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