sexta-feira, 14 de maio de 2010

Jesualdo e Chaves, uma história de amor com final marcada para o Jamor

Um dia, «há não muitos anos», Jesualdo Ferreira foi viver as festas à Mirandela natal. Como fazia regularmente, aliás. No dia seguinte acordou cedo e queria tomar café. Problema: os cafés tinham servido até tarde e fecharam de manhã. O técnico não se intimidou e disse que ia procurar um sítio aberto. Demorou horas.

Veja as fotos da época

Quando voltou, a pergunta obrigatória: onde foste?, questionou a prima Marília Pires. «Fui parar a Chaves», respondeu Jesualdo. Para os menos cientes de geografia, convém dizer que Chaves e Mirandela não ficam propriamente ao lado uma da outra: são 60 quilómetros de distância, por estradas antigas e muitas curvas.

«Ele tem um carinho enorme por Chaves. Gosta de Mirandela, claro, porque é a terra onde nasceu, mas tenho a certeza que gosta mais de Chaves. Foi lá que se fez homem. Viveu em Chaves dos 15 aos 20 anos, sempre sozinho, num quarto alugado, tornou-se independente, adulto e responsável», conta a prima.

A protecção da família do General Costa Gomes

A história já é de resto conhecida. Jesualdo regressou de Angola, foi viver com uns tios para Valpaços, que o enviaram para estudar em Chaves. «Foi lá que completou o antigo sétimo ano. Pelo meio ainda se mudou um ano para Aveiro, quando os pais regressaram de Angola, mas não se adaptou e voltou a Chaves», diz Marília.

O amor de Jesualdo por Chaves tornou-se evidente. O agora treinador do F.C. Porto vivia num quarto alugado na Casa do Seixas, na Rua do Sol, no centro da cidade, junto a outros estudantes. Ao fim-de-semana, quando conseguia boleia, voltava para junto da família: ora em Valpaços, ora em Mirandela.

Em Chaves vivia sob responsabilidade prestigiada: familiares do General Costa Gomes. «A minha tia era de boas famílias em Valpaços e conhecia muita gente.» Por isso entregou Jesualdo à família do general que viria ser o segundo Presidente da República pós-25 de Abril. Eram eles que zelavam pela educação.

O Desportivo e a paixão pelo futebol

Em Chaves, longe dos tios e da aversão que eles tinham pelo futebol, Jesualdo pôde desenvolver o maior prazer que tinha: a bola. O Sr. Albano conhece Jesualdo desde essa altura, ele que foi jogador e massagista do Desp. Chaves (está no clube há 52 anos), recordando «um jovem que era fanático por futebol.»

«Na altura era só mais um como muitos que vinha de Valpaços ou de Mirandela estudar aqui. Lembro-me que era bom rapaz e adorava futebol.» Por isso começou a jogar no Desp. Chaves. Foi lá que Albano o conheceu, quando Jesualdo representava os juniores. «Tinha algum jeito. Eu gostava de o ver jogar.»

Jesualdo sempre admitiu, porém, que não era um prodígio. Mas era apaixonado. «Ele ia para o Desportivo, terminava os treinos e ia ter com os amigos do liceu para jogar num descampado ao lado do Forte de S. Francisco. Muitas vezes tinham de fugir à polícia, eram outros tempos e não podia jogar-se em qualquer lado.»

O Nelo e os amigos para a vida

Em Chaves Jesualdo fez amigos para toda a vida. Amigos que o tratam como tratavam na altura: por Manel ou por Nelo. Na cidade transmontana quem o conheceu fala de um homem bom, a quem a fama não subiu à cabeça. «Mesmo depois de ir para Lisboa, vinha para cima nas férias e passava sempre por Chaves.»

Albano mantém o contacto com Jesualdo há quase 50 anos. «Mesmo anos mais tarde, quando trabalhava na Federação e no Benfica, eu ia a Lisboa com as selecções distritais sub-14 e ele fazia questão de ir ter comigo a Sintra.. Levava-me camisolas, jantavamos e metíamos a conversa em dia.»

«Chaves é especial para ele. Foi lá que se fez uma pessoa fantástica, trabalhadora e prezada em tudo. Quando voltou andava sempre tão arranjadinho que até parecia saído de uma caixa», conta a prima. Por isso domingo é especial. Jesualdo já defrontou o Chaves pelo Benfica e pelo Porto. Mas nunca no Jamor.

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