quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Cardozo e Belluschi: memórias do jogo da vida deles

14 de Agosto de 2006, 2ª jornada do Torneio de Abertura. O Monumental veste fato de gala para aplaudir o River Plate, no regresso de Ariel Ortega. O Newell's Old Boys, que vendera o Burrito e um tal de Belluschi, reformulou o ataque com dois paraguaios desconhecidos. Um deles, Oscar Cardozo. No final da partida, choveriam elogios para Tacuara e o Samurai.

Foi um dos melhores jogos do torneio. A memória daquele 3-3, de um Newell's renascido das cinzas após a debandada das estrelas, de um River Plate com um Ortega a milhas do seu real valor, perdura até aos dias de hoje.

Cardozo chegara à Argentina sem rótulo. Neri Pumpido, o treinador que já foi guarda-redes de topo, recorda ao Maisfutebol: «O Cardozo não era conhecido, eu mesmo só tinha visto algumas jogadas em vídeo, nem sequer jogos inteiros. Mas esse talvez o seu melhor jogo de sempre no Newell'. Surpreendeu todos com o seu remate.»

O avançado do Benfica marcara um golo na primeira jornada. Nesse dia, no poderoso Monumental, dobrou a parada e silenciou os «hinchas» do River. O segundo golo, de livre, espantou a crítica.

Fernando Belluschi, escondido na sombra de Ariel Ortega, recebeu um par de palmas antes do apito inicial. No River Plate, Sambueza, Marcelo Gallardo, Ernesto Farías. O médio do F.C. Porto, o Samurai, disputado por River e Boca Juniors no defeso, concentrava poucas atenções. Mas foi ele a salvar Los Millionarios.

Salcedo, o outro paraguaio, inaugurou o marcador. Silêncio no Monumental. Ortega, a estrela, não cintilava. Eis que surge Belluschi, da direita para o centro, passe a rasgar, queda de Farías na área. Penalty convertido por Gallardo.

O Samurai empurrava o River Plate. Ao minuto 22, uma jogada marcante. Belluschi toca para a frente, Ortega domina na área. O médio portista, em velocidade, rouba a bola ao companheiro de equipa, a estrela da companhia. Um ultraje!

El Burrito fica a ver. Simulação, um adversário pelo caminho, remate de pé esquerdo, golo! Belluschi sangra por dentro. Junta as mãos e pede desculpas aos adeptos do Newell's, o seu clube de sempre. Bonito.

«O Belluschi foi vendido semanas antes de chegar o Cardozo ao Newell's. Marcou um golo e sempre achei que é um rapaz com muita dinâmica», elogia Pumpido.

O Monumental respirava de alívio, mas faltava o Tacuara. Em dois minutos, Cardozo apresentou-se à Argentina. Foi o primeiro bis no país das Pampas. A confirmação de um talento desconhecido. Um golo de cabeça, ao minuto 44, um aperitivo antes do prato principal. Logo depois, uma bomba de livre, surpreendendo German Lux. 2-3 para o Newell's.

Aquela patada tornava-se marca registada.

Logo após o intervalo, em livre cobrado por Belluschi, Tuzzio marca na primeira vez em que toca na bola. 3-3, 46 minutos de um «partidazo», assim mesmo, em argentino. Sim, em espanhol, claro.

Termina o River Plate-Newell's, o jogo do ano, sem golos de Farías ou da estrela Ortega. O Burrito continua a ser acarinhado, cercado por um batalhão da imprensa. Para Cardozo e Belluschi, os homens do dia, um único jornalista. O avançado, jovem e acanhado, pouco diz. O médio fala da traição ao Newell's, o seu Newell's, o clube que viu nascer Leo Messi. Sabe que será perdoado.

Veja o vídeo de um jogo marcante nas carreiras de Oscar Cardozo e Fernando Belluschi. No Estádio da Luz, sentirão emoções novas, suarão a camisola. Mas nunca esquecerão o Monumental, aquele 14 de Agosto de 2006. São oito minutos deliciosos, Millionários contra Leprosos. Vale bem a pena.

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