sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

20 anos após a queda do Muro, a história do herói desertor

A história do futebol da Alemanha Oriental está intimamente ligada a um nome: Jurgen Sparwasser. Foi ele que marcou o golo da única vitória sobre a Alemanha Ocidental. O que se tornou um feito capitalizado pelo regime comunista de leste. Até ao dia em que também ele fugiu, como cerca de cinco mil alemães orientais.

Mas por partes. Primeiro o golo. Aconteceu em Hamburgo, no Mundial organizado pela Alemanha Ocidental. O pontapé vitorioso aos 77m permitiu à Alemanha de Leste ganhar o grupo à frente da Alemanha Ocidental. O que deixou às portas do céu o orgulho do bloco de leste. Até o defunto Estaline exultou na campa.

Sparwasser foi então convertido num menino-propaganda do regime. Uma distinção que o jogador nunca quis. Por isso fugiu. Aproveitou um jogo de veteranos e desertou. Estabeleceu-se em Frankfurt, onde trabalhou como adjunto do Eitracht. Foi na capital financeira da Alemanha que soube da queda do Muro de Berlim.

O golo que foi apenas mais um golo

Ora no dia em que se completam vinte anos sobre a queda do Muro de Berlim, que por essa altura estava mais firme do que um Trabant, o Maisfutebol falou com Sparwasser. Com o auxílio da assessoria de imprensa de Hugo Almeida, ouvimos o herói dizer que «não foi o golo mais importante» da carreira dele.

Sparwasser não quer ser lembrando como uma arma da Guerra Fria. «Na época existia uma grande rivalidade e eu fiquei obviamente feliz com o golo. Mas foi um jogo como outro do Mundial. Disseram que eu fiquei rico, mas não é verdade. O golo só me deu fama e a fama deu-me oportunidades».

A deserção para a Alemanha Ocidental

As oportunidades surgiam porém condicionadas pelo regime e pela Stasi. O que Sparwasser nunca aceitou. Por isso em 1988, já depois de encerrar a carreira de jogador e um ano antes da queda do muro de Berlim, fugiu para a Alemanha Ocidental. Aproveitou uma viagem a Frankfurt e ficou lá.

«Dava aulas na universidade e fui indicado para treinador do Magdeburgo. Mas só queria dar aulas. Era um momento político diferente e não podia dizer-se que não. Para não acabar com as perspectivas de carreira fui obrigado a sair. Não poderia ficar e continuar na universidade, o regime não me dava essa escolha.»

Um caso que não foi único entre heróis

Curiosamente Sparwasser não foi o único desertor do regime. Lutz Eigendorf, defesa da selecção e do Dínamo de Berlim (o clube da Stasi) também fugiu. Aproveitou um jogo com o Kaiserlautern e nunca mais regressou ao lado oriental do Muro. Eigendorf teve porém um fim bem mais trágico.

A deserção aconteceu em 1979, numa altura em que o fim da divisão ainda estava longe. Pouco depois de fugir, Eigendorf morreu na sequência de um acidente de automóvel. Na altura disse-se que o jogador estava bêbado. Após a queda do Muro, descobriu-se que o acidente tinha sido provocado pela Stasi.

Vinte anos depois da queda do Muro, Sparwasser diz que são episódios da história. «A Alemanha Oriental foi integrada na Alemanha Ocidental e as diferenças foram sendo absorvidas.» Só quer saber de futebol. «Aquele jogo foi muito marcante e é um motivo de celebração independente de qualquer questão política.»

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