terça-feira, 2 de março de 2010

Coelho: do Porto ao Inter, do Benfica à bancada do Paços

Ponto prévio: José Manuel Barbosa Alves, Coelho no mundo do futebol, fala com uma desenvoltura mental imprópria para um miúdo de 20 anos acabadinhos de fazer. É craque nas palavras, talento enclausurado com a bola nos pés.

Passou por F.C. Porto, Inter de Milão e Benfica. Agora é reserva do Paços de Ferreira.

«Quando se acaba de fazer uma casa, percebe-se que podia ter sido feita de outra forma melhor. Há coisas de que me arrependo na minha carreira, até ao momento, mas acredito que tenho um bom futuro pela frente», atira, em entrevista ao Maisfutebol.

Nos relvados, ele dribla, simula, avança em curva-contra-curva por entre adversários. No discurso não. Pensa, reflecte e solta ideias próprias, moldadas num passado recente com demasiados altos para o actual baixo.

Foi emprestado pelo Benfica no início da época, fez cinco jogos como suplente utilizado em Paços de Ferreira e eclipsou-se.

A formação pacense visita o Estádio da Luz mas José Coelho não sonha. Já o fez demasiado. Com Ulisses Morais, deixou de ser opção. A partida de Paulo Sérgio para Guimarães coincidiu com o seu ocaso na Mata Real. «Sabia que ia ser complicado, até porque fui o único jogador nascido em 90 e emprestado pelo Benfica a uma equipa da Liga.»

Três colossos na rotunda de Paços

José Coelho surgiu no P. Ferreira, segundo avançado com 175 centímetros. Em 2001, rumou ao F.C. Porto, onde explodiu.

«Fui muito feliz no Porto, foi o melhor período que tive enquanto jogador, na minha carreira. Há pouco tempo, fui jogar lá para a Liga Intercalar e fui muito bem recebido. Quem sabe bem a história, sabe que a culpa de sair do Porto não foi só minha», lembra.

Em 2006, o jovem internacional português recebeu um convite do Inter de Milão. Fez o que quase todos fariam. Aceitou. O F.C. Porto contestou a transferência e venceu a causa. Coelho pagou uma factura pesada. Ficou um ano sem jogar.

«Penso que o Inter pagou. A Federação italiana assumiu a culpa, interpretou mal uma carta da FIFA, mas fui eu o principal prejudicado», desabafa.

Nos juvenis do Inter de Milão, partilhou quarto e ataque com Mario Balotelli. Regressaria a Portugal para jogar no Benfica. Passou pelos juniores e retornou à casa de partida neste defeso. O seu Paços de Ferreira abriu as portas, para uma época de promessas por cumprir.

«No início do ano, disse que esta época seria o fim do meu purgatório. Infelizmente, isso não está a acontecer. Resta-me esperar e trabalhar, porque depois da tempestade, vem a bonança. Em Janeiro houve possibilidade de sair de P. Ferreira, mas as pessoas disseram-me que a segunda volta ia ser diferente. Não tem sido, tenho de respeitar», resume Coelho.

O indomável Balotelli e Pablo Aimar, o maior de todos

Coelho recupera memórias com classe. Enumera talentos, compara estilos, relata histórias como jornalista ou escritor. É jogador de futebol. Passou por F.C. Porto, Inter de Milão e Benfica. Agora, tenta encontrar o seu espaço no Paços de Ferreira.

Folheando o livro de memórias, tantas para um jovem de apenas 20 anos, encontram-se referências vincadas a Mario Balotelli e Pablo Aimar. Duas gerações, dois talentos incomparáveis. Em entrevista ao Maisfutebol, José Alves «Coelho» garante que nunca viu nada parecido com aqueles dois.

«Joguei com o Balotelli nos juvenis do Inter de Milão. Era o meu colega de quarto e, sim, sempre teve um feitio muito complicado. Mas atenção: é bom rapaz. Diz as coisas, tem o coração quase fora da boca, mas depois reflecte e vem pedir desculpas», começa por relatar.

Balotelli, o homem que mantém uma relação de amor-ódio com José Mourinho, já sabia que iria chegar ao topo. Marcava golos atrás de golos, saltava etapas na formação. Quando era criticado, respondia tão depressa como responde por estes dias: «Andávamos na mesma escola e, sempre que lhe diziam alguma coisa, ele respondia sempre o mesmo: Daqui a uns anos, vais ver, ainda te vais arrepender de dizer isso.»

O avançado chegou ao topo. Coelho continua à procura de um espaço. Os dois amigos mantém o contacto e o jogador português revela que Balotelli sempre quis trabalhar com Mourinho.

«Falei com ele no início da época e disse-me que adorava trabalhar com Mourinho, os treinos sempre com bola. Em Itália não costuma ser assim, é muito físico. Sempre vi que Balotelli ia longe. Joguei contra a Espanha do Bojan, o Brasil dos irmãos Silva (Man. United) e do Lulinha (Estoril) e ninguém tinha tanto talento como o Balotelli», garante.

«Aimar é o melhor jogador com quem tive contacto»

Agora, o Benfica, próximo adversário do P. Ferreira na Liga. Coelho não deve ser utilizado no Estádio da Luz, palco que já pisou em jogos da equipa júnior e em treinos esporádicos no plantel principal. Lá, encontrou Pablo Aimar, «o maior de todos».

«Nos treinos, surpreendia-me sempre a qualidade do Aimar, para além do Di María. O Aimar é mesmo espantoso. No Inter, os jogadores do plantel principal vinham treinar connosco quando estavam a recuperar de lesões, mas mesmo entre esses nunca vi ninguém a jogar melhor que Aimar. É o melhor jogador com quem tive contacto», garante.

Coelho salienta ainda um trio de benfiquistas, enquanto deseja boa sorte aos encarnados para a recta final do campeonato.

«Em termos de integração, tenho de destacar o David Luiz, o Ruben Amorim, o Nuno Gomes. Sempre preocupados em integrar os jovens, em fazer-nos sentir bem. Espero voltar no futuro, mas sou realista, sei que muito dificilmente integrarei o plantel principal na próxima época», remata o avançado

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