sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Rogério de Sá: «Queiroz joga em casa na África do Sul»

Rogério de Sá é um embaixador desportivo luso na África do Sul. Filho de um antigo guarda-redes do Sporting (Octávio de Sá), o treinador do Bidvest Wilts trabalhou com Carlos Queiroz na sua passagem pelos «Bafana Bafana» e garante que o seleccionador de Portugal conhece todos os recantos do país que vai acolher o Mundial de 2010.

«Temos aqui milhares de portugueses na África do Sul e todos nós estávamos a torcer pelo apuramento. Este país é louco por futebol, mesmo os sul-africanos estavam a torcer por Portugal, para verem os jogadores portugueses e Carlos Queiroz. Queiroz é muito respeitado aqui, porque deu sempre tudo no comando da selecção sul-africana», começa por dizer, em entrevista ao Maisfutebol.

Carlos Queiroz está na África do Sul para acompanhar o sorteio da fase de grupos do Mundial e escolher o local do estágio: «Jantei com ele na sexta-feira, sei que a decisão quanto ao local de estágio ainda não está tomada. Queiroz foi ver locais com representantes da FIFA. Nós temos muitos lugares com qualidade, mas a principal questão é a altitude.»

«A África do Sul tem muita disparidade em termos de clima. Penso que a altitude e o clima serão determinantes para a escolha do local e, por isso, a decisão só será tomada depois do sorteio. Já trabalhei com Queiroz, conheço o país muito bem e foi por isso que ele me chamou quando veio para a selecção da África do Sul. Mas ele conhece muita gente que o pode ajudar. A comunidade portuguesa está preparada para contribuir. Pode dizer-se que Queiroz joga em casa na África do Sul», frisa Rogério de Sá.

«Vai ser um grande Mundial»

Rogério de Sá nasceu em Maputo, ex-Lourenço Marques, Moçambique. Em 1974, fugiu com a família para a África do Sul. O pai Octávio de Sá, guarda-redes do Sporting entre 1956 e 1960, ganhou um campeonato em Alvalade mas não gostava de viver em Portugal. Por isso, optou por rumar a outras paragens.

Fernando Mendes recordou um episódio caricato da passagem de Octávio de Sá pelo Sporting: «Houve um jogo em que fomos à Luz e eliminamos o Benfica da Taça de Portugal. Entretanto quando abandonávamos o Estádio no nosso autocarro paramos num semáforo onde fomos apedrejados. Eu, o Carvalho e o Octávio de Sá saímos logo do autocarro perseguindo os autores desse ataque cobarde.»

Octávio de Sá faleceu em 1991 mas passou a sua herança para o filho Rogério. O actual treinador do Bidvest Wits fez igualmente carreira como guarda-redes, chegando a representar a selecção da África do Sul, na década de 90. Na época 2002/03, foi distinguido como o melhor treinador do campeonato sul-africano.

«Tenho orgulho deste país e sei que vai ser vai ser um grande Campeonato do Mundo. O país já está pronto para esse grande espectáculo. Os estádios estão prontos, faltam apenas melhorar os acessos, as auto-estradas», explica Rogério de Sá.

«Já ultrapassámos a fase do racismo»

O treinador com raízes luzes, um caucasiano respeitado num país com relatos de discriminação racial, subjugado aos resquícios de um Apartheid sangrento, descreve uma nação virada para o futuro: «Acho que foram casos isolados, aqueles ataques dos últimos anos a comerciantes portugueses, que deram para escrever e fazer notícias.

Acontece em todo o Mundo, inclusive em países que não tiveram a palavra Apartheid. Já ultrapassámos essa fase de racismo. Este há-de ser sempre um grande país.»

«O que me choca é a contínua existência de disparidades, entre ricos e pobres. Estava a conduzir numa zona pobre, com casas de palha, quando soube pela rádio quanto Carlos Alberto Parreira ia receber para treinar a África do Sul. É uma exorbitância e não resolve o problema. O que falta a esta selecção é um projecto consolidado», remata o treinador do Bidvest Wits, que tem Erik Tinkler, antigo internacional sul-africano e jogador do V. Setúbal, como adjunto.

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